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Wizink prepara nova operação de titularização de crédito no último trimestre

O banco espanhol especializado em crédito pessoal, Wizink, no ano passado, em outubro, concluiu a sua segunda operação de titularização de créditos no espaço de um ano, no valor de 280 milhões de euros. O crédito foi colocado junto de investidores institucionais.  Este ano vai voltar ao mercado com uma operação semelhante, que o CEO do Wizink, Iheb Nafaa, anuncia que será no último trimestre do ano.
21 Maio 2025, 07h00

O CEO do Wizink, Iheb Nafaa, em entrevista ao Jornal Económico, revelou que o banco vai regressar ao mercado com uma operação de titularização de crédito no último trimestre.

Isto acontece após o banco espanhol, especializado em crédito pessoal, ter concluído a sua segunda operação de titularização de créditos em outubro do ano passado, no valor de 280 milhões de euros. O crédito foi então colocado junto de investidores institucionais, e esta segunda venda, avançada pela Bloomberg, foi efetuada através da unidade Vasco Finance do Wizink.

Um ano antes, o Wizink tinha ido ao mercado vender uma carteira de créditos ao consumo. Na primeira operação, concluída em 2023, estavam abrangidos cerca de 50.373 empréstimos contraídos em Portugal, que tinham ainda 176,1 milhões de euros em aberto.

No ano passado o WiZink voltou ao mercado para uma segunda operação de titularização de créditos ao consumo. Vão voltar a fazer estas operações vender carteira de créditos ao consumo?

No ano passado, fizemos uma titularização de créditos no valor de 280 milhões de euros (colocada em investidores institucionais). O Wizink financia-se em 80% com depósitos e 20% através da titularização de créditos. Este ano, vamos voltar a realizar uma operação de securitização (titularização) de créditos no último trimestre.

Quais foram os resultados financeiros do Wizink?

Em Portugal, gerimos um balanço de cerca de 1,2 mil milhões de euros e temos crescido nos últimos anos entre 2% e 3%. O nosso plano estratégico é alcançar um crescimento de 6% nos próximos cinco anos, o que demonstra a nossa aposta em expansão. Nos últimos cinco anos, acumulámos um resultado após impostos entre 20 e 40 milhões de euros por ano em Portugal. Os resultados antes de impostos são ainda melhores, variando entre 40 e 50 milhões.

Portugal ou no grupo?

Só Portugal.

Como é que são os resultados do Wizink em Espanha?

Em Espanha, em 2024, tivemos prejuízos de 22,5 milhões de euros devido a provisões destinadas a cobrir o risco de perdas potenciais com queixas no crédito revolving. Sem este efeito extraordinário, teríamos lucros de 25 milhões.

O Wizink admite vir a fazer crédito hipotecário em Portugal também?

Não. Nem em Espanha.

E qual é o rácio de NPL em Portugal? E o Custo do Risco?

O custo do risco de crédito é de 4% em Portugal. No negócio de cartões de crédito, o custo do risco costuma andar à volta de 5% a 6% na Europa. Em Espanha, o custo do risco ronda os 5%. Não tenho dados sobre NPL.

Está prevista a venda de carteiras de NPL?

Temos um acordo com a EOS Partners que nos compra mensalmente carteiras de crédito com morosidade avançada.

A equipa executiva do Wizink em Portugal vai manter-se?

Sim. Acredito que temos uma das melhores equipas profissionais de Portugal. Estamos muito satisfeitos e queremos continuar com o crescimento que temos até aqui. Eu diria que em 2028 ninguém vai reconhecer o Wizink em Portugal.

Somos um banco digital e temos uma estratégia onde queremos digitalizar muito mais. Vamos lançar uma nova app em Portugal, no final de 2025 ou início de 2026. Estamos a desenvolver uma metodologia de decisão de crédito imediata através do cartão de crédito.

Em Portugal, também já somos parte de todos os wallets, do Google Wallet e do Apple Wallet, onde estamos a digitalizar muito o banco. Mas não só na parte comercial, mas também na parte de serviço ao cliente, onde o cliente, se necessitar de qualquer coisa, poderá fazer isso diretamente pela sua app.

E na cibersegurança?

Nós temos parceiros de cibersegurança bastante fortes, como a Deloitte. Fazemos um grande esforço em educação financeira para os nossos clientes, a fim de evitar problemas de phishing. É um tema educacional e de cultura financeira muito importante que temos de continuar a apoiar, e apoiamos muito o Banco de Portugal nesse sentido.

