Two black gadgets in her hands

All she thinks about

No responsibility no guilt or morals

Cloud of judgement, Smile on her face

She does what she damn well please

 

Jack White, Freedom at 21

 

Lisboa recebe esta semana mais uma edição do evento mundial Web Summit, que juntará mais de 60.000 pessoas de 160 países, incluindo cerca de 1000 oradores, 1500 investidores e mais de 2000 jornalistas nas áreas das tecnologias, empreendedorismo, capital de risco e inovação. Se há alguns anos um evento com estas caraterísticas e dimensão era quase impensável que se realizasse no nosso país, atualmente é uma coisa natural. Olha-se lá fora para Portugal como um bom sítio para criar uma empresa – nomeadamente de base tecnológica – e para trabalhar. Não é por acaso que Portugal é cada vez mais escolhido por multinacionais tecnológicas como destino de investimento, não só em centros de competências, mas também em centros de investigação e desenvolvimento. Além disso, o nosso país tem sido frequentemente eleito como espaço de demonstração e de teste de produtos e serviços inovadores à escala global.

São várias as razões apontadas para que isto aconteça. A imagem de Portugal tem melhorado nos últimos anos: trendy, cool, tech ou welcoming são algumas das palavras associadas ao nosso país por quem nos visita. Portugal é atrativo não só para fazer negócios, para visitar, mas também para viver. Temos infraestruturas físicas e digitais de qualidade, jovens qualificados nas áreas tecnológicas, com boas competências linguísticas e soft skills, adaptabilidade das empresas e trabalhadores ao mundo global, boa relação custo-qualidade do país e do fator trabalho, estabilidade política, segurança, um bom sistema de ensino e de saúde e qualidade de vida. E temos, atualmente, políticas públicas progressistas que olham para a ciência e a inovação como principais fatores de desenvolvimento a prazo.

Durante uma semana Portugal será o centro das atenções no mundo digital e tecnológico. Contudo, o grande desafio de eventos com projeção mundial, como é o Web Summit, é conseguir captar o máximo possível de retorno a médio e longo-prazo. Se a curto-prazo se estima um impacto económico para o país de cerca de 300 milhões de euros, nos anos seguintes o impacto terá de ser visto em termos de contributo para um maior valor acrescentado da atividade económica do nosso país.

Neste aspeto, o Web Summit pode ter um papel importante na capacitação do sistema nacional de inovação: i) ao estimular a alteração do perfil de especialização da economia portuguesa, com as start-ups a contribuírem mais que haja cada vez mais empresas em atividades de média-alta e alta tecnologia, mas também com um maior impulso para que a “digitalização” beneficie as empresas que atuam em setores menos tecnologicamente intensivos; ii) ao alargar os mecanismos de financiamento à inovação (cujo mercado privado é ainda muito reduzido) nomeadamente nas áreas de capital semente, capital de risco e capital de expansão; iii) ao contribuir para a existência de mais atores no sistema de inovação, com competências diversas e com redes de contacto internacionais, importantes para dinamizar os fluxos de conhecimento e tecnologia entre as entidades localizadas em Portugal e no resto do mundo.

Embora haja ainda muito a fazer, pode-se afirmar que estamos a criar as condições para que se consiga capitalizar os benefícios do Web Summit. Temos start-ups já com algum sucesso a nível internacional (muitas delas com origem nas universidades e outras entidades do sistema científico e tecnológico), mecanismos e estruturas (públicas e privadas) de apoio ao empreendedorismo, empresas cada vez mais cientes de que a cooperação, a colaboração e a partilha são essenciais para vingarem nos mercados globais. E temos, atualmente, políticas públicas progressistas que olham para a ciência e a inovação como principais fatores de desenvolvimento do país a prazo. E isto é essencial.