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Carlos Aguiar: “Portugal reposicionou-se na mira dos radares económicos”

O presidente da CCILF aponta potencial de desenvolvimento, mas diz que ainda persistem entraves ao investimento francês.
23 Setembro 2017, 09h00

A relação económica entre França e Portugal intensificou-se nos últimos anos. Porquê?
Quando Portugal realizou as reformas económicas necessárias à saída da crise, o país beneficiou de uma conjuntura internacional favorável. Assim, dispondo de infra-estruturas desenvolvidas, de mão-de-obra qualificada, de custos operacionais competitivos e de um verdadeiro know-how nos setores industrial e têxtil, Portugal reposicionou-se na mira dos radares económicos. Muitas empresas que produziam na Ásia ou nos países do Magrebe mudaram-se para a Europa e nomeadamente para Portugal. É o caso de várias empresas francesas.
O mercado francês é também um mercado relevante para as empresas portuguesas.

Além da relação económica, existe uma relação social e política mais intensa entre os dois países?
Portugal e França são países histórica e culturalmente próximos. Até à data, as relações entre os nossos dois governos têm sido boas, prova disso são as diversas visitas dos respetivos membros do governo em ambos os países. Além disso, a comunidade portuguesa em França é numerosa e desempenha um papel importante na economia. Da mesma forma, cada vez mais franceses escolhem Portugal para se instalarem, não só reformados, mas também profissionais que trazem as suas experiências para o país.

Portugal tem sabido acolher o investimento francês?
Os números falam por si. A França figura no pódio dos países estrangeiros que mais investem em Portugal. Os franceses foram particularmente recetivos às reformas fiscais realizadas com o intuito de incentivar o investimento estrangeiro. Além dessas medidas, devemos salientar também o dinamismo dos municípios que delinearam e implementaram verdadeiras estratégias destinadas a atrair os investidores. Vale a pena também destacar o dinamismo e alto nível de qualificação da mão-de-obra portuguesa.

Quais são os principais constrangimentos detectados?
De acordo com um estudo realizado pelos Conselheiros do Comércio Exterior da França junto das empresas francesas presentes em Portugal, as principais dificuldades prendem-se com as relações com a administração portuguesa, embora muitos procedimentos tenham já sido simplificados. Em seguida, vem o custo da energia que é superior ao de França. Parece também que a mão-de-obra francófona está a tornar-se cada vez mais escassa, o que, a prazo, poderá suscitar alguns problemas para as empresas que desejam implantar-se.

Que tipo de investimento é feito e em que sectores?
Os investimentos surgem em diversos setores. Primeiro, no setor imobiliário onde a quota-parte de investidores franceses está em constante progressão desde há 3 anos. Hoje, cerca de 4 transações imobiliárias em 10 são realizadas por franceses. O setor dos serviços também está em forte progressão nomeadamente com a implantação de centros de serviços partilhados principalmente na região de Lisboa e na região Norte de Portugal. Por fim, o setor industrial demonstra sinais de retoma com investimentos no setor automóvel, aeronáutico e têxtil. É importante salientar também que as empresas francesas presentes em Portugal desde há alguns anos lançaram planos de investimentos consequentes testemunho da sua confiança na retoma económica em curso.

As empresas portuguesas também procuram a CCILF como apoio à criação ou fortalecimento de relações com empresas francesas?
A CCILF é uma Câmara de comércio bilateral. Nesse âmbito, apoiamos as empresas portuguesas que pretendem desenvolver relações de negócios no mercado francês. Para tal, organizamos regularmente seminários sectoriais de negócios destinados a facilitar as relações entre empresas dos dois países e tendo como finalidade a criação de parcerias comerciais. Estas acções contam com a valiosa cooperação da AICEP. Para as empresas portuguesas que pretendem fazer prospeção no mercado francês, contamos com a nossa rede de Câmaras de Comércio implantadas em todo o território francês. Organizamos também com frequência missões cujo objetivo é auxiliar as empresas portuguesas na procura de agentes comerciais em França.

Qual é a expectativa que a CCILF tem para a evolução da economia portuguesa em 2018?
A CCILF mantem-se prudente, apesar da atmosfera otimista atual, no entanto, constatamos os bons resultados da economia. Esta tendência deverá manter-se no ano que vem a julgar pelos projetos de investimento franceses em curso e previstos. A decisão recente da agência Standard and Poor’s em subir a nota de Portugal deverá também contribuir para reforçar a confiança dos investidores.

Quais são os principais constrangimentos a esse desenvolvimento?
Não podemos ignorar o peso da dívida do país que se mantem como uma das mais elevadas entre os países europeus. Da mesma forma, apesar da aparente consolidação do setor bancário, este último mantem-se frágil o que representa um fator de risco para a economia portuguesa. Por fim, como já referi, a escassez quanto à mão de obra francófona poderá a prazo representar um entrave aos projetos de investimento franceses em Portugal.

Como tem evoluído a CCILF em números de associados e em iniciativas organizadas?
A CCILF que é, sem dúvida, uma das principais referências para as empresas francesas na sua chegada a Portugal, segue essa tendência favorável. Adaptamos a nossa oferta, logo na fase inicial da retoma. Somos hoje capazes de acompanhar os projetos de desenvolvimento das empresas desde a fase inicial até à implantação definitiva. O nosso programa de ação é pensado para responder da melhor forma às expectativas das empresas. Para tal, organizamos seminários e fóruns de negócios em Lisboa e no Porto que permitem às empresas francesas realizar os seus projetos nas melhores condições. Neste contexto, o número de sócios tem vindo a aumentar progressivamente, atingindo aproximadamente os 600 e tornando a CCILF a maior rede de negócios francesa em Portugal.

Como tem sido a evolução dos troféus da CCILF?
Para esta 24ª edição, as 15 empresas nomeadas acabam de ser designadas por um júri composto pelos representantes da AICEP, do IAPMEI, do BCSD, pelos Conselheiros do Comércio Exterior, empresas e parceiros do evento. O júri recebeu este ano perto de 40 dossiês de candidatura. Com o passar dos anos, esta cerimónia tem-se imposto como um dos eventos incontornáveis para a comunidade de negócios luso-francesa contribuindo para a valorização das empresas que fazem negócios entre estes dois países. Este ano, a cerimónia será presidida pelo Senhor Ministro da Economia, Dr. Manuel Caldeira Cabral e pelo Senhor Jean Michel Casa, Embaixador de França em Portugal.

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