No encontro anual da EFCA (European Federation of Engineering Consultancy Associations), realizado recentemente em Madrid, foi debatido um tema de vital importância: o desafio lançado pelo Comité Económico e Social Europeu (CESE) para a criação de um Blue Deal, com a atribuição de um Comissário Europeu específico para esta iniciativa.

O Blue Deal é uma proposta centrada na gestão sustentável e na preservação dos recursos hídricos da Europa. Inspirado no Green Deal da União Europeia, que abrange políticas para atingir a neutralidade climática, o Blue Deal focar-se-ia especificamente em questões relacionadas à água. Isso inclui a conservação dos recursos hídricos, a melhoria da infraestrutura de abastecimento de água e saneamento, a promoção de uma economia circular da água e a adaptação das infraestruturas aos impactos das mudanças climáticas.

A autonomia do Blue Deal em relação ao Green Deal é fundamental devido à sua criticidade e urgência. Enquanto o Green Deal abrange uma ampla gama de iniciativas ambientais, o Blue Deal focar-se-ia especificamente na gestão e preservação dos recursos hídricos, essenciais não só para a sobrevivência humana, mas também para o funcionamento das indústrias e a produção de energia. Este enfoque dedicado permitiria uma implementação mais rápida e eficaz das políticas necessárias para enfrentar os desafios hídricos da Europa.

A EFCA destaca a engenharia como um setor crucial para estudar e implementar o Blue Deal. A complexidade das infraestruturas hídricas e a necessidade de inovações tecnológicas exigem a expertise técnica e a abordagem científica que os engenheiros podem oferecer. Desde a manutenção de infraestruturas de abastecimento de água envelhecidas até ao desenvolvimento de fontes de energia renováveis baseadas na água, a engenharia desempenha um papel insubstituível na materialização deste ambicioso plano.

A EFCA apoia uma abordagem coordenada à escala da UE para a política da água, incluindo a criação de um Fundo de Transição Azul. A interligação entre energia, água e matérias-primas essenciais torna a água um elemento central da estratégia industrial da UE. O Blue Deal deve ser tratado no contexto global das políticas ambientais e climáticas, com o Comissário Europeu para o Ambiente na liderança e um vice-presidente a coordenar o grupo relevante de Comissários.

Esta estrutura garantirá, assim, uma abordagem integrada e eficaz. Além do direito humano à água limpa e potável, o Blue Deal deve abordar as adaptações climáticas necessárias para as infraestruturas hídricas, incluindo zonas costeiras, rios e bacias hidrográficas. A gestão sustentável dessas áreas é vital para enfrentar os desafios das mudanças climáticas.

A manutenção urgente de infraestruturas de abastecimento de água envelhecidas e com fugas, bem como de infraestruturas de águas residuais, é essencial. Estes problemas, comuns em todos os Estados-Membros, exacerbam a escassez de água potável e aumentam os custos associados. O Blue Deal deve acelerar o desenvolvimento de fontes de energia renováveis baseadas na água, garantindo que sua expansão seja viável e aceite pela população.

Soluções inovadoras e sustentáveis são necessárias para tornar essas fontes de energia uma realidade prática. A EFCA apoia a ênfase do CESE numa economia circular da água, que promoverá o uso eficiente e sustentável dos recursos hídricos. O Blue Deal deve ser um compromisso político do novo mandato de 2024-2029. Este compromisso garantirá a continuidade e a implementação eficaz das políticas necessárias para enfrentar os desafios hídricos da Europa.

Quanto mais cedo se iniciarem os planos de investimento no Blue Deal, menor será o custo futuro. O agravamento das condições hídricas apenas aumentará os custos de resolução no futuro. Investir agora é não apenas uma decisão econômica inteligente, mas também uma necessidade ética para garantir a sustentabilidade dos recursos hídricos para as gerações futuras.

A criação de um Blue Deal autónomo e a sua implementação eficaz com a liderança da engenharia são cruciais para enfrentar os desafios hídricos da Europa. A EFCA e o CESE têm razão em destacar a urgência e a importância desta iniciativa. Agora, cabe aos líderes políticos europeus assumir este compromisso e garantir que o Blue Deal se torne uma realidade, promovendo a sustentabilidade e a resiliência dos recursos hídricos da Europa.