E tem alguns números do investimento na app e em cibersegurança?

Em cibersegurança, podemos dizer que tudo o que investimos desde 2022 foi pouco mais de 8 milhões de euros. É um tema importante para toda a banca. Toda a banca tem de investir muito e continuar a melhorar nesse aspecto.

E o investimento na nova app?

Temos um plano de investimento na nova app, que, entre Portugal e Espanha, é de quase 5 milhões para os dois países. Vamos continuar a manter os cartões em plástico também.

 

“Portugal é a arma de crescimento do Grupo”

O banco espanhol especializado em crédito pessoal, Wizink, é detido pela Varde Partners e tem estado a estudar várias hipóteses para as operações em Portugal, incluindo a venda de uma participação minoritária da unidade em Portugal ou a formação de uma joint-venture. Mantém-se essa estratégia? Qual é a estratégia para Portugal?

O banco é 65% detido pela Varde, que é o principal acionista. O resto está disperso por vários investidores (mas o banco não é cotado em bolsa). No ano passado, tentámos buscar uma aliança estratégica com um banco em Portugal para que o Wizink pudesse crescer. Mas a verdade é que o interessado que tínhamos pressupunha outra estrutura, ou seja, que a totalidade do banco em Portugal fosse vendida, e não quisemos, porque queremos estar em Portugal e continuar neste mercado, que é importante para nós, onde vemos ainda muitas oportunidades de crescimento. Assim, o Conselho de Administração do Wizink decidiu não vender o banco em Portugal no ano passado. Portanto, a Varde continua a ter o controle da instituição.

E que banco era?

É confidencial. Mas o importante é que vamos continuar a implementar o plano que queremos fazer e que somos capazes de fazer. Temos um plano estratégico importante para Portugal. O Wizink está em Espanha e Portugal, sendo que em Espanha temos um total de 1,5 milhões de clientes e meio milhão de clientes em Portugal. Queremos fazer uma aposta muito grande em Portugal, em termos de clientes, provavelmente vamos tentar crescer de 50% para chegar a 700 mil clientes ou 800 mil até 2028 ou 2029. Temos uma clara aposta de crescimento em Portugal, que, dentro do negócio global, é um mercado prioritário e importante para o Wizink. Chegámos à conclusão de que vamos conseguir crescer em Portugal sem a ajuda de um parceiro de capital.

Teremos outro tipo de alianças estratégicas para o Wizink, que são as alianças comerciais, em vez de parcerias através da entrada no capital. E já estamos a falar com vários potenciais candidatos para desenvolver parcerias comerciais. Já fazemos isso em Espanha.

Tudo o que aprendemos em Espanha, ao nível desse tipo de negociações para alianças comerciais, podemos aplicar em Portugal, e isso é o que vamos seguir.

E quanto esperam investir em Portugal para atingir essa meta de 800 mil clientes até 2028 ou 2029?

Nos próximos cinco anos, esperamos investir em Portugal entre 50 a 60 milhões de euros. Para mim, a aquisição de um cliente é um investimento.

Admitem comprar bancos em Portugal para crescer?

Não está previsto no nosso plano estratégico, mas se surgir alguma oportunidade, certamente estudaremos. Está no nosso ADN comprar entidades pequenas e fazê-las crescer. Tivemos dois casos de sucesso: o Lendrock e o Aplazame [empresa de financiamento flexível]. O Aplazame é uma ferramenta tecnológica de Buy Now Pay Later que vamos lançar em Portugal no último trimestre do ano.

A Aplazame foi um sucesso muito importante; quando a comprámos, tinha 10 trabalhadores, agora tem 90. Em Portugal, terá uma equipa autónoma. A vantagem desta ferramenta tecnológica é que é muito flexível e podemos dar uma decisão de sim ou não a um pedido de crédito em 60 segundos.

E qual é o limite de crédito?

Nós não temos um limite estabelecido. É verdade que o valor médio é baixo, cerca de 500 euros, mas podemos ir até… temos importes de 6 mil, 10 mil e 15 mil. Por exemplo, em Espanha, financiamos muitos Executive MBA, que são cursos caros, e para este tipo de financiamentos, são montantes altos.

Aplazame é um negócio B2B e, por isso, é feito através de terceiros. É um método de pagamento de comércio feito por terceiros. Fazemos muito na parte do e-commerce.

