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Cápsula do Tempo: Nixon chega à China para visita histórica

O presidente dos Estados Unidos queria ‘chamar’ a China para o Ocidente e o encontro com um Mao já muito envelhecido ficou nos anais. Mais de 40 anos depois, o Império do Meio voltou a ser um inimigo dos Estados Unidos.
21 Fevereiro 2017, 07h50

Desde 1949, quando Mao Tsé-Tung chegou ao poder, que a China passou a ser mais um inimigo ‘vermelho’ para o Ocidente. E mesmo quando o antigo Império do Meio acabou por incompatibilizar-se com a União Soviética – Mao considerava que Staline estava a tentar enganá-lo quando lhe prometia o acesso à tecnologia atómica, o que era verdade – a China nunca conseguiu grandes créditos tanto nos Estados Unidos como na Europa.

A visita do então presidente dos Estados Unidos Richard Nixon à China, que se iniciou em 21 de Fevereiro de 1972, era uma tentativa, por um lado, de ser antipático com a URSS (papel a que a China se dava de bom grado) mas, por outro, era também um ‘piscar de olho’ a uma região que tinha infindáveis contingentes de mão-de-obra barata, impensavelmente barata, que em muito poderia contribuir para o engrandecimento das margens de lucros de uma série de bens transaccionáveis ocidentais – então esmagadas pelo crescimento dos direitos dos trabalhadores e por uma concorrência cada vez mais áspera.

Mao, que morreria quatro anos mais tarde e já apresentava sinais claros de velhice, não parecia estar inteiramente satisfeito por receber Nixon no seu país – mas quando o presidente dos Estados Unidos chegou à China, já o incontornável Henry Kissinger e o então primeiro-ministro chinês, Chu En Lai, tinham decidido tudo.

É difícil para os analistas decidirem se a visita teve ou não sucesso. Por um lado, o mercado da mão-de-obra barata abrir-se-ia a várias empresas norte-americanas – proporcionando futuros relatos hediondos sobre trabalho infantil, trabalho escravo e exploração desenfreada; mas a verdade é que, ao contrário do que se passaria com a URSS, a China nunca abandonaria (até hoje) a ditadura do proletariado e, muito surpreendentemente, acabaria por transformar-se num dos motores, se não mesmo ‘o’ motor, da economia mundial.

Mais de 40 anos depois, e numa altura em que nada o fazia prever, a China está outra vez no mesmo sítio: na condição de inimiga dos americanos, desta vez por imposição das regras nem sempre claras do homem que está no lugar de Nixon: Donald Trump.

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