“Dividendos agravam dívida das cotadas”, assim titulava o insuspeito Jornal de Negócios, um esclarecedor artigo. “As cotadas nacionais abriram os cordões à bolsa este ano para pagar dividendos. Mas essa maior generosidade foi um dos factores que levaram a um aumento da dívida líquida dos primeiros seis meses do ano. Subiu mais de 8%, aumentando em mais de 2.000 milhões de euros para 26.300 milhões, tendo em conta as 14 empresas do PSI-20 que já prestaram as informações financeiras. (…) Distribuíram cerca de 2.200 milhões de euros, mais 20% que no ano anterior. E isso pesou na evolução da dívida.” A notícia dá depois exemplos: EDP, mais 1.000 milhões de euros; Navigator, mais 100 milhões; EDP Renováveis, mais 355 milhões; REN mais 100 milhões.

Registe-se que a informação não é propriamente uma novidade. Tal já aconteceu em anos anteriores, mesmo quando o país estava sob a ditadura da Troika e do governo PSD/CDS, com trabalhadores e pensionistas a ser roubados nos seus rendimentos. Mas é elucidativo e pedagógico, conhecidas as “preocupações” do grande capital, bem patente nas recentes e profusas entrevistas do Presidente da CIP, com os seus lacrimosos choradinhos em torno da subida do Salário Mínimo. Da sua resistência feroz a qualquer subida salarial. Sempre em nome da defesa da sacrossanta competitividade nacional para o crescimento das exportações. Ou seja, do “interesse nacional”. Nem mais um cêntimo para salários! Primeiro a competitividade, os lucros, depois os empregos, os salários! A conhecida lebre da corrida de galgos…

Pois, mas parece que as grandes empresas, contrariamente à generalidade das PME e das famílias, não estão a reduzir o seu endividamento. Estão a aumentá-lo! E não contraem mais dívidas para suportar investimento e assim melhorar/modernizar/ampliar a capacidade produtiva nacional! Investimentos para melhorar a produtividade das empresas? Com o “nosso dinheiro”? Não. Para isso há os fundos comunitários do Portugal 2020, que os governos (este e todos os anteriores) distribuem generosamente pelo grande capital nacional e estrangeiro. Sempre sobrarão umas migalhas para as PME e necessidades públicas. Mas cuidado, diz o grande capital. O Estado está sentado à mesa do orçamento e a comer demais desses fundos… que todo, é pouco para nós!

Sim, endividam-se para pagar mais dividendos, mais remuneração aos accionistas, aos donos do capital. Ou seja, pagam um volume de dividendos superior ao que arrecadam de lucros. E não querem esmolas, aumentos indexados à taxa de inflação. Não. Mais 20% nos dividendos. Por extenso: vinte por cento!

Certo e sabido. Lá virão os “sábios” com a necessidade de bem remunerar o capital para atrair o capital e os capitalistas… Para melhorar a produtividade não. Para melhorar a competitividade não é preciso. Chegarão os baixos salários dos trabalhadores portugueses! É por isso que não se pode reformar a legislação laboral, revertendo as malfeitorias do PSD/CDS, garantir a contratação colectiva e os direitos (constitucionais) dos trabalhadores.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.