O principal objetivo de qualquer governo deveria ser, em primeiro lugar, prevenir, procurar precaver o que lá vem para que a comunidade se consiga adaptar mais facilmente e em tempo útil, aproveitando oportunidades ou evitando maiores dores. Estando numa posição elevada, devia ver mais à frente. Ainda mais quando se trata de funções do Estado, em que este domina a informação, das consequências de opções políticas ou de movimentos pesados, lentos, que levam tempo a concretizar-se.
Por isso mesmo, é inadmissível que se tenha deixado degradar a saúde até as urgências colapsarem e de se normalizar uma escala de acesso a cuidados, como se estivéssemos a tratar de farmácias de serviço. Ou que tivéssemos passado do excesso de professores, porque havia falta de alunos, para a míngua de quem dê aulas. Ou, ainda, que nos víssemos mergulhados numa imensa crise habitacional, sem termos percebido exatamente qual foi a invasão que nos vitimou.
Nada disto acontece de um dia para o outro, foram movimentos que se formaram e consolidaram até degenerarem em crise. Não acordámos um dia com falta de habitação, de professores ou de médicos. Quem estava de serviço, nestes casos o anterior governo, falhou, e vamos levar anos a resolver, por muito que se esperneie, porque é como alterar o curso de um rio.
Agora, com as tarifas de Donald Trump – prometidas desde a campanha eleitoral e que, portanto, não foram uma novidade absoluta – até houve resposta atempada, mas talvez tivesse sido assisado ter algum plano de contingência já elaborado, um olhar mais à frente para o problema em formação, em vez de nos reunirmos sucessivamente, olhando uns para os outros e perguntando: e agora?