Bedrag. A Fraude, na tradução portuguesa, é uma história do mundo em que vivemos… Uma série dinamarquesa sobre a ganância e o crime económico, onde todos desfilam: ricos e pobres, íntegros e corruptos, polícias e ladrões. Engrenages, também exibida na RTP 2, gira em torno do crime e do sistema judicial francês, envolvendo detetives, advogados, juízes e procuradores. Estas duas séries europeias são atualmente vistas em várias geografias onde colhem grandes encómios.
“A França, além de ser um exemplo no apoio ao cinema e à mudança de mentalidades, está, hoje em dia, a produzir séries de televisão que são exportáveis e feitas por pessoas que vêm do cinema de auteur, explica ao Jornal Económico Nuno Cintra Torres. O especialista em cinema e televisão, professor e investigador na ECATI – Escola de Comunicação, Arquitetura, Artes e TI da Universidade Lusófona, em Lisboa, aponta outro exemplo. “A Dinamarca, um país ainda mais pequeno do que Portugal, está a fazer produtos internacionalizáveis de grande qualidade”.
Portugal poderia seguir, pelo menos, este último exemplo. Nuno Cintra Torres defende isso mesmo. De resto, não é por acaso que a internacionalização é um dos três pilares da pós-graduação que desenhou para a Universidade Lusófona do Porto, com início agendado para os primeiros dias de fevereiro.
“Este curso tem precisamente como objetivo preparar as pessoas do setor para desenvolverem projetos que sejam internacionalizáveis”, explica o co orde nador e professor do curso, que junta no corpo docente Vâ nia Gonçalves, doutorada em Media Digitais, Marta Vaz, especialista em produção, distribuição e vendas internacionais de cinema e televisão, e Sónia Nogueira, especialista em Marketing de Turismo e Análise de Redes.
“Se soubermos (leia-se Portugal) aproveitar todos os instrumentos necessários para fazer um filme que possa ter algum sucesso, a oportunidade existe”, diz.
Com a duração de um ano, o curso, cujas inscrições estão, neste momento, a decorrer, é dirigido a produtores, realizadores, guionistas, pessoas do Marketing e financeiros e vai permitir adquirir competências em técnicas de planeamento, produção e marketing e distribuição para a internacionalização.
Num país como Portugal, aliás, um pouco à semelhança da maioria dos vizinhos europeus, onde o cinema é uma mera produção artesanal, como aumentar as probabilidades de vir a ser bem-sucedido internacionalmente? “As coproduções são o modelo a seguir”, diz Nuno Cintra Torres. E justifica: “Os filmes que são coproduções são aqueles que têm maior probabilidade de ser rentabilizados, desde logo, por terem à partida dois, três, quatro, cinco mercados. Uma coprodução requer um conjunto de ingredientes, à cabeça dos quais vem a própria história. Tem que abordar valores universais, que toda a gente entenda, caso da família, e tem de haver pontes de familiaridade, lugares e coisas reconhecíveis”, sublinha.
A pós-graduação da Lusófona tem uma vertente muito prática e está totalmente virada para a realidade. Além da Internacionalização, explora em profundidade as dimensões do Marketing e da Distribuição, dois fatores igualmente fundamentais ao sucesso da indústria.
Em Portugal, como na Europa em geral, o Marketing no cinema é o calcanhar de Aquiles… uma coisa em que se pensa já depois do filme feito. Nos mercados mais avançados, designadamente nos EUA, é o contrário. “O Marketing começa com a ideia do filme e acompanha toda a produção, desde a conceção da ideia até depois do filme ter sido exibido”, explica Nuno Cintra Torres. A Comissão Europeia aponta esta prática como uma grande lacuna do cinema europeu. “Esta pós-graduação chama a atenção para todo esse processo. Pro cu ra imbuir os estudantes da ide ia de que o Marketing é fun damen tal para o sucesso de um filme”, acrescenta.
Tão fundamental como a distribuição. O circuito é totalmente dominado pelas grandes distribuidoras norte-americanas, as chamadas ‘big six’: Warner Brothers, Walt Disney, 20th Century Fox, Sony, Universal e Paramount. “É também um grande problema europeu” numa indústria onde o grau de incerteza é absoluto. O que coloca um outro problema, mormente em Portugal, onde a expressão da atividade é muito pequena. Não há privados a investir, quase todo o investimento vem de fundos de apoio ao cinema. É dinheiro do Estado. O curso desenhado por Nuno Cintra Torres permite aprender o que é o ROI (Return on Inves tment), um colateral e fazer um pla no de negócios. É que o cinema não pode ser visto unicamente na perspetiva da arte ou do espectáculo, também é negócio. E dele depende – e muito – a sua independência.
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