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Banco de Portugal mantém estimativa de crescimento: 2,3% em 2018

As exportações, o investimento e o consumo privado vão continuar a alimentar a recuperação da economia até 2020, afirma o banco central. No curto prazo, os riscos são revistos em alta ligeira com a possibilidade de um impulso cíclico mais forte que esperado, mas no médio termo as tensões nos mercados, a geopolítica e o protecionismo são riscos negativos.
28 Março 2018, 11h00

O contexto económico e financeiro é favorável e vai continuar a beneficiar a economia portuguesa nos próximos anos, segundo o Banco de Portugal. O crescimento da procura externa vai manter-se perto dos 4% por ano até 2020, a política monetária na zona euro vai ser pautada pela redução gradual dos estímulos e os agentes económicos vão continuar a ter acesso favorável ao financiamento.

“A atividade económica deverá continuar a expandir-se até 2020, a um ritmo idêntico ao projetado no Boletim Económico de dezembro. Depois de ter aumentado 2,7% em 2017, o produto interno bruto (PIB) deverá crescer 2,3% em 2018, 1,9% em 2019 e 1,7% em 2020, uma evolução que está em linha com o crescimento estimado pelo Banco Central Europeu para o conjunto da área do euro”, referiu o banco central, em comunicado.

O crescimento da atividade deverá ser sustentado pelo forte dinamismo das exportações de bens e serviços e da formação bruta de capital fixo (FBCF) e pelo aumento do consumo privado, num enquadramento económico e financeiro favorável, adianta, nas projeções para 2020, sublinhando que a expansão vai ser superior ao potencial ao longo do horizonte das previsões.

Em relação a 2018, as projeções para os diversos contributos do produto interno bruto (PIB) apresentam apenas variações ligeiras face às apresentadas em no último mês do ano passado. O consumo privado deverá crescer 2,1%, o consumo público 0,5%, a FCBF 6,5%, a procura interna 2,7%, enquanto as exportações devem subir 7,2% e as exportações 7,7%.

No mercado laboral as projeções são, contudo, melhores do que as que foram divulgadas em dezembro. O banco central liderado por Carlos Costa prevê agora uma subida de 1,9% no emprego (face aos 1,6% na previsão anterior) e uma descida da taxa de desemprego para 7,3%, comparada com a antevisão anterior de 7,8% e os 8,9% estimados para o final de 2017.

“Progressivo abrandamento”

Apesar do momento favorável, o Banco de Portugal frisa que, ao longo do horizonte de projeção, a economia portuguesa deverá abrandar, traduzindo a desaceleração da procura externa e restrições do lado da oferta, que refletem constrangimentos estruturais a um maior crescimento potencial.

“A progressiva maturação do processo de expansão também é observada a nível agregado na área do euro. Esta evolução é acompanhada por uma aceleração moderada dos preços e dos salários nominais, num quadro de redução gradual das margens disponíveis no mercado de trabalho e na capacidade produtiva”, explica.

O consumo privado deverá continuar a crescer de forma moderada, refletindo a melhoria no mercado de trabalho, a manutenção de níveis de confiança elevados e o crescimento contido dos salários reais, permanecendo condicionado pela necessidade de redução do nível de endividamento das famílias. “Em 2018, refira-se a influência positiva do aumento do salário mínimo e de algumas medidas de aumento do rendimento das famílias incluídas no Orçamento do Estado”.

Em relação à FCBF, a expetativa é de um ritmo de crescimento significativo, embora mais moderado do que em 2017. “Esta dinâmica da FBCF reflete em larga medida o desempenho da componente empresarial. Após um aumento superior a 9% em 2017, a FBCF empresarial deverá manter um crescimento de 6% em média no horizonte de projeção”, sublinha o Banco de Portugal.

Turismo “extraordinário”

A procura externa é outra fonte que irá ser marcada pela desaceleração. O banco central explica que a atividade económica mundial e, em especial, na área do euro deverá abrandar no horizonte de projeção, aproximando-se do respetivo potencial de crescimento, que se estima ser inferior ao observado antes da crise financeira internacional.

Adianta que “os menores ganhos de quota de Portugal nos mercados externos refletem essencialmente a dissipação gradual do impacto do aumento da produção e das exportações de uma importante unidade industrial do setor automóvel no final de 2017 e início de 2018 e do crescimento extraordinário das exportações de turismo e de serviços relacionados com o turismo em 2017”.

“O aumento pronunciado das exportações em 2017 foi parcialmente inesperado, contribuindo em larga medida para o erro na projeção para o crescimento do PIB em 2017 elaborada pelo Banco de Portugal há um ano atrás”, refere.

Tensões externas e fragilidades estruturais internas

No campo dos desafios ao crescimento, o Banco de Portugal salienta que os riscos são ligeiramente elevados no curto prazo associados à possibilidade de um impulso cíclico. No entanto, no médio prazo considera-se a existência de riscos descendentes, havendo a possibilidade de recrudescimento de tensões nos mercados financeiros, de agravamento de tensões geopolíticas a nível internacional e de adoção de medidas protecionistas a nível global.

Os avisos não se limitam, contudo, aos riscos externos. “Em Portugal, persistem fragilidades estruturais que não podem ser ignoradas, traduzindo os vários desafios (demográficos, tecnológicos e institucionais) que se colocam ao potencial de crescimento da economia portuguesa. A sustentação de taxas de crescimento mais elevadas, não só em Portugal mas também na área do euro, está assim dependente de um maior crescimento da produtividade”, conclui o banco central.

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