A pandemia veio trazer, em vários sectores, alterações profundas de modelos de distribuição, de relacionamento com todos os intervenientes na cadeia de valor, na maneira de satisfazer as necessidades dos clientes, entre tantas outras alterações.
Adicionalmente, as medidas de prevenção sanitária e o acelerar da digitalização vieram tocar quase transversalmente em todos os sectores de actividade. Muitos terão de se reinventar, o que nem sempre será fácil.
Neste esforço em que novas maneiras de trabalhar e de gerir terão de ser a realidade, importa salientar que estes processos de reconfiguração de empresas e de sectores só serão susceptíveis de serem feitos com parceiros sociais dotados de verticalidade, sentido ético e de respeito pelo papel institucional de uns e outros.
Sindicatos e representantes dos accionistas terão sempre perspectivas diferentes das empresas. Só regimes totalitários procuraram iludir a realidade, com os grémios ou com os sindicatos controlados pelo partido detentor do poder político. Mas que ninguém tenha dúvidas sobre o empenho dos sindicatos nas condições de exploração das empresas, nas suas condições de resiliência, na qualidade da gestão e no desejo que a ética seja um valor importante nas relações laborais. Aliás, por todos os exemplos, veja-se o caso da Alemanha onde a co-gestão é regra, e onde as empresas são melhor geridas, mais prósperas, mais estáveis no emprego e com maior rendibilidade.
Vem isto a propósito dos processos de reestruturação, em vários sectores de actividade, que têm vindo a ser divulgados na comunicação social. Com todo o respeito que nos merece o quarto poder, mas estes terão de envolver os sindicatos, ab initio. Não é nos jornais que os processos devem começar ou ser geridos. Conhecer o racional, os objectivos e as metas, a calendarização, e com base nessa informação poder dar contributos construtivos, é uma exigência decorrente da lei, da boa gestão e do senso comum.
Acresce que processos desta natureza exigem uma repartição equilibrada dos custos sociais, envolvendo accionistas, gestores, trabalhadores e outros stakeholders eventuais, não podendo recair em exclusivo sobre os trabalhadores, os seus direitos adquiridos (nomeadamente nos seus serviços de assistência médica e social) ou em formação (mormente sacrificando as reformas e pensões futuras).
Esta é uma ressalva e uma exigência que sempre faremos. Toda e qualquer reestruturação deve obedecer à lei e observar elevados critérios éticos, respeitando os direitos das pessoas e a sua liberdade de decisão, procurando que daí resulte uma organização mais resiliente, ágil e mais bem preparada para o futuro.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.