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Vindimas 2020: No Alentejo, produção em alta, qualidade superior em perspetiva

Hoje, é a vez dos testemunhos dos produtores vitivinícolas do Alentejo, uma das regiões com maiores perspetivas de crescimento de produção face a 2019. Amanhã, será dada voz aos produtores da Península de Setúbal.
21 Outubro 2020, 08h00

As vindimas deste ano foram atípicas, devido à intensificação das alterações climáticas, com chuvas e calores a despropósito, e consequente ataque de pragas, a que se somou a pandemia de Covid-19. Mas as expectativas apontam para uma produção de superior qualidade, mesmo que haja quebras de produção em algumas regiões.

Leia o balanço de dezenas de produtores de norte a sul do país, incluindo os Açores e a Madeira, e de sete presidentes de Comissões Vitivinícolas Regionais. E espreite o que se está a passar em Champagne, com a Moët et Chandon.

Para os mais apaixonados pelo tema, interessados nas questões de cariz técnico, o Jornal Económico disponibiliza ainda os relatórios de vindima deste ano de duas casas com séculos de tradição na produção de vinhos no Douro, em particular de vinhos do Porto, com os testemunhos pessoais de Charles Symington, diretor de produção e vice-CEO da Symington Family Estates, que comercializa as referências Graham’s, Dow’s, Warre’s, Cockburn’s, Quinta do Vesúvio, Quinta do Ataíde, Altano, P+S e Quinta da Fonte Souto; e de David Guimaraens, diretor de enologia da The Fladgate Partnership, que comercializa as marcas Taylor’s, Fonseca e Croft, entre outras.

Em conjunto, estas duas casas já representam mais de 500 anos de produção de vinhos de mesa e do Porto no Douro (a Fladgate já celebrou o 430º aniversário, enquanto a Symington tem mais de 130 anos de história) e os relatórios da vindima de 2020 demonstram que as alterações climáticas são cada vez mais uma realidade incontornável no setor vitivinícola nacional.

Hoje, é a vez dos testemunhos dos produtores vitivinícolas do Alentejo, uma das regiões com maiores perspetivas de crescimento de produção face a 2019. Saiba qual o balanço da campanha segundo os testemunhos dos responsáveis de casas emblemáticas da região como a Herdade do Mouchão, Herdade do Esporão, Monte da Ravasqueira, Quinta da Plansel, Sociedade Agrícola de Pias, António Maçanita, Casa Relvas, Torre de Palma, Quinta do Paral, Ervideira, Herdade de Aldeia de Cima, o novo projeto pessoal da empresária Luísa Amorim no setor dos vinhos.

Amanhã, será dada voz aos produtores da Península de Setúbal, desde António Maria Soares Franco, administrador da José Maria da Fonseca, até Leonor Freitas, sócia-gerente da Casa Ermelinda Freitas, passando por Ângelo Machado, presidente do conselho de administração da Adega Cooperativa de Palmela; e por Carlos Trindade, administrador da Herdade da Barrosinha.

Na Herdade do Mouchão, Alto Alentejo, distrito de Portalegre, concelho de Sousel, a vindima deste ano começou a 14 de agosto. Começou-se pelos brancos, nas castas Arinto e Verdelho, mas também nos tintos, com a Trincadeira, “que este ano estava mais fresca, mais airosa”, como nos confidenciou Hamilton Reis, enólogo da casa alentejana. Desde há cerca de três meses à frente dos destinos enológicos da Herdade do Mouchão, liderada por Iain Reynolds Richardson, após mais de dez anos onde deixou o seu testemunho impressivo nas Cortes de Cima, na Vidigueira, Hamilton Reis disse-nos em meados de setembro que “este ano vamos ter um pouco mais de quantidade de uva” em relação à vindima de 2019, em consonância com as perspetivas da CVR – Comissão Vitivinícola do Alentejo, que estimam um aumento de produção de cerca de 5% face ao ano passado.

“No que respeita a qualidade, temos grandes expectativas em relação à Alicante Bouschet, uma das castas rainhas do Mouchão, apesar de se ter mostrado um pouco tímida ao início, e em relação à Trincadeira, que se apresentou muito bem desde cedo”, adianta o novo enólogo da Herdade do Mouchão. Também grandes esperanças quanto à evolução do Verdelho. Aqui, a vindima prosseguiu até ao final do mês de setembro, restando na altura colher as castas Alicante, Castelão e algumas parcelas de Aragonez, além do mais tardio Antão Vaz.

