O mundo da tecnologia está por estes dias reunido no Parque das Nações, em Lisboa, a celebrar os avanços tecnológicos que vão alterando o modo como vivemos. “Especialistas no futuro” sobem aos diferentes palcos a anunciar evoluções, a antecipar revoluções e a garantir disrupções. Mas também há quem resista a esta flutuação coletiva e não deixe de abordar os danos colaterais que a onda tecnológica também vai originando.

Um deles, talvez o principal, é a desigualdade. Se é verdade que a tecnologia tem contribuído, e muito, para a prosperidade, não é menos verdade que o crescimento económico das maiores economias do mundo não beneficia todos do mesmo modo e as diferenças de rendimentos entre ricos e os restantes é cada vez mais gritante, criando desequilíbrios sociais e abrindo espaço a populismos e nacionalismos que ameaçam seriamente os sistemas democráticos.

Outro dano colateral é o emprego. A robô Sophie do ano passado “foi substituída” pelo Han The Robot deste ano. E a pergunta seguinte é a quanto tempo estamos de sermos (cada vez mais) substituídos por robôs. O problema não é de agora. Mas agora pode ser mais sério. Keynes falava do “desemprego tecnológico” como uma fase temporária de desajustamento, acreditando que as perdas de postos de trabalho resultantes de evoluções tecnológicas seriam sempre apenas temporárias.

Mas a atual revolução tecnológica coloca questões de resposta mais difícil. Desde logo porque a tecnologia não ameaça apenas o trabalho pouco qualificado. O desenvolvimento da inteligência artificial e a disponibilidade massiva de dados em formato digital torna cada vez mais incontornável a perspetiva de poderem ser máquinas a fazer também o trabalho dito qualificado.

Não é apenas o carteiro que vê o posto de trabalho em risco porque se popularizou o correio eletrónico ou o motorista que se torna inútil porque os veículos deixam de ter condutor. É também o médico que poderá ver máquinas a fazer diagnósticos ou cirurgias de forma mais rápida e barata, o mesmo se aplicando, com as devidas diferenças, ao professor, ao engenheiro, ao advogado, ao gestor e por aí diante, e quem sabe se um dia aos decisores políticos ou aos juízes.

Margrethe Vestager, a Comissária Europeia para a Concorrência, utilizou a sua intervenção para salientar que “a tecnologia deve servir as pessoas, e não o contrário”. Nada mais certo. A questão é como garantir que a revolução tecnológica em curso não tem um efeito de tal modo avassalador que, no final, não estamos num ponto pior do que aquele de que partimos.

A resposta, para já, é desconhecida. O que já é sabido é que não é possível parar esta onda. A tecnologia não se estanca por decreto. Por isso, o importante é compreendê-la melhor, antecipar o seu impacto e desenhar políticas que levem a uma melhor redistribuição da riqueza de forma a combater as crescentes desigualdades sociais que se vão cavando. Garanta-se, pois, a democracia, que, quanto ao resto, o mais provável é Keynes estar certo.