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18,1 mil milhões de euros investidos no fecho de 2016

Apesar de 2016 ter sido positivo para o mercado imobiliário português, ficou aquém do que se perspetivava no início do ano.
Reuters
30 Dezembro 2016, 13h14

O ano de 2016 fecha com um investimento de 18,1 mil milhões de euros resultantes de transações imobiliárias, sendo que 4 mil milhões são de investimento externo. Valores ligeiramente acima do ano de 2015 onde foram alcançados 15 mil milhões de euros, dos quais 3,3 mil milhões foram de investimento estrangeiro.

Números avançados por Reis Campos, presidente da Confederação Portuguesa da Construção e Imobiliário – CPCI, que refere este ano como muito positivo, resultado de um renovado interesse dos investidores nacionais e estrangeiros e de uma maior dinâmica na Reabilitação Urbana. No terceiro trimestre, as transações de imóveis, em número, registaram um crescimento de 15,8% face ao ano passado, e o licenciamento de obras cresceu 13,4%. “Recordo que, apesar desta recuperação, o país deverá terminar o ano com pouco mais de 11 mil fogos novos licenciados, o que é menos de um décimo do verificado em 2001, o último ano com variações positivas neste indicador”, salienta.

Reis Campos assegura que estamos ainda longe de assistir a uma recuperação com a intensidade e a abrangência territorial que são necessárias, “praticamente não existe investimento público e persistem desequilíbrios macroeconómicos importantes, mas podemos afirmar que, em 2016, no setor, caminhámos no sentido correto”.

Na opinião do responsável , o mercado imobiliário manteve-se atrativo em 2016, sobretudo devido à baixa atratividade dos produtos financeiros oferecidos pelos bancos, dado o atual nível das taxas de juro, a procura dos investidores estrangeiros, o programa dos Vistos Gold, o Regime de Tributação de Residentes Não Habituais, impulsionados pelo bom momento que as atividades ligadas ao turismo atravessam. Mesmo assim, é necessário incentivar mais o setor.

Reis Campos revela ainda que só em 2015, e após 13 anos consecutivos de queda, que totalizaram uma perda total de 55,6%, verificou-se um crescimento de apenas 4,1%. “O ano de 2016 não correspondeu às expetativas das empresas já que a estabilização da nossa atividade é um imperativo. Portugal não cresce sem um setor da construção e imobiliário forte e precisamos de, rapidamente, seguir o exemplo da generalidade dos países europeus e de criar condições para a retoma do investimento”.

Hugo Santos Ferreira, secretário-geral da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários – APPII, refere que em 2016 as empresas do setor fizeram um excelente trabalho, notando em particular que os promotores imobiliários nacionais voltaram em força ao mercado, lançando ou relançando muitos e bons projetos imobiliários, alguns até de dimensão relevante .

No entanto, olha para 2017 com alguma preocupação, sobretudo com a aprovação do Orçamento do Estado – OE2017. “O OE recentemente aprovado e o pacote de avanços e recuos legislativos que estão em curso no imobiliário representaram uma mensagem profundamente errada e contrária aos investidores, maioritariamente estrangeiros, de que não são bem-vindos. A captação de investimento estrangeiro continua a ser absolutamente necessária não só para o setor, mas para toda a economia nacional”, esclarece. O responsável adianta ainda que medidas como a criação do Imposto Adicional ao IMI, o regresso do congelamento das rendas, a proteção excessiva às ‘lojas históricas’ e o eventual exagero na regulamentação do Alojamento Local, foram medidas que não beneficiaram o setor.

Apesar disso, Hugo Santos Ferreira acredita que 2017 pode ainda ser um ano favorável ao imobiliário nacional, mas para isso é preciso criar-se, definitivamente, um regime fiscal e legal credível, estável, em que os investidores possam confiar, que não mude a cada quatro anos e, pior que isso, a cada semana.

Também César Neto, presidente da Associação dos Industriais da Construção de Edifícios – AICE, admite que o ano de 2016 se perspetivava melhor do que finalizou. Quanto às obras públicas, os movimentos de concursos sucederam-se pelos mínimos, tendo em conta os constrangimentos orçamentais, mesmo tendo-se registado algum incremento no final do ano.

“Em matéria de habitação tarda a iniciar-se a verdadeira revolução nas operações de reabilitação urbana. As indecisões políticas em matérias relacionadas com os veículos de investimento, dúvidas da taxação, incerteza da estabilidade fiscal e legislativa, e sobre a legitimidade e a necessidade da propriedade privada, tem provocado muitas dúvidas nos investidores nacionais e do exterior”, admite.

O responsável explica que quem opera este tipo de imobiliário é mais conservador e cauteloso por natureza e está ainda escaldado da crise longa que viveu. Por tudo isto as iniciativas de reabilitação são ainda incipientes e diminutas. Por outro lado, começaram a emergir alguns projetos novos bem suportados nas suas variáveis e com potencialidades de colocação.

Para o presidente da AICE, 2017 recebe um mercado imobiliário com empreendedores diversificados e interessados nos vários tipos de negócio, preparados para investir e que apenas aguardam pelos novos “ares de 2017”, nomeadamente em matéria de estabilidade política e partidária. “Sob o ponto de vista das empreitadas de reabilitação, especialmente na habitação, muitos projetos pequenos existem, mas estão pendentes da definição da banca que, como se sabe, é sempre um dos players para o qual todos têm o olhar atento”, assegura.

1,5 mil milhões em investimento em imobiliário comercial

Já Francisco Horta e Costa, diretor geral da consultora imobiliário CBRE, também realça um ano de 2016 aquém das expetativas do início do ano, apesar de ter apresentado uma extraordinária dinâmica ao longo do ano, estimando que feche com um volume de transações de 1,5 mil milhões de euros em investimento imobiliário comercial (escritórios, comércio e indústria e logística), abaixo dos dois mil milhões de euros registados em 2015, mas acima do melhor registo anterior a 2015 (que tinha sido 2007 com 1,4 mil milhões de euros).

“Os investidores americanos representaram cerca de 26% do total investido e os portugueses cerca de 16%. Perspetiva-se a continuação de uma dinâmica forte no investimento devido às reduzidas taxas de juro e consequente capital disponível para investir em imobiliário. Só na CBRE estamos a trabalhar em operações que totalizam cerca de 500 milhões de euros e que devem fechar-se no primeiro trimestre de 2017. Antecipamos que o próximo ano registe um volume de negócios pelo menos tão bom como 2016”, conclui.

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