“O tema dos salários é a vergonha da economia portuguesa, e não há nada a fazer”. A frase é do economista Daniel Bessa e foi dita recentemente no seminário “Crescimento da Economia Portuguesa”, organizado pelo Forum para a Competitividade. Sendo que esta é uma conclusão devastadora e deprimente fica ainda pior a fotografia se acrescentarmos uma frase de Adolfo Mesquita Nunes, ex-secretário de Estado e novo administrador não executivo da Galp que, no mesmo evento, afirma que “temos indicadores de competitividade da economia que têm vindo a cair mas não percebemos onde está o problema”.

Ora, aqui reside toda a verdade. Um quarto de século depois do relatório Porter encomendado pelo ex-ministro Mira Amaral, onde se destacava a necessidade de apostar em clusters como o vinho, o calçado, os têxteis, o automóvel, os serviços e tantos outros, a conclusão é que tudo evoluiu, os clusters apontados na altura mostram-se assertivos, mas os salários em Portugal continuam incrivelmente baixos, com as entidades patronais a lamentarem pois gostariam de os subir rapidamente mas, caso o façam, ficarão fora dos preços de mercado.

Pior. As conclusões recentes de alguns estudos indicam que a viragem dos empresários e gestores para os mercados externos foi feita, em muitos setores, com o sacrifício das margens. Mais. Este é o mercado europeu onde se paga das energias mais caras, onde o custo de contexto é mais elevado, onde as taxas sobre o trabalho são mais altas e a logística é a mais dispendiosa, mas onde os salários são a tal “vergonha nacional”.

Mais uma vez Daniel Bessa dá a resposta que vale milhões de euros: “Estamos concentrados na cadeia de valor mais baixa”. E deu, com orgulho, a solução do calçado pela associação APICCAPS. O mais difícil para gestores e empresários do calçado “foi convencê-los a jogar o jogo dos melhores, ou seja, a deslocalizar o abastecimento”. O país não deve fazer o trabalho de base, esse deve ser comprado, mas deve fazer todo o trabalho final que leva o consumidor a preferir o produto nacional. Isto significa subir na cadeia de valor.

E, espantosamente continua a dizer-se que para profissões industriais não há mão de obra, ou então que não se consegue reter mão de obra qualificada ou até pouco qualificada e a resposta está, claramente, na falta de salários atrativos. E isto não se inverte se se fizer apenas os sapatos ou as peças de roupa sem se intervir nas tendências dos consumidores, ou se se vender sol e areia sem criar o destino. Um quarto de século pós-Porter o país caiu do 22º para 55º lugar em termos de competitividade global…

Mais um aparte sobre economia, competitividade e crescimento. O recente relatório do Conselho de Finanças Públicas alerta para a quebra das exportações e o impacto na economia até 2023. Nada nos irá ajudar a superar uma crise que se avizinha e que os políticos recusam interiorizar. Diz o documento que as exportações até poderão acelerar ligeiramente em 2019, mas depois irão evoluir num plano inclinado.