Recentemente, com o crescimento dos movimentos populistas na Europa, os partidos populistas enquanto tópico passou a estar na ordem do dia. Aliás, com a representação formal deste tipo de partidos no sistema político, seria praticamente impossível não falar deles. Ao fazê-lo estamos a ajudar a disseminar as suas ideias, mas também, espero eu, a possibilitar que certas informações cheguem ao eleitorado e que vão para além da propaganda própria dos partidos políticos.
Vários estudos feitos nos últimos anos sobre movimentos populistas na Europa têm demonstrado que quando um eleitor se identifica com um partido populista, tal não quer dizer que não tem perspectivas políticas ou que não mostra essas posições publicamente. Na verdade, esta formação de todo um ambiente anti-elites é absolutamente visível e audível se entrar no café mais próximo de sua casa.
No sentido oposto daqueles que não se interessam por política, a maioria dos apoiantes de partidos populistas ostentam ideias políticas muito marcadas, amiúde contraditórias entre si (embora nem sempre), e raramente têm vergonha de as enunciar (não de dizerem abertamente em quem votam, essa é outra história). Ou como se diz na linguagem popular: “se se parece com um pato, nada como um pato e grasna como um pato, provavelmente é um pato”.
Mas, mais do que isso, estudos recentes mostram que eleitores e apoiantes de partidos populistas são bastante participativos e até mais mobilizados e mobilizadores do que os apoiantes de partidos não populistas. Isto talvez tenha a ver com uma certa agenda e até com uma estratégia de disseminação própria destas “ideologias” (como, por exemplo, estudado por della Porta et al. 2017 ou Portos et al. 2019).
Haverá quem possa reflectir sobre as minhas anteriores palavras e pensar que a solução para a participação política, em declínio nas democracias ocidentais, seria mesmo avançar para um aumento dos partidos populistas nos sistemas políticos europeus. Claro que isto não iria correr bem, e nem falo no ataque óbvio ao sistema político moderado, refiro-me a extenuar a existência de bodes expiatórios que estes partidos necessitam.
Ora, se o sistema for todo ele (ou maioritariamente) populista, onde encontrarão estes movimentos e partidos culpados para o estado do Estado? Isto é de um cálculo simples, este tipo de partidos precisa sempre de inimigos, da divisão entre “eles” e “nós”. Não diria para reinar, mas pelo menos para se manterem líderes pouco recomendáveis a baloiçar na cadeira do poder quase total dentro destes grupos organizados de eleitores não apolíticos, como nos querem fazer acreditar.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.