O indicador de volatilidade VIX, calculado pela CBOE, é popularmente referido como o fear index dos mercados acionistas. Representa a expectativa de volatilidade dos retornos do índice S&P500 para os 30 dias (calendário) subsequentes, sendo obtida a partir do valor de mercado de um conjunto de opções de compra e de venda do S&P500.
O VIX tem apresentado uma tendência de queda ao longo do último ano. Em 8 de Maio de 2017 atingiu o valor de 9.8% e, desde então, tem permanecido em torno dos 10%. Colocando em perspetiva, a média e mínimo históricos do VIX são de 19.5% e 9.3%, respetivamente. A mensagem será então de que a ‘incerteza’ dos investidores, medida pelo VIX, está próxima dos mínimos históricos.
É esta inferência compatível com o contexto de tensão geopolítica que marcou o último ano devido, entre outros, às eleições presidenciais nos EUA e em França e à evolução de temas diversos como a Coreia do Norte e as negociações do Brexit? Diferentes fatores têm sido invocados para suportar os níveis persistentemente baixos do VIX nos últimos tempos, incluindo (i) a economia dos EUA estar saudável, com expectativas de inflação ancoradas, níveis baixos de desemprego, nível de incumprimento creditício do setor privado baixo, e as empresas apresentarem resultados ligeiramente acima das expectativas; (ii) a atuação dos bancos centrais, em particular nos EUA e Zona Euro, continuar a ser vista como acomodatícia; (iii) a expectativa para o crescimento económico global ser positiva; (iv) a correlação dos retornos das ações nos mercados acionistas nos EUA estar a níveis muito baixos. Note-se que se a volatilidade realizada de um índice é baixa, e se espera que assim permaneça especialmente devido à baixa correlação entre os retornos dos constituintes desse índice, então a expectativa de volatilidade de curto prazo deverá permanecer baixa.
Estarão os mercados a viver um nível de volatilidade ‘anormalmente’ baixa? A dinâmica histórica do VIX mostra que (i) no subperíodo entre Janeiro de 2012 (com as nuvens da crise da dívida soberana nos EUA e Europa dissipadas) e Junho de 2017, o regime tem sido de baixa volatilidade: o valor médio do VIX foi abaixo da média histórica (15.4% vs 19.5%), o valor máximo foi sensivelmente metade do máximo histórico (40.7% vs 80.9%) e o valor mínimo próximo do mínimo histórico (9.8% vs 9.3%); (ii) historicamente é possível encontrar pelo menos duas janelas temporais adicionais, Janeiro 1991 / Junho 1996 e Janeiro 2003 / Junho 2008, com regime muito similar: respetivamente com valores médios de 14.7% e 16.8%, valores máximos de 36.2% e 34.7% e valores mínimos de 9.3% e 9.9%; (iii) é claramente percetível que o VIX está a passar pelo bottom do seu ciclo de longo prazo (linha laranja no gráfico).
Duas ideias sobressaem. A primeira é a de que a dinâmica do VIX desde 2012 não tem seguido um padrão de todo desconhecido, sendo reconciliável com
alguns fatores macroeconómicos e microeconómicos. Nesse sentido, os atuais níveis de volatilidade não são ‘anormalmente’ baixos. A segunda é de que se antecipa que o VIX inicie a fase ascendente do seu ciclo de longo prazo. Essa trajetória naturalmente apresentará variações diárias (subidas e descidas) mas em torno de uma tendência de subida de longo prazo. Os catalisadores para a inversão do ciclo de longo prazo do VIX estarão certamente associados ao ciclo de longo prazo de diferentes fatores, incluindo os acima mencionados enquanto suporte dos atuais níveis do VIX.