Daqueles que abraçam a coisa pública, seja como governantes, autarcas ou dirigentes, bem como de todos os que se encontram expostos ao escrutínio público, espera-se que prossigam um comportamento donde não resulte especulação ou ato censurável.

À partida, quem aceita responsabilidades de exposição pública, sabe que tem de admitir juízos de valor, interpretações diferentes – motivadas por interesse, desconhecimento ou inveja. É o custo das funções que vem com o seu exercício. É a definição da expressão que à mulher de César não basta ser séria, precisa de parecê-lo.

Ao longo de décadas e múltiplos sistemas, governantes houve que caíram sob o manto da suspeição, em campanhas públicas intermináveis que vieram a provar-se sem fundamento ou resultado de indícios plantados ou simples sugestão.

As figuras públicas são humanas e, como tal, passíveis de falhar. Mas espera-se que tenham um caráter sério e honesto, e firmeza para suportar calúnia ou impropério, insulto ou inverdade. De um lado, todos buscam encontrar um caso de polícia, e de outro, há sempre alguém interessado em realizar o escrutínio público não confundível com escrutínio político. Quanto mais visível for o alvo, maior a busca de situações negativas. Só quem é relevante é motivo de especulação e apreciação negativa.

Todos os agentes públicos, quando iniciam funções, apesar de não constar de nenhum juramento, sabem ao que estão sujeitos, embora ninguém acredite que vá ser alvo de campanhas difamatórias, muito menos que atentem sobre o seu caráter. Mas esta envolvente manda que o dignatário, seja político, magistrado ou figura pública tenha a consciência dos riscos que corre de ser vilipendiado.

Recentemente, tivemos esse exemplo, quando um membro do Governo, demonstrando sobranceria e pouca complacência, reagiu despudoradamente a uma crítica feroz. Com isso não provou inocência nem ilustrou as suas decisões, mas tornou-se o centro das atenções e das críticas negativas em resultado da sua reação e não da sua ação.

O que deve orientar o exercício de funções – o que seria o mínimo exigível – é que se fundamentem adequada e atempadamente as decisões e que, perante um confronto, não incendeiem as situações em que se vejam envolvidos, por vezes indevidamente, ou por falta de cautela na justificação. É que uma reação mais acesa apenas contribui para amplificar a campanha, passando a estar no centro da atenção não a acusação inicial, que nem se conhece bem, mas antes a reação excessiva.

Tal acontece quando vivemos em democracia. Onde o escrutínio, a liberdade de opinião é expressa e absoluta até ao limite da falsidade, não se confundindo porém com livre arbítrio. O desafio do duelo ou da bengalada perdeu-se no tempo, mas não se ganhou o momento da baixeza e da deselegância. Reagir com indiferença ou ignorar e o tempo dará razão, exceto nos casos em que nem o tempo lhes pode perdoar. Em democracia, a arrogância mata e o autoritarismo enterra – a quem pratica e a quem tolera.