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Autoeuropa: a polémica que começou com um novo modelo para produção

Com uma Comissão de Trabalhadores demissionária e à espera de uma greve já para o próximo dia 30 de agosto, a Volkswagen Autoeuropa está a braços com uma crise laboral como há muito não existia e que pode até implicar a deslocalização da produção do T-Roc.
3 Agosto 2017, 19h39

Tudo começou com a chegada de um novo modelo para produção na unidade de Palmela, o SUV Volkswagen T-Roc. Para cumprir os volumes e prazos de produção estipulados pela casa-mãe, a Autoeuropa terá de laborar durante seis dias por semana. Assim, foi iniciado o processo de contratação de cerca de mais 2000 colaboradores (serão 4795 no final deste ano) para a criação de um terceiro turno de laboração. Em maio iniciaram-se negociações com a Comissão de Trabalhadores para “conseguir as melhores condições para os trabalhadores, sem prejudicar as previsões de produção”, disse, à data, Fernando Sequeira, coordenador da Comissão de Trabalhadores (CT) da Autoeuropa, ao Jornal Económico. Essas previsões apontam para um aumento de produção de 20% até ao final de 2017 e de mais 100% em 2018, para um total de 230 mil veículos.

O que correu mal?
Foi no passado dia 21 de julho que a polémica estalou. Descontentes com a proposta feita pela administração da empresa quanto a horários e compensação financeira, os trabalhadores da Autoeuropa decidiram em plenário convocar uma greve para o próximo dia 30 de agosto e para mais cinco dias do mês de setembro.

A dias de iniciar a produção do novo modelo (o que aconteceu no dia 31 de julho), a administração conseguiu chegar a um pré-acordo com a CT para a compensação dos trabalhadores. O acordo envolvia uma folga fixa ao domingo e uma folga flutuante, gozada durante a semana. Além disso, previa também o pagamento mensal de 175 euros adicional ao previsto na lei, além de 25% de subsídio de turno e mais um dia de férias anual, o que se traduz num “incremento mínimo de 16% no rendimento mensal dos colaboradores abrangidos por este modelo de trabalho”, podia ler-se no comunicado emitido no passado dia 27 de julho pela Autoeuropa. Reunidos em plenário, os trabalhadores rejeitaram a proposta pré-acordada entre a Autoeuropa e a CT, com perto de 75% dos votantes a dizer “Não” a esta proposta.

Perante este cenário, Fernando Sequeira e a sua equipa demitiram-se em bloco, congelando as negociações até setembro, altura em que todos os trabalhadores já estarão de regresso das férias e poderá ser eleita uma nova Comissão de Trabalhadores, o único órgão de representação com quem a Autoeuropa está disposta a negociar, diz esta quinta-feira ao Jornal Económico fonte oficial da empresa. Acrescenta que apenas reconhece nela essa legitimidade, por ter sido eleita pelos trabalhadores.

Fernando Sequeira, coordenador demissionário da CT, atribui a culpa do impasse aos sindicatos, que, no seu entender, “têm criado confusão”, lançando “propostas não exequíveis”. Em declarações prestadas esta quinta-feira ao Jornal Económico, o ainda coordenador da CT diz que os sindicatos pretendem que o horário de laboração se mantenha de 2.ª a 6.ª, com trabalho extraordinário ao sábado, algo que Sequeira considera “ingerível” para qualquer empresa.

Implicações para todos 
Terceira maior empresa exportadora do país (e segunda maior importadora), a Autoeuropa produziu 85.126 veículos durante o ano passado, registando uma faturação de 1,52 mil milhões de euros. Analisando o objetivo de produção para 2017, de 113 mil veículos, os seis dias de possível paralisação atrasarão a Autoeuropa em menos de 3000 unidades, ao ritmo atual de laboração.

À espera do que os sindicatos conseguirão alcançar com as medidas de protesto atualmente previstas, Fernando Sequeira afirma que “a minha equipa pretende recandidatar-se”, mas alerta para que a empresa pode implementar livremente o novo horário, porque este é legal, um cenário que considera pior ao que estava até há pouco negociado com a Autoeuropa, ainda que fonte oficial da unidade de Palmela afirme que “essa não é a tradição da Autoeuropa”.

No entanto, caso se prolongue o impasse, o cenário pode ser pior. Segundo alerta Fernando Sequeira, existe a possibilidade de a produção do T-Roc poder ser, pelo menos parcialmente, deslocalizada, e dá um exemplo: “Com o Polo, em Espanha, não houve acordo com os trabalhadores e a VW deslocalizou parte da produção para Bratislava”. As contas são simples, diz o atual coordenador da CT. “O objetivo de produção para 2018 é de cerca de 240 mil carros. Com o horário que o sindicato propõe, é impossível ultrapassar os 200 mil carros/ano. Será que a VW vai deixar de fabricar esses 40 mil carros?”

Tal não será de prever, ganhando mais força o cenário da deslocalização de pelo menos parte da produção do novo modelo da marca alemã. Se tal acontecer, além das implicações para os cofres do Estado, que deixarão de encaixar as receitas dali provenientes, os trabalhadores também serão afetados. Sem necessidade de um terceiro turno, pelo menos parte dos colaboradores agora contratados deverá ser dispensada, um cenário bem pior do que ter uma folga rotativa durante a semana.

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