Enquanto todos esperamos por ver como termina a novela do Brexit, e ansiamos pelas novas respostas criativas do Attorney General Geoffrey Cox, como a que deu a John Snow (com uma só palavra, adivinhe qual!), as notícias do outro lado do Atlântico não são muito melhores e resumem-se a dúvidas, dúvidas e mais dúvidas. É como diz o ditado: é fácil fazer previsões, difícil é acertar.

Os últimos números para o emprego nos EUA são dececionantes. Uma criação de apenas 20 mil novos empregos em fevereiro, muito abaixo das expectativas: é preciso recuar quase dois anos para encontrar um valor pior. Isto vem dar consistência aos que consideravam que os números particularmente favoráveis de janeiro e outubro tinham substanciais erros de amostragem, agora corrigidos.

Assim, se bem que a taxa de desemprego se mantenha em mínimos históricos, abaixo dos 4%, são cada vez mais aqueles que acham que o boom da economia americana terminou, para não falar dos que dizem que nunca existiu (o crescimento anual nunca esteve acima dos 3%).

Otimista, só o presidente Trump e o seu clube de admiradores dos Pink Floyd, versão “The Wall”. A perda de dinamismo, esgotado o efeito dos estímulos fiscais, está a tornar-se clara. O Presidente da Federal Reserve de Nova Iorque sustenta que o abrandamento do crescimento económico para níveis de 2% é o “novo normal”, não constituindo, portanto, causa de preocupação em si mesmo. A Reserva Federal, à cautela, vai refrear os seus planos de subida da taxa de juro ao longo do ano.

Na Europa, o BCE já tinha anunciado comportamento semelhante a semana passada, comprometendo-se a manter as taxas de juro baixas até final do ano e preparando novo empréstimo a longo prazo ao sistema bancário.

As perspetivas a médio prazo não são mais animadoras. Para já, a margem para estimular a economia americana está gasta. Um sinal recente veio do Congressional Budget Office, que projeta que o défice do Orçamento federal americano possa atingir um milhão de milhões de dólares dentro de três anos, e isto após dez anos de recuperação económica, num ponto alto do ciclo. O que lhe poderão fazer os estabilizadores automáticos caso houvesse uma recessão é cenário aberto à imaginação.

A Europa continua às voltas com o Brexit, a recessão em Itália e a situação social complexa em França. Até KKK, a sucessora de Merkel, já está a ser criticada ainda antes de ser chanceler, devido, imagine-se, às suas infelizes declarações sobre casas de banho mistas.

A crise ficou para trás há uns anos, mas ainda não nos livrámos da sua sombra. E não se está a criar margem de manobra para medidas extraordinárias caso algo de mau aconteça, apenas estamos à espera que nada de grave se dê.