Mestre João Alabaça é outro dos homens chave nas vindimas do Mouchão. A casa nasceu em 1903, a sua família está ligada ao Mouchão desde 1907. Vai na terceira geração a prosseguir esta história peculiar porque se diz que faz parte da única família em Portugal que tem como profissão ser ‘adegueiro’. Os trabalhos da vindima da Herdade do Mouchão não têm sido afetados pela pandemia de Covid-19, conforme nos assegura Mestre João Alabaça. “Temos uma equipa de cerca de 30 pessoas, entre a vinha, adega e serviços administrativos”, diz, explicando que, “na vinha, são cerca de 17 pessoas nesta altura do ano”. “Temos uma equipa muito familiar, todos da Casa Branca”, uma localidade do concelho de Sousel, colada ao Mouchão, garante o mestre adegueiro do Mouchão. Não se recorreu a recrutamento externo, para se evitar o risco de contágio.

Cerca de uma semana depois, em São Miguel de Machede, concelho do Redondo, o cenário já era consideravelmente diferente. Alexandre Relvas, administrador da Casa Relvas, recebe-nos em sua casa, na Herdade de São Miguel, onde este projeto vitivinícola se iniciou em 1995 com o seu pai, com o mesmo nome, e não esconde o nervosismo criado pelas useiras partidas de São Pedro neste final de verão, com a ameaça de chuva, que retira grau e pode provocar podridão das uvas antes de chegarem à adega. Mas tudo parece ter acabado em bem.

“Estamos perante uma vindima especial este ano devido à pandemia. Em termos de qualidade, estamos muito contentes com a qualidade dos brancos e rosés. Também nos tintos, até à chuva, no final da semana passada, estávamos perante uma qualidade de padrão médio-alto”, assegurava-nos Alexandre Relvas a 21 de setembro. O administrador da Casa Relvas resumiu o balanço da vindima 2020: “É um ano de excelência, mas não é um ícone, faltou um bocadinho de elegância”. Ou seja, “faltam, se calhar, alguns tipos de grau, mas a qualidade é toda média-alta”, como o Alentejo já nos tem habituado.

No concelho de Arraiolos, Pedro Pereira Gonçalves, administrador executivo do Monte da Ravasqueira, pertencente ao Grupo José de Mello, destaca ao Jornal Económico que apesar de “navegando numa maré de incerteza e pessimismo, à medida que a vindima se foi aproximando, a confiança foi surgindo”. “Sabendo que com o tempo tudo passa e acreditando que apenas as memórias destes estranhos tempos ficarão, procuramos que essas memórias fiquem marcadas por vinhos que transmitam apenas boas emoções. A vindima deste ano, na Ravasqueira, foi feita por heróis de máscara, cujos olhos sorriam, transparecendo a enorme qualidade das uvas”, observa o responsável.

Para Pedro Pereira Gonçalves, 2020 foi “um ano de muito boa concentração, muita frescura proporcionada por uvas equilibradas, fruto das baixas produções, provavelmente um ano de grandes Tourigas e Alvarinhos”. “Um ano que exigiu novas e diferentes abordagens às fermentações de cada casta, de forma a permitir a máxima expressão de elegância nos vinhos. Os vinhos da Ravasqueira, principalmente em 2020, continuarão a cumprir o nosso principal objetivo: produtos de elevada qualidade, geradores de boas emoções, que fiquem na memória de quem os prova e que façam cada vez mais parte dos momentos mais importantes, vividos em família, ou com os amigos”, diz o administrador do Monte da Ravasqueira.

Em Montemor-o-Novo, a Quinta da Plansel é o maior empregador do concelho, dedicado a uma enologia assente no estudo das castas endémicas. Dorina Lindemann, enóloga e administradora da casa, disse-nos que a vindima da Quinta da Plansel começou pelas castas brancas, mais precisamente o Gouveio. A empresa previa atingir o pico de trabalhos na vinha com o começo da colheita das castas tintas, mais expressivas nos vinhos deste produtor, uma vez que 70% das vinhas da propriedade da Plansel estão destinadas à Touriga Nacional e à Tinta Barroca.

