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Crescimento robusto vai manter yields em rota de descida em 2018

A J.P. Morgan já estava a apostar em Portugal antes do upgrade da notação da República pela Standard & Poor’s. A gestora de ativos continua positiva em relação à economia nacional, que poderá beneficiar de melhorias no rating pelas restantes agências.
Cristina Bernardo
22 Novembro 2017, 07h25

As yields das obrigações portuguesas a 10 anos desceram até aos 2%. Esta tendência vai manter-se em 2018?
Acreditamos que a descida nas yields portuguesas vai continuar, portanto estamos positivos em relação às obrigações do Governo português. O que vemos é uma dinâmica de crescimento robusta, que acreditamos vai continuar a levar as yields para baixo. Obviamente, começámos a ver isso no início deste outono com o upgrade do rating de Portugal, que resultou do crescimento económico. Na realidade, aumentámos a exposição antes do upgrade pela Standard and Poor’s, o que trouxe benefícios significativos às yields e que deve continuar a trazer no futuro.

Sobre o rating português, acredita que a Fitch e a Moody’s também vão fazer upgrades?
Não posso comentar o que vão fazer, mas tipicamente as agências de rating tendem a ser um pouco mais atrasadas e já vemos um crescimento robusto. Por isso, acreditamos que os racionais existem e, obviamente, essas agências já têm outlooks positivos portanto poderá acontecer, sim.

Que outros fatores vão ter impacto nas yields portuguesas em 2018?
Para onde estamos a olhar – de forma mais alargada e não só em relação a Portugal – é para o que se passa no Banco Central Europeu (BCE) e nos bancos centrais globalmente. Penso que é importante observar o que acontecer aí. No entanto, o impacto direto para Portugal será menor. A Alemanha tem sido o maior beneficiário do Quantitative Easing (QE) na Europa e, como resultado, vai provavelmente ser o país que vai sofrer o maior impacto negativo da remoção do QE na Europa. É por essa razão que estamos cautelosos em relação a obrigações governamentais europeias e o que quero dizer é Europa core, ou seja, principalmente Alemanha.

Mas países do sul da Europa, como Portugal, estavam em maiores dificuldades…
Em termos de bond yields, sim. Nós estamos mais focados na quantidade de compra de ativos e emissões a taxas negativas. Porque o BCE tem comprado principalmente ativos da Alemanha devido à dimensão do mercado de obrigações.

Quais são as expetativas em relação à diminuição da compra de ativos pelo BCE?
Como o BCE anunciou há algumas semanas, vão começar o tapering em janeiro, durante nove meses a um ritmo menor, mas deixaram claro que podem aumentar as compras além desse horizonte. Por isso, consideramos que há uma boa hipótese de continuem a diminuir, depois de comprarem 30 mil milhões de euros mensais até setembro do próximo ano. Talvez decidam reduzir para 15 mil milhões de euros, ou algo próximo, por mais alguns meses. A acontecer alguma coisa, será uma extensão do programa de compra de obrigações, em vez de um adiantamento. Assim, acreditamos que não vamos ver uma subida das taxas de juro na Europa por algum tempo.

Como é avalia as obrigações portuguesas face aos restantes países europeus?
Estamos positivos sobre Portugal e também sobre Itália, que é outro país que gostamos pelas mesmas razões. A S&P fez um upgrade a Itália pela primeira vez em mais de 20 anos e a razão foi muito interessante: foi por causa do crescimento, o que é semelhante a Portugal. Vemos as fortes dinâmicas de crescimento a serem reconhecidas pelas agências de rating e consideramos que poderão continuar a suportar as yields tanto em Portugal como em Itália. Em Espanha, a situação é diferente. Fechámos recentemente a nossa posição no país por causa do risco geopolítico. Ainda não teve muito impacto no mercado de obrigações, mas vemos melhores oportunidades noutros sítios. Estas questões estão focadas numa parte muito pequena da Europa, o mercado de obrigações é gigante e olhamos de forma mais alargada. Não nos podemos focar simplesmente no sul da Europa, só em Espanha, Portugal ou Itália. Olhamos para os EUA, para os mercados emergentes, mas também para obrigações governamentais, obrigações empresariais, etc. Olhamos para todas estas oportunidades de investimento.

Quais são os principais riscos para a Europa em 2018?
O que tem suportado mais a Europa tem sido a posição muito acomodatícia do banco central. Portanto, o principal risco é o BCE deixar de ser acomodatício. Eles sinalizaram-nos que vão continuar a sê-lo nos próximos anos. O que poderá mudar isso é uma inflação muito elevada na Europa. A inflação tem estado baixa e essa é uma das razões para continuarem a ser muito acomodatícios, mas se a inflação de repente tiver um pico na Europa, é mais provável que o banco central abandone essas políticas acomodatícias mais depressa e isso pode ser um risco para o mercado de obrigações.

Qual é o vosso outlook para a inflação europeia?
Acreditamos que a inflação cíclica vai começar a subir nos países desenvolvidos. Os EUA são exemplo disso, mas também a Europa. No início do outono, começámos a ver alguns sinais disso na Alemanha, onde começámos a ver inflação salarial. Sendo uma dinâmica semelhante, acreditamos que a inflação cíclica vai começar a subir, mas em termos estruturais vai continuar baixa.

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