Os viticultores do Alentejo registam uma quebra média de 30% da produção de uva, em alguns casos até de 40%, na época de vindimas deste ano, face a 2024, revelou hoje a associação técnica do setor.
“Aquilo que conseguimos apurar, neste momento, [após] um mês e meio do início da vindima, é uma redução que apontamos que possa rondar os 30%”, indicou hoje à agência Lusa Patrícia Cotrim, da Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo (ATEVA).
A diretora técnica e executiva da associação realçou que existem mesmo “casos mais graves e mais extremos”, em que a quebra é superior.
Em comunicado enviado hoje à Lusa, a ATEVA aludiu à média dos 30% de redução da quantidade de uva colhida e precisou que, nas “situações mais graves”, a campanha atinge “quebras na ordem dos 40%”, em comparação com o ano passado.
A associação técnica, nesta nota, faz uma “primeira avaliação sobre o impacto produtivo da campanha de 2025”, através dos dados recolhidos no terreno junto dos seus associados, que possuem 17 mil dos 23 mil hectares de vinha no Alentejo.
Segundo Patrícia Cotrim, a quebra de produção é generalizada pela região, ainda que existam também “viticultores que não têm quebras ou não têm quebras expressivas”.
As vindimas deste ano até “começaram um bocadinho mais tarde do que o normal” e devem ainda prolongar-se “mais três semanas a um mês”, disse, referindo que os dados da ATEVA respeitam sobretudo às castas dos vinhos brancos, aquelas que são colhidas primeiro, mas também estão incluídas castas tintas.
A diretora técnica e executiva da ATEVA justificou que a quebra deve-se a este “ano agrícola particularmente difícil”, marcado por “bastante chuva até abril, que não permitiu ou dificultou muito a entrada nas vinhas para fazer determinados tratamentos e determinadas operações que são adequadas nessa altura”.
E, depois, surgiu “o calor extremo e muito continuado”, o que também não foi benéfico, acrescentou a responsável, precisando que o Alentejo tem sempre períodos de calor, mas, este ano, “foram bastante mais continuados do que o normal”.
Houve, por isso, menos frutificação: “Temos uva que não pesa, como se costuma dizer, [ou seja] temos reboques cheios que, em vez de pesarem 10 toneladas, pesam sete e isso é muito devido a esta conjugação de fatores”, frisou a diretora.
Segundo a ATEVA, “a viticultura no Alentejo, pilar fundamental da economia regional e expressão maior da identidade agrícola e cultural do território, enfrenta assim um dos anos mais desafiantes da última década”.
“A quebra na produção, associada ao baixo preço das uvas pago aos viticultores, coloca em causa não apenas a sustentabilidade económica do setor, mas também o equilíbrio social e ambiental de uma atividade que estrutura a paisagem, fixa população e projeta o Alentejo como região vitivinícola de referência nacional e internacional”, destacou a associação.
Questionada pela Lusa sobre se, perante este cenário, a medida agora aprovada pelo Governo para atribuir aos viticultores do Douro 50 cêntimos por quilo de uva entregue para destilação, é mais uma ‘pedrada’ no setor, Patrícia Cotrim concordou.
“Temos um setor em crise, com um preço da uva que continua baixo e já tivemos uma taxa de abandono da vinha muito elevada no ano passado, cerca de 800 hectares arrancados e cerca de 100 hectares abandonados”, o que tem “muito impacto no Alentejo [e] nas exportações e isso tem que nos preocupar a todos”, argumentou.
Por isso, “essa dualidade de critérios” do Governo, apoiando o Douro e deixando de fora as outras regiões, “preocupa [os viticultores] no Alentejo”, afiançou Patrícia Cotrim, afirmando esperar que “a situação seja revista”.
Já em 29 de agosto, o presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, Luís Sequeira, afirmou à Lusa que o Alentejo está “estupefacto” e “em choque” com o apoio do Governo aos viticultores do Douro de 50 cêntimos por quilo de uva entregue para destilação.
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