“Sobre a quantidade de produção, esperamos superar em mais de 10% os 500 mil quilos de uvas de 2019, estando alinhados com a tendência geral da região do Alentejo que também espera aumento de quantidade. Em termos de expectativas de qualidade, 2019 já foi um vinho particularmente bom para os tintos, mas 2020 promete o mesmo nível, ou talvez ainda melhor”, revelou Dorina Lindemann. Esta responsável explica ainda que nas semanas da vindima, os trabalhos são repartidos entre a adega, a cargo dela própria; de Carlos Ramos, outro enólogo da quinta; e do adegueiro Adenilson da Silva; e a vinha, onde 60% da vindima é feita à mão, pela equipa tradicionalmente dedicada aos Viveiros Plansel, enquanto os restantes 40% são feitos automaticamente pela Vindimor Plansel, segmento do grupo dedicado à maquinaria de viticultura, ou vindima mecânica.

Já na Sociedade Agrícola de Pias (SAP), Renato Neves, responsável pela enologia e viticultura, avança que “a nossa vindima começou em julho, dia 17 com alguma uva da casta Chardonnay, cada vez mais precoce no Alentejo, e já não parou, continuámos com Verdelho e Arinto”. “As castas tintas começaram a ser vindimadas no dia 13 de agosto, Aragonês, e podemos considerar que entrámos em velocidade cruzeiro no passado dia 20, dia em que vindimámos também algum Alfrocheiro e alguma Trincadeira para rosé. Não prevemos abrandamentos, pensamos que a vindima vai ser rápida, a maioria das castas já tem a maturação terminada, à exceção do Sousão, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet, e contamos que nas próximas três semanas esteja tudo vindimado”, previa este responsável.

Para o enólogo da SAP, “as maturações nas castas brancas foram boas e, apesar da acidez um pouco abaixo dos padrões das castas, há bom potencial de frescura em junho; a aromática em todas elas; já nas tintas não consideramos para já que seja um ano excecional de forma geral, em termos qualitativos”.

“Há alguns talhões que apresentam maturações com enorme potencial para vinhos de guarda, mas a grande maioria apresenta um potencial médio, já que as maturações não foram completas. Registamos também nas tintas acidez abaixo dos padrões das castas e um potencial alcoólico também abaixo da média dos últimos anos. Do ponto de vista quantitativo, é um ano de produções ligeiramente acima da média, sendo os talhões de castas brancas os mais generosos no que a variação anual diz respeito”, esclarece.

O enólogo da SAP acrescentou que, “no que toca à meteorologia, o ano foi normal até final de junho, com um acumulado de precipitação de 490mm [milímetros], bem distribuídos ao longo dos meses, que consideramos bom”.

“Durante os meses de junho e julho, registámos 21 dias com temperaturas máximas superiores a 38ºC, o que pode de certa forma explicar a acidez baixa nas uvas e as maturações incompletas que originam potenciais alcoólicos baixos. Todos os anos são diferentes e o desafio é esse mesmo, há que tirar o maior proveito possível da uva de qualidade, e minimizar alguns aspetos menos bons da uva com menor potencial”, defende Renato Neves.

Por fim, segundo deste enólogo da SAP, “para conseguir vindimar os 1.400.000 quilos de uva que prevemos produzir em 2020, mais 8% que em 2019, contamos com uma vindimadora própria e com 22 pessoas divididas em duas equipas para vindimar à mão”.

Por seu turno, Duarte de Deus, enólogo da Torre de Palma, em Monforte, ainda no Alto Alentejo, reconhece que “o ano vitícola exigiu grande cuidado na vinha”.

“O início da Primavera foi bastante húmido, registando níveis de precipitação acumulados na nossa vinha superiores a 740mm, o que já não acontecia desde 2018, sendo favorável para a hidratação da planta, mas, ao mesmo, obrigou-nos a duplicar o maneio do solo de forma a controlar/cortar as infestantes. Na vinha, registámos uma temperatura média do ar de 27ºC em conjunto com 3800 horas de sol, o que foi fundamental para que as maturações evoluíssem de forma muito homogénea e equilibrada”, explica o enólogo.

De acordo com Duarte de Deus, “este ano temos um ligeiro aumento de produção (3%) fruto da boa hidratação da planta e de uma floração iniciada já com tempo seco, não sendo propício ao desavinho”.

“Neste momento, podemos afirmar que a qualidade dos novos vinhos brancos – castas Arinto, Alvarinho e Antão Vaz – está fantástica, com grande expressão aromática e nos tintos (castas Touriga Nacional, Aragonez, Tinta Miúda e Alicante Bouschet), os mostos ainda em final de fermentação já revelam uma cor muito forte com bastante concentração na boca”, adianta.

