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EDP respira de alívio nos EUA com recuo dos republicanos de Trump nas renováveis

Ao fim de vários meses de incerteza, a EDPR obtém agora mais claridade para os próximos anos no seu principal mercado, que vale 55% das suas receitas. Afinal, os cortes dos republicanos do Congresso, previstos para os apoios às renováveis, não vão ser tão agressivos como esperado. Wall Street vê “ventos favoráveis” para a EDP de Miguel Stilwell nos EUA com créditos fiscais a prolongarem-se por 7 anos.
1º EDP: A empresa liderada por Miguel Stilwell mantém a liderança das marcas valiosas, com um valor de mercado de 2,4 mil milhões de euros, apesar de ter desvalorizado 4%.
14 Maio 2025, 07h00

Os incentivos às energias renováveis já existiam, mas Joe Biden estendeu o seu prazo. Donald Trump já tinha criticado os apoios, lançando um aviso à navegação.

Mas, afinal, os republicanos do Congresso apresentaram uma proposta menos agressiva face ao esperado para cortar nos apoios às energias renováveis, o que favoreceu a EDP Renováveis (EDPR) que subiu mais de 7% na bolsa de Lisboa na terça-feira.

Os EUA tiveram uma ideia em 1994 para fomentar as energias renováveis no país: descontar nos impostos parte do investimento feito. Estes créditos fiscais vigoram desde então e foram alargados várias vezes. A mais recente tinha sido com  Joe Biden que atirou o seu fim para 2035.

De regresso ao domínio do Congresso, a par de Donald Trump 2.0, os republicanos prometeram alterações ao plano de fomento industrial IRA, aprovado por Joe Biden para reanimar a economia após a pandemia da Covid-19.

Mas foram menos agressivos do que o previsto pelo mercado nas suas alterações a certas partes do plano de fomento industrial IRA: os créditos fiscais vão recuar para 80% em 2029, 60% em 2030, 40% em 2031 para depois atingir zero a partir de 2032, isto é, os créditos fiscais vão manter-se ativos durante, pelo menos, mais sete anos.

“A proposta é uma vitória para os produtores solares nos EUA. O medo era que o investimento e os créditos fiscais terminassem mais cedo”, disse Rob Barnett analista da “Bloomberg Intelligence”.

Os números revelam a importância dos EUA nas contas da elétrica portuguesa: a América do Norte pesou 55% no EBITDA da EDPR em 2024, mais de 850 milhões de euros, o seu maior mercado.

“Quando comparado com as expetativas dos consensos, isto parece um resultado muito mais positivo”, comentou o Goldman Sachs, destacando que o mercado “tornou-se muito negativo às renováveis expostas aos EUA”.

A proposta pode ter duas consequências positivas: “crescimento orgânico mais elevado, com os principais promotores a desenvolverem os projetos já licenciados na solar e eólica; custo de capital mais baixo nos EUA, pois esta medida traz garantias regulatórias”, segundo os analistas do banco norte-americano.

O Goldman Sachs reiterou a sua recomendação de ‘comprar’ para a EDPR, apontando que a ação negoceia 25% abaixo da sua avaliação. “Acreditamos que os pontos positivos em relação aos créditos fiscais nos EUA, custo de capital e preços de eletricidade, providenciam ventos favoráveis ao preço da ação da EDP”.

O setor das energias renováveis tem razões para sorrir, argumenta o Goldman Sachs: as taxas de juro na Europa deverão estabilizar ou cair, dado o abrandamento económico; um recuo no custo do capital nos EUA e a subida dos preços da eletricidade, são ventos favoráveis para o setor, que continua muito “subestimado”.

Já o JP Morgan Chase considera que a atualização do IRA “foi mais positivo do que o esperado pelo mercado e isto deverá ter um impacto positivo para o preço das ações da EDP/EDPR”.

A eliminação gradual dos créditos fiscais, a par da alteração na cláusula de salvaguarda (safe harbor), “coloca mais pressão na entrega dos projetos, mas acreditamos que não vai ter impacto nos projetos solares iniciados entre 2025 e 2027. Além do mais, a EDPR assegurou fornecedores locais para os seus projetos, não vemos implicações” das mudanças previstas para a legislação sobre compras a fornecedores estrangeiros (FEOC).

O JP Morgan levanta dúvidas sobre a execução de projetos de armazenamento: “acreditamos que vai demorar mais tempo e ser mais caro para comprar equipamento que evite limitações a fornecedores estrangeiros, o que significa um recuo significante no mercado a partir do segundo semestre de 2026”.

Sobre o financiamento, os analistas apontam que o mercado deverá adaptar-se a novos requerimentos e “haverá financiamento disponível”.

“Estamos nos EUA desde 2007, somos um dos maiores atores nas energias renováveis. Trabalhámos com diferentes administrações, tanto republicanas como democratas, incluindo a primeira administração Trump. Obviamente que existe mais resistência agora em relação às renováveis, mas existe uma discussão e negociação em curso sobre o IRA e continuamos a estar confiantes que os créditos fiscais vão continuar nos próximos anos, são uma das bases do crescimento das renováveis”, disse Miguel Stilwell d’Andrade na segunda-feira.

“Existe uma forte pressão dos republicanos no Congresso e Senado para manter os créditos fiscais (…) A independência energética é importante. As renováveis são energia barata e limpa. Tivemos um forte crescimento nos últimos anos, nas últimas décadas nos EUA, e esperamos continuar a crescer. Existe uma forte procura por eletricidade por causa da inteligência artificial e os centros de dados. As renováveis são a energia mais rápida”, afirmou em entrevista à “Bloomberg”.

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