Já se imaginaram a beber um belo copo de leite frio produzido pela Coca-Cola? Recentemente, tive a honra de participar na inauguração do mais recente investimento da Coca-Cola em Guayaquil, a capital económica do Equador e região de grande tradição empreendedora. Trata-se da mais moderna fábrica de processamento de leite da América Latina, 85.000m2 de área construída, por onde passarão por ano 150 milhões de litros de leite, produzindo leites pasteurizados, queijos, manteigas, iogurtes e gelados. São cerca de 100 milhões de dólares de investimento financiados pelo IFC, com respeito total pelos mais exigentes padrões de sustentabilidade social e ambiental, que geram produto económico e mais receita de impostos para o Estado, reduzem a economia paralela (ainda muito significativa nos países emergentes), cria 350 novos postos de trabalho directos e formais, promove a segurança alimentar e aumenta a concorrência no mercado com a consequente descida de preços ao consumidor. Mais ainda, este investimento suporta a montante uma importante cadeia de pequenos produtores locais de leite que beneficiam de contratos de comércio justo, garantindo preços, quantidades e conhecimento técnico.

O Equador, que em tempos esteve à beira de enveredar por uma deriva populista nacionalizante semelhante à da Venezuela, inverteu caminho e tem sabido desenvolver uma política económica que equilibra investimento público, ao mesmo tempo que atrai investimento privado produtivo e sustentável. A Coca-Cola e todo um conjunto de entidades à sua volta acreditaram e investiram no futuro do Equador e do seu povo.

Mas esta história tem outro lado completamente diferente, mas igualmente fascinante.  Sabia que a Coca-Cola, essa mítica e centenária empresa produtora de bebidas conhecidas por sodas, já redefiniu a sua estratégia para as próximas décadas? Em inglês aparece como “total beverage company“, que traduzido literalmente quer dizer vamos produzir todo o tipo de bebidas inventadas e por inventar. Trata-se de uma verdadeira mudança estratégica com enorme impacto futuro. A Coca-Cola é uma empresa multinacional à escala planetária com enorme sucesso, uma das marcas com maior valor junto dos consumidores, mas também está cotada nas bolsas e sabe que o seu valor futuro depende da sustentabilidade e crescimento das vendas. Ora bem, a Coca-Cola está atenta ao futuro e observa o universo de consumidores em mudança, acompanha as tendências emergentes que se desenvolvem nas novas gerações, que cada vez mais privilegiam  produtos, alimentos e bebidas saudáveis, orgânicas, naturais. Provavelmente, as tradicionais sodas açucaradas, ou as ditas light, tenderão a ser cada vez menos atractivas. A Coca-Cola, suportada por uma sólida visão de futuro, já percebeu que a sua sustentabilidade a longo prazo implica uma mudança estratégica significativa, daí a sua reinvenção como companhia de bebidas total.

Reparem que este tipo de mudança não resulta dos Estados introduzirem taxas, impostos (lembram-se da peregrina ideia de taxar as bebidas açucaradas?) ou pior ainda proibições, mas sim da mudança de mentalidades, onde aí sim o Estado tem um relevante papel a desempenhar. Pois bem, neste caso bastou a poderosa força dos consumidores mudar no sentido de buscarem produtos mais saudáveis. A grande lição? Como dizia o evolucionista inglês Charles Darwin: “… os que sobrevivem não são os mais fortes, nem os mais inteligentes, mas aqueles que melhor se adaptam às mudanças”. Em breve, a Mimosa, a Parmalat e as Danone deste mundo terão de se reinventar para competir com este novo player no mercado e os primeiros beneficiados desta saudável concorrência serão sempre os consumidores.

PS: O título deste artigo é uma homenagem póstuma a um amigo e investidor incansavelmente visionário, o Sr. Américo Amorim.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.