Nós por cá – e refiro-me a Angola – temos o hábito de escurecer os vidros das viaturas. Fazemo-lo por questões de segurança, pois acreditamos que ao “fumar” os vidros é mais difícil saber quem conduz… E recomenda-se que as senhoras, especialmente as que têm modelos de alta cilindrada e valor, o façam.

Há películas para todos os gostos e até já vi veículos dignos de um caixão de Drácula, ou seja, à prova de luz! A polícia tentou regulamentar, mas desde que se levantaram suspeições ao processo, dizendo que as empresas eram detidas por altos responsáveis da corporação, a dita regulação ficou em águas de bacalhau.

Os “vidros fumados”, que supostamente protegem, também escondem e evitam olhares indiscretos. Quem está dentro consegue ver e aqueles por quem passa o carro apenas imaginam quem será o seu condutor.

Devo dizer-vos, a bem da verdade, que não são só os proprietários de veículos de alta cilindrada e valor que escurecem os vidros. Contudo, depreenderão que, ao fazê-lo, o dono quer assumir um determinado estatuto social, tem algo a preservar, porém, será que este é um factor dissuasor para não se ser assaltado?

Estradas iluminadas e acessíveis, policiamento de proximidade e regulamentação do trânsito não seriam medidas mais eficazes? Sempre que se fazem obras ou alterações aos sentidos das vias, temos automobilistas a escolherem caminhos alternativos que nem sempre são os mais seguros e que podem perigar a sua segurança.

Por inúmeras vezes me questionei sobre quem beneficiará com esta prática, pois existem os locais formais e os informais, sendo que a cada esquina, e em pontos estratégicos, encontramos jovens que fazem o serviço por menos tempo e dinheiro.

Talvez esteja apenas a ser picuinhas por não ter apetências vampíricas e ter detestado conduzir um carro de vidros fumados… Como tantos outros temas, este é mais um a que damos pouca importância, mas que diz muito sobre o que somos enquanto sociedade. Como referi acima, se criássemos condições para a circulação automóvel e houvesse um maior rigor e controlo na fiscalização, não precisaríamos de escurecer os vidros…

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.