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Vítor Bento: “Bancos têm cumprido muito bem o papel de captar e proteger poupanças”

Questionado sobre as declarações da Comissária para os Serviços Financeiros e para a União da Poupança e dos Investimentos, dizendo que “pensamos que os depósitos bancários são seguros, mas seguro é que perdemos dinheiro com eles”, Vítor Bento diz que “não terá sido a afirmação mais feliz da Senhora Comissária”.
Cristina Bernardo
27 Setembro 2025, 15h00

Economista, último presidente do BES e o primeiro do Novobanco, Vítor Bento chegou à Associação Portuguesa de Bancos (APB) em maio de 2021, sucedendo a Fernando Faria de Oliveira, e já vai no segundo mandato à frente da APB, tendo sido reeleito para o triénio 2024-2026.

A APB lançou esta semana uma campanha de sensibilização a explicar as várias fraudes e os comportamentos a adotar pelos clientes bancários, porque as fraudes bancárias evoluem e tornam-se cada vez mais sofisticadas. Em entrevista ao Jornal Económico, Vítor Bento explica que, “com esta campanha, o setor bancário quer reforçar a importância das pessoas na prevenção da fraude e como atores essenciais da sua própria proteção”.

“Portugal é um dos países mais seguros na banca digital, mas, para que assim continue a ser, é essencial que cada utilizador se mantenha atento e vigilante, protegendo os seus dados e os acessos às suas contas”, refere Vítor Bento, defendendo que “a literacia financeira é essencial para proteger os utilizadores da fraude”.

Admite também que o serviço de confirmação do beneficiário, disponível desde maio de 2024 na plataforma do Banco de Portugal, “tem contribuído para manter em Portugal níveis reduzidos de fraude nas transferências e transferências imediatas”.

Sobre os riscos do euro digital, que pretende vir a ser a moeda digital de banco central (CBDC) da Área do Euro e constituir uma alternativa ao numerário, o presidente da APB explica que “o setor bancário acompanha de perto o projeto do euro digital e destaca a importância de que seja acompanhado por mecanismos sólidos de prevenção e deteção de fraude”.

Vítor Bento diz que “muitos dos riscos que afetam os meios de pagamento atuais também serão relevantes neste novo formato, pelo que é essencial antecipar medidas eficazes de mitigação. O objetivo é que o euro digital não traga mais riscos, mas sim uma oportunidade para reforçar a confiança, a transparência e a segurança no sistema de pagamentos europeu”.

A conversa continuou para outros temas. Questionado sobre as declarações da Comissária para os Serviços Financeiros e para a União da Poupança e dos Investimentos, dizendo que “pensamos que os depósitos bancários são seguros, mas seguro é que perdemos dinheiro com eles”, Vítor Bento diz que “não terá sido a afirmação mais feliz da Senhora Comissária”. Pois “os depósitos são seguros e expressam um contrato de confiança entre os bancos e os seus clientes, que, por essa via, dispõem de uma combinação de segurança, liquidez e rendimento sobre a qual são livres de decidir”.

Em defesa do livre arbítrio, Vítor Bento diz que “parto sempre do princípio de que as pessoas são quem melhor sabe da sua vida e quais as escolhas que melhor servem os seus interesses, não me atrevendo a fazer juízos sobre essas escolhas, sobretudo tendo em conta o leque de opções disponíveis para as suas escolhas”. Acrescenta dizendo que, na Europa, e “face a um pouco desenvolvido mercado de capitais, o sistema bancário é o principal instrumento de intermediação financeira, captando e protegendo as poupanças e financiando famílias e empresas na concretização dos seus projetos de investimento e de promoção do crescimento económico, e os bancos têm cumprido muito bem esse papel”.
Sobre a União Bancária adiada, diz que o “Fundo Europeu de Garantia de Depósitos é o terceiro pilar e continua a ser um objetivo político assumido. Mas a sua concretização tem avançado devagar por falta dos necessários compromissos políticos”.

Questionado sobre as fusões bancárias na Europa, prefere defender “que o que importa assegurar é que, a nível europeu, a concorrência se desenvolve num plano equilibrado (level playing field), onde todas as instituições concorrentes enfrentam as mesmas condições concorrenciais, e que a regulação não cria, para as instituições europeias, desvantagens competitivas no mercado internacional”.

Lembra também que os bancos, na Europa, “enfrentam já um labirinto de camadas de requisitos de capital, cada uma com lógica própria, mas cujo resultado global é uma estrutura bizantina, difícil de navegar, e que pode ameaçar a sua eficácia, especialmente em momentos de stresse”, citando o artigo do administrador executivo do Bundesbank no “Financial Times”.

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