Há pouco mais de trinta anos e um mês, um físico inglês ao serviço de um centro de investigação nuclear criou um sistema de gestão de informação para indexar os textos produzidos pelos 10.000 cientistas que trabalhavam na instituição. A replicação do modelo idealizado por Sir Tim Berners-Lee, com documentos de todo o tipo e à escala global, deu origem à World Wide Web, uma das invenções mais marcantes da nossa época.
Dois desenvolvimentos tecnológicos alavancaram a propagação universal deste modelo informático: a globalização do acesso a um sistema de computadores interligados, inicialmente restrito aos domínios militar e académico, desenvolvido uns anos mais cedo e denominado Internet; e a popularização, uns anos depois, das redes de comunicação de dados em banda larga.
Durante estas três décadas, a web e a Internet têm-se transformado nas maiores indústrias do planeta. Embora ambas tenham sido fruto de iniciativas financiadas com investimentos públicos, têm sustentado o crescimento dos que hoje são os maiores gigantes económicos, com base numa nova indústria de dados que facilita a nossa vida até extremos inimagináveis. Por exemplo, nos Estados Unidos, um terço dos casais que contraem matrimónio conhecem-se através da Internet e os seus casamentos duram substancialmente mais que os iniciados através de encontros físicos.
Mas estas tecnologias também têm semeado a nossa existência de novos desafios, como a transformação radical e, portanto penosa, de setores inteiros, como o retalho; a banalização das nossas vidas através da manipulação da informação e das emoções; e o desenvolvimento do cibercrime, que gera mais dinheiro que o narcotráfico.
A Internet indexada pelos motores de busca, herdeiros da web original, representa só 15% do total. Os 85% restantes é a denominada deep web ou não indexada e, apesar de ser fundamentalmente constituída por publicações académicas e por documentos privados, alberga também a dark web, um repositório de conteúdos opacos, muitas vezes ilegais e só acessíveis com ferramentas especiais como Tor, Freenet ou i2P.
Três décadas após o seu nascimento, os desafios da web não param de crescer, sendo que está a transformar-se não só num negócio fabuloso como também no epicentro da geopolítica e de uma nova edição da guerra fria entre as superpotências, desta vez digital e tecnológica. A web está a fragmentar e caminhamos para uma web segmentada, balcanizada por uma versão americana, uma outra chinesa e, provavelmente, uma terceira web ainda global, mais aberta e europeia.
Por isso, aos seus trinta anos, a Word Wide Web deixou de ser world-wide e passou a ser, simplesmente, a web. Coincidindo com o seu aniversário, tem havido muitos apelos ao multilateralismo para preservar o espírito original da rede, fomentando a criação de organismos de governança que defendam os inúmeros benefícios sociais e culturais de uma web global. Mas, infelizmente, também a tecnologia nunca é neutra e acaba sempre por manifestar a sua dimensão política.