Não há como evitar recordar os 10 anos da crise financeira. A 19 de setembro de 2008, Henry Paulson, então secretário do tesouro americano, lança o programa de compra de activos tóxicos, no valor de 700 mil milhões de dólares. Esta tentativa de salvar o sistema financeiro revelou-se insuficiente, uma vez que ainda tinha de ser aprovada pelo congresso americano. Se algo escasseava era o tempo para discussões.  Entre as duas semanas que mediaram a discussão e a aprovação deste programa, o sistema financeiro, os depositantes e os investidores entraram em pânico. Foi o suficiente para assistirmos ao colapso do mercado acionista e a intervenções na banca um pouco por todo o mundo. Três países europeus, o Luxemburgo, a Bélgica e a Holanda, juntaram forças para salvarem o Fortis, a Alemanha resgatou o Hypo Real Estate e a Irlanda teve de emitir uma garantia superior ao seu PIB para proteger os depósitos dos seus bancos.

O resultado imediato da crise foi a concentração bancária que, embora agrade a reguladores, acaba por prejudicar o consumidor que terá de pagar mais pelo serviço financeiro. Também cria um risco de falência de grandes instituições, para o qual não existe nenhum mecanismo a não ser uma intervenção directa dos bancos centrais.

O sistema financeiro está, porém, mais seguro. Assistimos a inúmeras alterações regulatórias que visam mitigar conflitos de interesses, nomeadamente evitar que os accionistas obtenham créditos “indevidos”, possam vender obrigações ou acções das suas empresas aos fundos dos bancos, alinharam-se os interesses na distribuição de bónus, ao dar mais ênfase na performance de longo prazo dos bancos, entre outros.

Muitos analistas tentam agora adivinhar a próxima crise e perceber o que aprendemos.

A principal diferença é que os bancos centrais estão mais interventivos, atentos e reactivos. A política fiscal expansionista nos Estados Unidos, suportará a economia mundial nos próximos anos, enquanto o motor chinês abranda e o europeu não acelera.

Por outro lado, a recompra de acções próprias por parte das empresas americanas, que este ano superará pela primeira vez o um bilião de dólares, continua a ser um factor de valorização dos mercados.

Apesar das redes atrás referidas, temos inúmeras incertezas pela frente, entre elas, o “Brexit”, a fragilidade da banca europeia, o elevado nível de crédito malparado na Itália, a incapacidade de promover a concentração dos bancos regionais franceses, alemães e italianos, o fim dos estímulos do BCE, o endividamento excessivo das economias, a instabilidade nos mercados emergentes ou o crescente nacionalismo.

A próxima crise advirá da concentração dos investidores na gestão passiva, vulgos ETF e da automatização do mercado. Aparentemente um ETF tem um menor risco, tendo por isso captado biliões de dólares ao mesmo tempo que afastou os investidores mais activos do mercado, aqueles que arriscam o seu dinheiro e poderiam amortizar uma queda violenta do mercado. À falta destes investidores, podemos ter certeza que não será possível prever o próximo crash, porque quando ele ocorreu, já será passado. Temos apenas uma garantia, a de que temos de ser vigilantes e cautelosos nos investimentos.