Neste momento, estamos a desenvolver os processos para entrar no mercado português, estamos a fazer o levantamento de potenciais parceiros comerciais para entrar no mercado português.

Mas vão estar sozinhos, independentes, como o Klarna, por exemplo, ou vão ter sócios em Portugal?

Sim, a Aplazame é concorrente da Klarna. Em Portugal, a Aplazame será uma filial da Aplazame Espanha. Acordos, sim, mas só comerciais. Vai financiar compras tanto online como offline.

Qual é o plano estratégico do Wizink desde que é CEO em Espanha?

Desde logo, o facto de Portugal ser a nossa arma de crescimento no grupo. Temos uma parte do negócio em Espanha que está a crescer muito. São os negócios da Aplazame e do Lendrock. Mas eu acho que Portugal é uma arma importante, e vou explicar porquê. Nós, em Espanha, temos um negócio que foi um sucesso desde que foi criado, que é o negócio do Wizink, e que em Portugal [em 2017] comprou o Barclaycard.

É um negócio que temos bastante bem consolidado, liderado por uma equipa de grandes profissionais em Portugal, o que torna mais fácil executar um plano de crescimento ambicioso. Em que consiste este plano? Nós sempre vimos o Wizink como um negócio B2C. Sempre tivemos um produto muito concentrado no negócio dos cartões de crédito, um produto muito simples. A nossa estratégia é, uma vez que adquirimos o cliente, continuar com a gestão do cliente, e tivemos muito sucesso. Queremos continuar a ser líderes de mercado. Nós definimos como líderes de mercado nos cartões de crédito revolving em Portugal, onde temos 25% do mercado e queremos manter essa posição.

Neste negócio, vamos adicionar uma estratégia de diversificação. Mais que o B2C, vamos adicionar o B2B. Queremos formar acordos estratégicos comerciais com terceiros para poder crescer. Hoje temos um magnífico acordo com o Benfica; não sei se sabe, mas somos patrocinadores do Benfica.

E temos um acordo com a Moeve (ex-Cepsa) que funciona bem.

E têm acordos comerciais com SIBS e com MetLife…

Sim. Com a MetLife, temos um acordo de seguros. Criámos uma nova equipa de desenvolvimento de negócios que está a procurar novos acordos comerciais de muito mais longo prazo. Isto é um pouco a diversificação do atual negócio do Wizink. Hoje, o B2B representa atualmente 12% e deverá chegar até 20% ou 22% até 2029.

A segunda estratégia é a diversificação do produto. Por isso, vamos trazer para Portugal a Aplazame, a ferramenta tecnológica de Buy Now Pay Later, que nos vai permitir adquirir muitos mais clientes. É um canal de angariação de clientes e, com esses clientes, podemos fazer cross-selling com outros tipos de produtos do grupo.

Estamos ainda a analisar outros produtos. Estamos a analisar, mas estou seguro de que vamos também lançar depósitos em Portugal, através do Wizink.

E já têm autorização do Banco de Portugal?

Wizink é um banco espanhol e, em Portugal, é uma sucursal, pelo que podemos receber depósitos aqui.

E quando vão começar a receber depósitos?

Ainda estamos a estudar, mas eu acho que, se tudo correr bem, será mais um tema para 2026, e isso nos ajudará também a reforçar a nossa imagem perante os clientes. Nós temos NPS (Net Promoter Score) de 45%, que é muito bom, muito alto. Eu acho que os produtos de depósitos são uma ajuda a reforçar essa imagem.

Qual é o rácio de capital do Wizink?

Bastante alto, de 17% no consolidado do grupo em Espanha.

Que outros comerciais têm em vista em Portugal?

Temos negociações avançadas com retalhistas, com alguns players de telecomunicações, e também com alguns bancos médios que nos veem claramente como especialistas na gestão de cartões de crédito. A gestão do cliente e o seu perfil de serviços é uma expertise muito concreta. Nós temos uma grande vantagem, e fazemos isso muito bem. Portanto, essa expertise é muito reconhecida no mercado.

Então, também estamos a falar de uma aliança estratégica com alguns bancos, mas será sempre uma aliança comercial.

Quais bancos?

Ainda não posso revelar.

O Wizink só está em Portugal e Espanha. Vão olhar para outros mercados?

Não há nada concreto. Estamos a estudar, mas não há nada confirmado. Espanha e Portugal já me ocupam bastante.

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