Neste princípio de 2022, quando a valorização bolsista da Apple ultrapassou temporariamente os três milhões de milhões de dólares (a 3 de janeiro), duas grandes questões surgem: se a inflação está de facto de regresso ou é apenas temporária; e se as taxas de juro vão subir e se a subida é igual nos EUA e na Europa.

Começando pela primeira e pelos EUA, é hoje razoavelmente seguro que a subida não é temporária. O aumento dos preços tem sido consistente; a taxa de inflação terá aumentado de 6,8% em novembro para 7% no ano, a mais alta em 40 anos.

Há, claro, pressões de curto prazo, evidentes no aumento dos preços no produtor, que andam nos 10%; também os preços na habitação sobem 20% e o número de transações – seis milhões – é o mais alto desde 2006. Mas os salários estão a aumentar a taxas recorde (pico histórico de 15,31% em abril do ano passado, 6% anualizado nos últimos seis meses) e a taxa de desemprego caiu de 4,2% para 3,9%, abaixo de 4%, que se admite ser a taxa natural.

Os fortes planos de estímulos lançados por Biden criam condições para os efeitos dinâmicos não se atenuarem no médio prazo. Os fatores de pressão estão lá e daí que a Reserva Federal (Fed) venha alterando a sua política, que é cada vez mais dirigida contra a inflação – como disse John Wayne no “Stagecoach” (título português Cavalgada Heróica), “a man’s got to do what a man’s got to do”.

Se a Reserva Federal (Fed) já admitiu fazer em 2022 três subidas de 0,25 pontos dos juros, a ata da reunião de dezembro do Open Market Committee e alguns comentários mostram divisões entre os seus membros, e a possibilidade de afinal serem quatro e da Fed reduzir a carteira de nove milhões de milhões de dólares de ativos detidos para “secar” liquidez – estima a ISI Research que o M2 terá aumentado 41% em dois anos.

Outro sinal é as Treasuries a dez e a cinco anos terem tido vendas massivas neste início de ano, o que levou a sua taxa de rendimento ao nível mais alto desde fevereiro de 2020. Ou seja, a subida é também necessária para evitar que a Fed tenha que absorver cada vez mais dívida do Estado e se torne no seu financiador de last resort, precisamente o que se quis evitar com a independência dos bancos centrais.

Na Europa a situação não é muito diferente, mas também não é igual. A inflação andará nos 5 %, embora em boa parte devido à subida de 26% dos preços da energia, sobretudo por os stocks estarem a níveis baixos (já o enviado americano Hochstein havia feito o aviso no verão, quando a segurança do abastecimento não era uma prioridade); agora, é a dependência do gás russo. E também no mercado de capitais europeu o movimento se faz sentir – os títulos alemães já subiram 26 pontos base.

Mas há mais espaço que nos EUA: a pressão sobre a inflação é menor e mesmo uma pequena desvalorização do euro não é um mal em si. O problema é a situação ser assimétrica na União, o que pode criar tensões e levar a adiar medidas. Mas uma coisa é certa: no fim, a inflação vai ganhar.