Já na parte final de Charlie Wilson’s War, o filme de 2007 com Tom Hanks, Philip Seymour Hoffman e Julia Roberts sobre o apoio norte-americano na guerra contra a Rússia no Afeganistão, o agente da CIA Gust Avrakotos, interpretado por Hoffman, conta uma estória do mestre zen ao senador Wilson, vivido por Hanks, para enfatizar as dúvidas que tem sobre o sucesso da operação de apoio aos rebeldes afegãos.

No seu décimo sexto aniversário, um rapaz é presenteado com um cavalo e todos na aldeia consideram ser uma sorte, menos o mestre zen. “Veremos”, diz. Tempos depois, o rapaz cai do cavalo, magoa-se numa perna e fica impedido de andar, o que aldeia vê como um horror. “Veremos”, diz o mestre. Passa o tempo e a aldeia é chamada a contribuir para o esforço de guerra, com todos os jovens mobilizados, à exceção do rapaz, que não consegue andar. “Uma sorte”, dizem os aldeões. “Veremos”, diz o mestre zen.

A estória avisa para o perigo da propensão generalizada para se retirarem conclusões precipitadas, imediatas, sobre, muitas vezes, acontecimentos futuros. Esta ponderação é ainda mais importante nos tempos de incerteza em que vivemos, especialmente desde que Donald Trump regressou à Casa Branca. Os agentes de mercado perceberam e têm-se adaptado.

As reações intempestivas iniciais a cada soundbite ou mensagem nas redes sociais deram lugar a um compasso de espera, de confirmação e análise das consequências do comportamento errático de Trump, mas também dos acontecimentos efetivos, além das palavras.

Vimos no bombardeamento israelita e americano do Irão, no vai e vem das tarifas alfandegárias. Os mercados adaptaram-se à instabilidade e à mudança. “Veremos”, dizem a cada novo acontecimento. Como o mestre zen.