Este responsável assume ainda que, “face a medidas de segurança em tempo de vindimas, a Torre de Palma elaborou um plano exaustivo e muito completo com medidas de prevenção, controlo e vigilância no âmbito da Covid-19, o que nos permitiu realizar todos os trabalhos inerentes à vindima sem qualquer contratempo”, dando como exemplo, o uso e substituição da máscara de quatro em quatro horas.

“Estamos muito otimistas no desempenho de duas castas que irão ser fundamentais para o enriquecimento da gama de vinhos de Torre de Palma: a Alicante Bouschet e a Tinta Miúda! Desde 2017 que a sua consistência na vinha tem sido notável para os vinhos que iremos lançar em breve com uma edição limitada deste ‘blend’ magnífico. Mais uma vez, esta vindima vem realçar o equilíbrio que estas castas conseguem obter. Nos brancos, o Arinto e o Alvarinho são ‘amigos para a vida’ e estamos a trabalhar estes vinhos para que possam ser cada vez mais uma referência dos vinhos brancos do Alto Alentejo”, assegura Duarte de Deus.

O enólogo da Torre de Palma adianta que, “em relação ao novo vinho rosé 2020, o objetivo passa por apresentar ao consumidor este vinho no final do inverno para que se comece a mudar o estigma do vinho rosé associado apenas ao verão”. “Ou seja, queremos que o cliente comece a apreciar vinho rosé em qualquer altura do ano”, confessa.

Duarte de Deus assinala que “a vinha de Torre de Palma é um pouco diferente das vinhas tradicionais do Alentejo, porque está cercada por um muro de 1,5 metros de altura que a protege dos ventos quentes e secos do verão”.

“Os princípios de viticultura vão ao encontro do Plano de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo e da Produção Integrada, no qual nos comprometemos a respeitar a biodiversidade (fauna e flora) da região. Na adega, a pisa e fermentação de toda a uva tinta em pequenos lagares de mármore é fundamental para produção de vinhos nobres e elegantes. Uma verdadeira boutique de vinhos!”, conclui o enólogo da Torre de Palma

Por sua vez, Luís Leão, enólogo da Quinta do Paral, um projeto na Vidigueira em fase de renovação, defende que “2020 ficará para sempre marcado em todos nós como um ano diferente, também na vinha houve alguns contratempos, mas que tiveram um final feliz”.

“Terminámos no passado dia 16 de setembro a vindima de 2020, e sendo ainda prematuro, prevemos uma colheita muito auspiciosa, esperamos vinhos extraordinariamente equilibrados, frutados e com grande capacidade de envelhecimento”, augura.

Luís Leão destaca que “o outono e inverno na Vidigueira foram amenos, não houve situações climatéricas adversas que prejudicassem o repouso vegetativo da videira levando a um despertar promissor das vinhas”.

“Com a subida da temperatura e já com as folhas visíveis na vinha, começam a surgir os primeiros cachos que floriram sem dificuldade no início da primavera, prevendo já uma boa colheita. O ciclo vegetativo das videiras este ano adiantou cerca de duas semanas em relação a um ciclo um normal o que levou a antecipar a vindima, no nosso caso contrariamente ao ocorrido no passado, começou dia 3 de agosto”, explic ao enólogo da Quinta do Paral.

Optimista, Luís Leão garante que “as maturações das uvas na Quinta do Paral ocorreram sem problemas, tendo resultado em uvas de excelente qualidade”.

Considerado um dos mais irreverentes enólogos lusos da atualidade, António Maçanita tem explorações vitivinícolas em várias regiões. No Alentejo, com a empresa Fita Preta, “após o período de confinamento, e após fazermos engarrafamento, focámo-nos muito na vinha com a equipa de enoturismo e de adega”, disse ao Jornal Económico. “Aproveitámos este momento para continuar um trabalho que já tem vindo a ser feito, que é converter a vinha para regime biológico – sendo que já tínhamos 12 hectares nesse formato – e decidimos arrancar a conversão do restante território”, anuncia António Maçanita.

Segundo o enólogo, “este ano, a primavera foi muito chuvosa, o que se traduz em muitas doenças e muitas ervas, e exige uma gestão complexa, mas acabámos por conseguir combater esses desafios”.

“O final da primavera, início do verão, trouxe temperaturas muito altas, que aceleraram o processo de maturação da uva. Isto significa que ficámos com vinhas muito compactas, de baixa produção, mas de muito boa qualidade”, anuncia António Maçanita, desvendando que “os vinhos brancos estão muito bons, os tintos ainda estão a fermentar, mas de ótima base”.

