Muito se falou nestas eleições legislativas na participação eleitoral. Sendo mais preciso, muito se falou nos valores registados pela abstenção. Abordagens que, em geral, se focaram na tragédia da abstenção e incidiram nos alegados males do nosso sistema político. Sem querer diminuir muitos dos argumentos válidos desta linha de raciocínio, permitam-me uma abordagem complementar.

Prefiro ver alguns dos aspectos positivos que este acto eleitoral veio mostrar. Primeiro, que o voto antecipado e por correspondência está em crescendo, com isso mostrando que o sistema tem capacidade de se adaptar aos ritmos modernos da sociedade, marcados por menos previsibilidade ou maior mobilidade. Falta ampliar, comunicar e educar para estas possibilidades, que não são novidade, mas até aqui quase restritas a militares, emigrantes e pouco mais.

Segundo, destaque-se também pela positiva o alargamento do debate a novos partidos, quer na disputa eleitoral quer na capacidade de conseguir eleger parlamentares. Novas ideias, novos discursos e novos protagonistas, uma combinação com potencial para enriquecer o debate público.

Terceiro, a consciência de que há um caminho a fazer para melhorar a proporcionalidade, em especial nos círculos mais pequenos.

Quarto, a educação para a cidadania e para o voto deve começar em tenra idade.

Igualmente importante, em quinto lugar, os cadernos eleitorais terão que ser expurgados de eleitores falecidos para que então a análise da abstenção seja mais relevante.

Finalmente, da leitura dos resultados e dos desenvolvimentos partidários dos últimos dias, teremos um governo minoritário. Temas como a economia, a sustentabilidade e as relações de trabalho ganharão nova preponderância, pelas forças combinadas de um possível abrandamento económico internacional, consciência ambiental em crescendo e sindicatos mais recentrados na sua matriz laboral.

A este último propósito, os sindicatos bancários desenvolveram um crescendo de actividade neste ano que agora caminha para o final, com empenhamento e participação dos seus associados em várias acções, inclusive em actos eleitorais. Compete-me, em especial, saudar os sócios do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários, que mantêm uma matriz de independência há 36 anos, que registaram uma participação histórica nas eleições para os seus órgãos centrais relativas ao quadriénio 2019/2023.

Na prática, a sua votação expressiva é o corolário do seu empenhamento cívico e sindical, bem visível ao longo deste último quadriénio. Sinal redobrado de empenhamento da sociedade civil na construção de uma sociedade mais equilibrada, como que a contrariar os deterministas que se esquecem que a vontade humana é decisiva na construção histórica.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.