Acho que já é inegável: a app Pokémon GO conquistou o mundo. 100 países, 100 milhões de downloads por mês, 30 milhões de utilizadores ativos por dia a gastarem cerca de 43 minutos por dia a jogar… Em quatro meses! São números impressionantes e basta sair à rua para os confirmar – organizam-se caminhadas de caça aos Pokémons em Lisboa; hotéis ajudam os hóspedes a apanhá-los todos no Porto; a PSP já publicou um guia para bem apanhar Pokémons… Como diz Rafael Grossman, o primeiro médico a realizar uma operação com a ajuda de óculos de Realidade Aumentada, “Pokémon GO é uma experiência de gamificação fantástica e a Nintendo não fazia, decerto, ideia do que estava a criar”.

Mas como se tornou este jogo tão popular e o que tem ele a ver com o futuro da medicina?

A resposta é: Realidade Aumentada (RA) e o interesse crescente nesta área. A Pokémon GO aplica esta tecnologia de forma direta, ao permitir que cada um de nós visualize elementos digitais (neste caso, Pokémons) na Realidade física, transformando os espaços físicos em espaços com interesse digital (onde posso treinar o meu Pokémon, apanhá-lo ou apaparicá-lo).

No futuro, a RA será uma experiência realizada a partir de mais interfaces, como óculos de realidade aumentada, capacetes ou lentes de contacto digitais.

Não confundir RA com Realidade Virtual (RV) – nesta, o utilizador vê a sua realidade física completamente substituída por uma realidade de elementos virtuais, com os quais ele interage através de óculos opacos. Mas é uma forma de alienação. A capacidade da RA não perder o contacto com a realidade física e de colocar informação útil à frente dos utilizadores permite novidades extraordinárias no ramo da medicina – por exemplo:

1 . Os pacientes podem agora mostrar os seus sintomas com Realidade Aumentada

Ao ligar para a Saúde 24, podemos contar com pelo menos 5 minutos de perguntas e respostas. Algumas delas são suficientemente amplas para não termos uma resposta rápida  (“Acha que a sua pele está vermelha ou de uma cor diferente? Sente o seu olho irritado ou demasiado húmido? “). Esta auto-análise de sintomas dificilmente é rigorosa, até porque alguns de nós exageram ou minimizam alguns aspetos da sua saúde porque, bom, há pessoas assim.

Apps como o próprio Skype, associado a óculos RA como o Microsoft Hololens (www.hololens.com), permitem que um enfermeiro consiga remotamente visualizar tudo o que o paciente vê e orientá-lo no diagnóstico, guiando os seus gestos e ações de forma a obter toda a informação necessária, para lá da visual.

  1. Simular em RA condições de saúde potencia hábitos mais saudáveis…

Já na oftalmologia, a EyeDecide é o tipo de app que pode concorrer para uma melhor educação dos pacientes. Essencialmente, esta app convida-nos a olhar através da câmara do dispositivo móvel e a simular algumas condições especificas que podem danificar e alterar negativamente a nossa visão – ao demonstrar o impacto de cataratas, glaucoma ou diabetes e apresentar ao paciente os seus sintomas de forma visual, é mais fácil motivar mudanças de comportamento nos pacientes para uma vida mais saudável.

  1. … Ou até resolver problemas de Saúde

Ainda na oftalmologia, aplicações como a Dalton permitem substituir, em Realidade Aumentada, as cores invisíveis a daltónicos por outras, que os aproximam do entendimento da Realidade física.

  1. A Realidade Aumentada pode dar Visão Raio-X a todos os médicos e enfermeiros… sem radiação.

Startups como a AccuVein ou Medsights Tech já criaram ferramentas de RA para enfermagem ou de bloco operatório, pois permitem aos profissionais de medicina com óculos de RA a pré-visualização, em tempo real, das veias que podemos picar ou dos órgãos de cada paciente. Desta forma, cada médico ou enfermeiro pode agir com mais precisão sobre cada decisão que tome.

Os Pokémons conquistaram o mundo e veem-se por todo o lado. A boa novidade é que, com a Realidade Aumentada e todas estas dinâmicas, podemos decidir o que ver a seguir.