Para o enólogo, o impacto da Covid-19 “teve principal influência na equipa de vindima”, porque “é comum todos os anos, na época de vindima, recebermos estagiários de todo o mundo: EUA, Argentina, Uruguai, Brasil, França” e “este ano trabalhámos apenas com equipa internas”, devido à pandemia.

Na Herdade do Esporão, Sandra Alves, diretora de enologia, considera que, “no Alentejo, durante o ano agrícola de 2020, assistimos praticamente a todos os eventos meteorológicos possíveis – formação de geada, em abril; granizo em junho; e escaldão, devido a temperaturas altas, no mês de julho”.

“O Inverno e a Primavera foram amenos, com precipitação dentro dos valores médios dos últimos 20 anos – 520 mm. Estas condições meteorológicas potenciaram infeções, levando a quebras de rendimento em castas mais sensíveis. Apesar destas limitações, esperamos um ano com produções ao nível de 2019, com qualidade superior”, prevê a enóloga da Herdade do Esporão.

Outro produtor de vinhos de nomeada do Alentejo é a Ervideira, na zona de Reguengos de Monsaraz. “O ano vitícola de 2020 foi dos anos mais difíceis”, reconhece Duarte Leal da Costa, diretor da casa, adiantando que “começou o ciclo vegetativo no inicio de março, quando toda a gente estava a fechar-se em casa com medo do vírus que estaria a chegar, o que gerou uma situação de instabilidade nos trabalhadores”.

“abril e maio, foram meses chuvosos que trouxeram dificuldades de proteção das plantas contra fungos como o míldio e o oídio. Já o mês de julho, foi todo quente, batendo o recorde de somatório de temperaturas, tendo se declarado o mês de julho mais quente da História, o que causou muito ‘stress’ hídrico, e com isso as plantas a pararem de fazer fotossíntese, causando principalmente perca de peso por desidratação das uvas”, justifica o enólogo da Erviedeira.

Nas palavras de Duarte Leal da Costa, “este somatório de factores deu origem a uma vindima mais pequena que o esperado, no entanto uma produção de qualidade, (confesso que 2018 e 2019 foram ainda melhores), mas este ano pode no final considerar-se um ano bom”, ou seja, “longe de ser mau, mas não tão excelente quanto 2018 e 2019”.

Em último lugar nesta viagem pelos produtores de vinho do Alentejo, mas não menos importante, espaço para o novo projeto pessoal de Luísa Amorim no setor dos vinhos, na Vidigueira. António Cavalheiro, enólogo da Herdade de Aldeia de Cima, destaca que “o ano vitícola 2019-2020 revelou-se um ano bastante atípico, não só pelas questões sociais económicas geradas pela pandemia de Covid-19, assim como, pelas dificuldades provenientes de um clima cada vez mais incerto”.

“O inverno de pluviosidade alta (para a realidade do baixo Alentejo) associado a temperaturas médias elevadas, potenciou o crescimento vegetativo e antecipou a floração. Contudo, a Primavera viria a revelar-se seca e quente. As amplitudes térmicas dia-noite foram quase inexistentes e a fase do Pintor surgiu 15 dias antes em relação ao ano anterior, antevendo, portanto, uma vindima mais precoce”, relata este responsável.

Segundo António Cavalheiro, “esta previsão verificou-se com proeminência nas castas brancas e com o mês de julho com temperaturas médias a cima de 30ºC, aquilo que poderia parecer uma vindima em contrarrelógio, mostrou-se numa fase inconstante potenciando dificuldades na marcação de vindima de algumas castas”.

“A isto soma-se, em alguns casos, a degradação dos ácidos naturais presentes nas uvas em busca do grau álcool perfeito para colheita, ou em outros casos, a sobrematuração atingida muito rapidamente. Com início a 19 de agosto e término a 18 de setembro, a vindima decorreu apesar de tudo, de uma forma calma, segundo todas as orientações da DGS cumprindo escrupulosamente desde da vinha a adega, todos os processos de segurança sanitária obrigando-nos a um esforço mais que redobrado, tendo em conta o número máximo de pessoas que poderiam estar em cada espaço”, resume o enólogo da Herdade de Aldeia de Cima.

Para António Cavalheiro, “no que à quantidade Vs qualidade diz respeito, estamos em crer que os mostos resultantes nos irão trazer grandes vinhos”, com grande probabilidade de serem “profundos, densos e de elevada concentração com as quantidades requeridas em plano de produção”.

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