[weglot_switcher]

Vitória reforçada da AD em noite de pesadelo socialista

Aliança Democrática (AD) conseguiu a maioria maior que pediu mas o esboço que fez com Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal, para formar uma maioria absoluta no Parlamento não passará disso. Noite trágica para o PS acaba com Pedro Nuno a sair de cena e com Chega em festa reclamando ter acabado com o bipartidarismo em Portugal.
The leader of the Democratic Alliance (AD) coalition and President of the Social Democratic Party (PSD) Luis Montenegro cheers with supporters after his victory speech on the election night of the legislative elections 2025 at coalition campaign headquarters in Lisbon, Portugal, 19 May 2025. More than 10.8 million voters living in Portugal and abroad will be asked to vote in these early parliamentary elections on 18 May and choose from among the 21 competing political forces the party they believe should form the next government and elect the 230 seats of the Assembly of the Republic for the next legislature. MIGUEL A. LOPES/LUSA
19 Maio 2025, 07h01

Ainda faltava uma hora para o país ficar a conhecer as projeções dos resultados das eleições legislativas e já os rumores faziam prever uma noite de pesadelo para o Partido Socialista (PS) e para Pedro Nuno Santos, numa noite em que a Aliança Democrática (AD) venceu e saiu reforçada, ainda que sem maioria absoluta juntamente com os liberais, e o Chega terminou com 58 deputados eleitos, os mesmos mandatos conquistados pelos socialistas. Luís Montenegro foi o último a discursar, já depois de o líder socialista ter assumido a derrota e anunciado que vai sair de cena “para não ser um estorvo” no partido.

Com 86 mandatos conquistados, mais nove do que nas eleições anteriores, a coligação que junta PSD/CDS aumentou a distância para o PS e para o Chega (ambos com 58 mandatos), mas não conseguiu chegar à maioria no Parlamento que lhe desse garantia de estabilidade. Ciente disso, Montenegro fez um discurso onde, por um lado, insistiu na ideia de que o povo escolheu de forma “inequívoca” que quer este Governo, o programa da AD e este primeiro-ministro, e por outro, apelando ao sentido de responsabilidade e de Estado das oposições.

“Às oposições caberá respeitar e cumprir a vontade popular (…) sentido de Estado, sentido de responsabilidade, respeito pelas pessoas, salvaguarda pelo interesse nacional. O povo quer este governo e não quer outro. O povo quer este primeiro-ministro e não outro (…) O povo também quer que as oposições respeitem e dialoguem com este Governo”, foi repetindo.

Sobre o que esperar do próximo Governo por si liderado, Montenegro disse que a AD “vai continuar a valorizar os trabalhadores da administração pública, porque uma administração pública mais qualificada será mais eficiente” vai servir “mais as pessoas e a economia e ser um fator de competitividade”.

O líder da AD prosseguiu dizendo que vai “continuar a salvar o Estado Social – da Saúde, à Educação, da Habitação à Mobilidade”. “Vamos continuar a levar a cabo mais regulação na imigração”, apontou, recendo palmas dos apoiantes. “Mais reforço da segurança, mais combate à criminalidade grave e à corrupção, o reforço das estruturas de segurança e forças armadas”, completou.

Neste discurso de vitória, no hotel Sana, em que surgiu com a mãe de um lado e a mulher do outro, Luís Montenegro continuou dizendo que o seu Governo vai continuar a “estimular a cultura do mérito: premiar quem atinge mais e melhores resultados, quem trabalha mais tem de ter a justa retribuição pelo seu desempenho”.

Na reta final do discurso, citou o Papa Francisco dizendo: “Vamos ser, como fomos, o Governo para todos, todos, todos”. Daqui em diante, deixaremos todo o nosso esforço, até à última gota do nosso suor, no desempenho na tarefa mais nobre que alguém pode ter: liderar o governo de um país (…) transportar a vontade de um povo tão valente e transformá-lo em mais bem-estar”, concluiu.

Questionado depois pelos jornalistas sobre as condições de estabilidade, tendo em conta que  o peso da AD e IL não foi suficiente para formar uma maioria no Parlamento, Montenegro disse: “Tudo faremos para assegurar essa estabilidade, não me parece que haja outra solução de governo que não aquela que emana da vontade, livre, convicta do povo português.” E reforçou o papel que, neste cenário, cabe às oposições.

“Dentro do cumprimento dos compromissos que assumi na AD, tenho a certeza absoluta que vai acabar por imperar o sentido de responsabilidade” para levar a cabo a execução do programa de Governo para quatro anos. “Deixem-nos governar, deixem-nos trabalhar”, acrescentou mais adiante.

