O governo francês entrou em colapso depois de o primeiro-ministro François Bayrou ter perdido um voto de confiança na Assembleia Nacional. Os deputados apoiaram de forma esmagadora a moção para destituir Bayrou, com 364 votos a favor e 194 contra – uma maioria de 170%.
A expectativa é que Bayrou entregue a sua demissão na terça-feira. Após a votação, Macron afirmou que nomearia o sétimo primeiro-ministro do seu mandato “nos próximos dias”. O novo primeiro-ministro terá de apresentar um novo orçamento e ganhar a confiança do Parlamento que está fortemente dividido.
Apesar das preocupações com as contas públicas francesas, o mercado descontou este cenário. Embora a tendência da França tenha sido aumentar o seu prémio de risco em relação à Alemanha, devido ao aumento da yield (juros) da sua dívida, o retorno do título a dez anos caiu cerca de quatro pontos base nesta segunda-feira, para 3,41%. O retorno do título a 20 anos corrigiu na mesma medida, para 4,05%, e o rendimento da dívida a 30 anos recuou três pontos base, para 4,34%.
O CAC 40 fechou a sessão, antes da moção de confiança, a subir 0,78% para 7.734,8 pontos. Isto numa altura em que era perfeitamente previsível a queda do governo francês.
Não foi só Paris que fechou no verde, os principais índices de ações europeus encerraram em alta, no dia em que o Governo francês se submete a uma moção de confiança.
O PSI fechou a subir +0,65% para os 7.754,11 pontos com as ações da Mota-Engil a dispararem +9,41% para os 5,580 euros.
A construtora portuguesa venceu o concurso para a construção, operação e manutenção do túnel imerso no Brasil, que vai ligar Santos a Guarajá, em São Paulo, num contrato de concessão de 30 anos e que terá um custo de 1,1 mil milhões de euros. Bateu a concorrência da espanhola Acciona. Em segundo lugar nas subidas em Bolsa, mas a grande distância, estão os CTT que subiram 2,68% para 7,29 euros. A Corticeira Amorim valorizou +1,62% para 7,53 euros; a Ibersol avançou +1,45% para 9,78 euros; o BCP valorizou +1,29% para 0,7200 euros; e a EDP Renováveis também fechou a subir +1,20% para os 10,12 euros.
Em queda apenas a Sonae (que cai -0,77% para 1,2880 euros) e a NOS recuou -0,26% para 3,895 euros.
Voltando ao tema do dia, os analistas da XTB defendem que “o mercado já precificou” antes o facto de o governo de François Bayrou ter perdido o voto de confiança. “Mas os maiores riscos vêm do que pode acontecer nas próximas semanas ou meses”, alerta a corretora.
“A questão vital, a questão de vida ou morte, onde a nossa própria sobrevivência está em jogo… é a questão de controlar a despesa, é a questão do super-endividamento”, disse, considerando que desde 2000 que o país produz menos do que os outros. “A nossa diferença de produção com os nossos vizinhos mais próximos, Alemanha e Bélgica, medida pelo PIB per capita, é de 15%, e com a Holanda, é de mais de 30%“, disse o chefe do Governo francês no seu discurso no Parlamento.
Também é certo que não ajuda nada ao equilíbrio das contas públicas a posição bélica de Emmanuel Macron no que diz respeito a custear a defesa da Ucrânia.
O país gaulês já teve três primeiros-ministros em cerca de um ano, uma vez que não conseguem aprovar os orçamentos, num contexto em que o défice é o mais elevado da zona euro.
O último surto de instabilidade começou há semanas quando Bayrou convocou a votação de confiança. Essa instabilidade, diz a XTB, “afetou particularmente as ações das empresas dependentes da economia nacional As empresas de construção e infraestruturas, como a Vinci e a Eiffage, caíram quase 10%, enquanto o promotor imobiliário residencial Nexity desceu quase 20%”.
“As ações do setor bancário também sofreram, dada a sua exposição à dívida pública, com o Crédit Agricole e o BNP Paribas a caírem cerca de 7% cada um; refere a corretora.
“O HSBC, com mais 7% de queda, a Accor Hotels, com 7,5%, e a companhia de seguros AXA, com 6,7%, estão também entre os piores desempenhos do índice. O melhor desempenho neste período é o da Kering, com uma subida de 6,50%. Empresas mais defensivas como a Schneider Electric e a Danone também se destacam”, acrescenta a XTB.
Tal como em França, a instabilidade política provocada pelo voto de confiança afetou a generalidade dos bancos. Desde 25 de agosto, as ações do Bankinter caíram 5%, enquanto as do BBVA perderam 4,16%. Da mesma forma, a Unicaja perdeu 3,85% e o Sabadell 3%.
“A instabilidade política em França pode afetar o desempenho do euro de duas formas”, defendem os analistas da corretora XTB. “Por um lado, o Banco Central Europeu (BCE), poderá ter de vir em socorro dos nossos vizinhos. Por outro lado, o clima de instabilidade e a ascensão dos partidos eurocéticos podem pesar sobre o valor da moeda comum, beneficiando bancos como o Grifols, o Santander, o Amadeus, o Fluidra e o BBVA”, acrescenta a XTB, na sua análise.
O que é certo é quanto mais tempo durar a incerteza que assola o país, maior será o peso da dívida e maior será o impacto na confiança do setor privado, o que só dificultará a redução da dívida francesa, num momento-chave em que as agências de notação publicarão as suas opiniões sobre a dívida do país.
A XTB defende que “a confiança no setor da indústria transformadora entrou em território positivo e prevê-se um crescimento do PIB de 0,7% este ano, superior à estagnação registada na Alemanha.
No entanto, alerta a corretora, “as preocupações fiscais também estão a assolar o Reino Unido após o Brexit, onde os rendimentos das obrigações do Estado a 30 anos estão no seu nível mais elevado em 27 anos. Uma população envelhecida, políticos agressivos e défices elevados são comuns, pelo que França continua a ser um mercado atrativo”.
A incerteza não dá tréguas e o preço do ouro, considerado um ativo de refúgio em tempos de incerteza, registou hoje um máximo histórico de 3.646 dólares por onça.
Em Wall Street as ações norte-americanas subiram nesta segunda-feira, com os investidores de olho nos dados da inflação ainda esta semana para dar uma ideia da realidade sobre as hipóteses de um corte drástico nas taxas de juro em setembro.
Wall Street já está de olho nos principais relatórios de inflação ainda esta semana: o índice de preços no produtor (IPP) na quarta-feira e o índice de preços no consumidor (IPC) na quinta-feira. Juntos, os dados oferecerão uma nova visão sobre a força da economia após o fraco relatório de emprego de agosto da semana passada e outros dados fracos do mercado de trabalho, à medida que as questões sobre a recessão começam a surgir.
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