Um dos desafios que se coloca às empresas nos próximos anos é o de terem a capacidade de identificar, selecionar e incorporar no seu processo produtivo as tecnologias mais adequadas ao seu aumento de competitividade. Todos os anos há milhares de novas tecnologias que chegam ao mercado, resultados do crescente investimento público e privado em I&D e em inovação.

Se analisarmos o número de patentes registadas e concedidas (dado que as patentes resultam geralmente das atividades de I&D), vemos que tem aumentado de forma significativa ano após ano. Entre 2011-2020 foram submetidos 6,22 milhões de pedidos de patentes no USPTO (Gabinete de Patentes dos EUA), sendo que no Gabinete europeu (EPO) o valor acumulado nesse período foi de 770 mil pedidos (a taxa de concessão de patentes foi de 53% no USPTO e de 58% no EPO). Se bem que nem todas as patentes terão sucesso, há uma percentagem significativa delas que dão origem a novos produtos, serviços e soluções, gerando riqueza.

Tal como acontece em “Where’s Wally” – Onde está o Wally?, onde se tenta encontrar Wally no meio de outras personagens, também as empresas tentam encontrar as tecnologias que melhor respondem aos seus problemas face à oferta tecnológica disponível no mercado.

Que soluções tecnológicas adotar, capazes de aumentar os níveis de produtividade? Como adaptar a estrutura organizacional às mutações do trabalho, em especial ao teletrabalho?  Como tirar partido do mundo virtual, captando novos clientes e fidelizando os consumidores? Qual a melhor forma de aceder a novo conhecimento, de forma a aumentar a sua capacidade de inovação? Como tornar a empresa mais sustentável, através das tecnologias “verdes”?

Encontrar resposta para estas questões não é simples, em especial em Portugal, onde há cerca de 88% de microempresas, muitas delas com défices de competências, nomeadamente na área digital. Ter colaboradores que saibam olhar para “fora da empresa”, identificar, selecionar e absorver as tecnologias mais adequadas é uma realidade presente em poucas empresas. Assim como são ainda relativamente poucas aquelas que conseguem “olhar para dentro” e definir a melhor estratégia de valorizar no mercado as tecnologias e conhecimentos gerados internamente (como tem vindo a ser constatado em estudos académicos sobre a “inovação aberta” em Portugal).

Este défice de competências leva a que as empresas recorram a outras entidades do sistema de inovação, no sentido de acelerar o seu processo de mudança. Não tendo muitas vezes os recursos humanos apropriados para lidar com tecnologias avançadas (por exemplo, do total de Doutorados em Portugal, apenas 8% trabalham em empresas, quando a média europeia é cerca de 30%), as empresas solicitam  cada vez mais os serviços das infraestruturas tecnológicas (ex. Laboratórios de Estado, Laboratórios Associados, CoLAB, Centros de Interface), que empregam técnicos altamente qualificados e que têm ajudado as empresas a solucionar  os seus problemas tecnológicos.

O último ano, marcado pela pandemia, veio acelerar esta realidade de “trabalhar em conjunto”, com claros benefícios em termos de novos produtos e serviços lançados no mercado.

Nos próximos anos o ponto crítico não será a falta de financiamento para promover essas colaborações, pelo contrário. O desafio passará pelo aparecimento de projetos conjuntos de elevada qualidade, capazes de produzir impacto económico e social, mas também pela capacidade das entidades em os desenvolverem e implementarem.