Hecatombe leva à saída de Pedro Nuno

Quem está de saída, e quanto mais rapidamente (segundo o próprio), melhor, é Pedro Nuno Santos. O líder socialista assumiu a derrota e foi discursando com a voz trémula, acabando por revelar o que se foi afigurando como inevitável durante a noite eleitoral. Com 23,4% dos votos e 58 deputados, o PS registou o seu terceiro pior resultado de sempre, a seguir aos 20,8% e 57 deputados em 1985 e aos 22,2% e 60 deputados de 1987, numa altura em que o parlamento contava com 250 mandatos.

“Assumo as minhas responsabilidades como sempre fiz no passado (…) Vou pedir a marcação de eleições internas, às quais não serei candidato”, revelou o secretário-geral socialista no discurso de derrota, no qual surgiu visivelmente emocionado, e acabou a citar Mário Soares: “Só perde quem desiste de lutar.” Assegurando também que “não desistirá de lutar”. “Até breve”, disse.

Antes, garantiu que a campanha foi alegre e que sentiu o partido unido. “Honrei a história do partido. foi o que tentei fazer. Tenho muito orgulho no partido que liderei. Quero agradecer os militantes, os dirigentes, aos autarcas, à JS, ao meu diretor nacional de campanha (…)”, afirmou, reconhecendo que “são tempos difíceis para o PS”.

“Não conseguimos ganhar, o povo falou com clareza, e nós respeitamos a decisão. Já liguei a Luís Montenegro, saiba honrar a confiança que os portugueses lhe deram. Não me cabe ser o suporte deste Governo, esse papel não deve caber ao PS”, declarou Pedro Nuno Santos, apontando as razões pelas quais o seu posicionamento é esse.

“Luís Montenegro não tem idoneidade necessária para o cargo de primeiro-ministro e as eleições não alteraram essa realidade. Lidera um governo que falhou (…) Apresentou um programa que vai contra os princípios e os valores do PS”, explicou.

Sobre o crescimento do Chega, o líder socialista constatou que se tornou “mais violenta, mais agressiva, mais mentirosa”. “A extrema-direita deve ser combatida com coragem e complacência”, defendeu.

Respondendo aos jornalistas sobre quando é que sai de cena do cargo de secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos atirou: “Deixo de ser secretário-geral quando poder, por mim era já.” Explicando depois que não quer ser “um estorvo” para a próxima liderança, por entender que o PS não deve dar suporte a um governo da AD. “O partido vai ter que tomar decisões muito importantes sobre a relação que terá de ter com o próximo Governo e a minha decisão é muito clara. E não quero ser um estorvo ao partido nas decisões que tiver de tomar”, sustentou.

Para o homem que liderou o partido durante menos de um ano e meio, o PS irá “recuperar a prazo” desta derrota, mas “tem de se afirmar como alternativa política – a alternativa à AD não pode ser o Chega”.

Pedro Nuno Santos considerou que a AD foi “premiada”, embora tenha sido a causadora da crise política, e o PS, que deu condições para o Governo governar, foi o partido “penalizado”. “Fizemos o nosso melhor (…) Não foi suficiente. Não sou a pessoa certa para estar a fazer agora o juízo”, afirmou.

A AD (PSD/CDS) venceu as eleições legislativas com 86 deputados e 32, 10% dos votos, enquanto PS e Chega empatam no número de eleitos para o Parlamento, 58, tendo os socialistas obtido 23,38% e o partido liderado por André Ventura 22,56%.

Terramoto Chega

O Chega conseguiu o melhor resultado de sempre e, se voltar a vencer nos círculos da emigração, passará a ser o maior partido da oposição. Apesar de ter traçado como objetivo vencer as eleições, André Ventura tem conseguido pôr o partido sempre a crescer desde 2019, quando conseguiu eleger um deputado à Assembleia da República.

Ventura reclamou, por isso, que “acabou oficialmente o bipartidarismo em Portugal”, omitiu o objetivo eleitoral por si traçado ao longo da campanha e anteviu que “nada ficará como dantes” na política em Portugal.

À esquerda, o Livre mostrou estar em contraciclo. Foi o único a crescer ao alcançar 4,2% e passar de quatro para seis deputados.

O Bloco de Esquerda registou uma grande derrota, perdendo o seu grupo parlamentar, que chegou a ter 19 representantes em 2015 e 2019, passando a partido de deputada única, a sua coordenadora, Mariana Mortágua, que ainda assim confirmou a sua recandidatura à liderança na convenção marcada para novembro.

A CDU, com 3,0%, passou de quatro para três deputados. A IL ganhou um deputado relativamente a 2024, passando a contar com nove deputados, e acabou por não ter uma vitória tão expressiva como se pensou que poderia acontecer ao longa das últimas semanas. O PAN falhou o objetivo de voltar a ter um grupo parlamentar mas confirmou a eleição da sua porta-voz, Inês Sousa Real.

 

 

 

 

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.