Alguns dos temas que mais marcaram 2024 foram dívida, populismo, conflito, clima e tecnologia. Todos mereciam uma reflexão exaustiva, contudo, preocupam-me mais os conflitos e a instabilidade geopolítica com que entramos em 2025.
Acumulado à guerra Rússia-Ucrânia observámos a escalada dos conflitos no Médio Oriente. Mas não só: 42 países (quase 1/4 do mundo) estiveram em guerra ou em algum tipo de conflito ou insurgência em 2024 e, até outubro, morreram cerca de 150.000 pessoas na sequência desses conflitos.
A sensação de instabilidade a nível mundial também tem aumentado com a ameaça de uma nova guerra fria e o espetro de uma guerra nuclear. Especialistas afirmam que estamos na terceira era nuclear. A primeira oscilou entre um momento de détente e de aquecimento, mas que já em 1953 tinha a possibilidade de eliminar ¼ da população mundial. A segunda foi uma fase de desarmamento e de alinhamento através de tratados e esforços diplomáticos. Neste momento, estamos num ponto de viragem que pode tender para a escalada da crise, pois a própria paz contratual está quase omissa.
Nos últimos 70 anos de era nuclear, a humanidade esteve uma dezena de vezes à beira do precipício. Em quase todas essas ocasiões, uma pessoa só travou a aniquilação da civilização humana.
Stanislav Petrov ficou conhecido como o homem que salvou o mundo a 26 de setembro de 1983, pois recusou aceitar a informação do sistema de satélites russos que alertou para um falso ataque nuclear dos EUA contra o bloco soviético.
Em 1971, Daniel Ellsberg passou à imprensa os chamados Pentagon Papers – que continham dados confidenciais a respeito da guerra do Vietname – mas também sobre o desenvolvimento do arsenal nuclear norte-americano.
O telefilme realizado por Nicholas Meyer, The Day After, foi o mais visto de sempre e ‘parou’ a América durante duas horas em 1983.
Líderes como Mikhail Gorbachev e Ronald Reagan, apesar de não partilharem a mesma visão ideológica, entenderam que a paz e a cooperação era o caminho certo. De assinalar a perda de Jimmy Carter, um dos grandes estadistas humanitários, que teve um papel fundamental na negociação de vários conflitos, em particular no Médio Oriente e na Rússia.
Têm sido indivíduos e não o sistema a proteger a paz coletiva. O sistema não é suficientemente robusto para manter e criar a paz. Um mundo em que a paz está assente num sistema de destruição mutuamente assegurada, como a sigla em inglês pressupõe (MAD), está de facto louco! Precisamos, sim, de indivíduos e líderes corajosos que, acima de tudo, consigam encaminhar-nos para uma situação de maior equilíbrio e menor agressividade.
A escolher uma palavra para 2024, escolho esperança. De que conseguiremos ultrapassar os “tempos interessantes” em prol do bem-estar de todos. Espero que tenhamos aprendido lições no ano que terminou para que aquele que agora se inicia possa ser mais justo para todos. Feliz 2025!