A Comissão Europeia divulgou as estimativas do PIB per capita em paridade de poder de compra dos 28 Estados-membros face à média da UE. Ora, as notícias não são animadoras para o nosso país. Entre 1999 e 2017, Portugal caiu do 16.º para o 20.º lugar neste indicador de desenvolvimento.

O PIB per capita português representava 72% da média da UE em 1999, fixando-se em 71,1% no ano passado. Para 2017, é esperada uma ligeira subida, 71,8%, e no ano seguinte novo crescimento, desta feita para 72,3%. Ou seja, Portugal está há quase duas décadas sem convergir com os restantes países da UE e, comparativamente, encontra-se hoje mais pobre do que em 1999. Para agravar o cenário, os Estados-membros com um PIB per capita inferior ao português apresentam, em muitos casos, perspetivas de crescimento mais otimistas. Polónia, Hungria ou Roménia, por exemplo, deverão crescer, em 2017, acima dos 3%. Já Portugal ficará, este ano, por um crescimento abaixo dos 2%.

Estes números devem fazer-nos refletir sobre a estratégia de crescimento do país, no contexto de uma UE menos solidária e coesa. Vem aí uma Europa a várias velocidades, o que exige de Portugal um esforço acrescido para estar entre os países da linha da frente do projeto comunitário. Sem uma economia competitiva e finanças públicas compatíveis com as exigências do euro, o nosso país será um eterno periférico na UE e manter-se-á, por isso, longe dos centros de decisão europeus.

Mais do que o impacto do euro na nossa economia, creio que o grande erro de Portugal foi ter privilegiado um modelo de crescimento baseado na procura. A prevalência dos setores de bens não transacionáveis, alimentados pelo crédito fácil e por políticas públicas expansionistas, retirou competitividade à nossa economia, agravou o nosso défice externo e condicionou o investimento privado. As dificuldades decorrentes do ajustamento imposto pela troika levaram o Estado a emagrecer e a ser mais parcimonioso, ao mesmo tempo que as famílias aumentaram as suas poupanças e as empresas começaram a exportar mais. Mas continua a existir um grande risco de reincidirmos nos erros do passado recente.

O Estado deve continuar a reduzir a despesa e a agilizar a estrutura administrativa, sem pôr em causa as suas funções essenciais. Isto numa altura em que, no centro do debate político, voltam a estar a integração de mais funcionários públicos e a promoção nas carreiras do Estado. É fundamental que o Governo seja ponderado nestas matérias, como parece estar a ser, de modo a evitar que o Estado continue a ter um peso insustentável na nossa economia.

É importante também que a taxa de poupança das famílias recupere, contrariando a tentação de consumo de bens duradouros alavancado pela queda dos juros pagos aos bancos. Embora a confiança das famílias seja favorável à economia, os portugueses devem estar conscientes de que o ajustamento ainda não terminou e de que o país tem de enfrentar grandes desafios no futuro próximo, desde logo para reduzir os custos da dívida e se financiar no exterior.

Por fim, às empresas é exigida uma orientação mais decidida para os mercados externos e para a internacionalização das suas atividades. Isto pressupõe, a meu ver, uma diversificação dos mercados de destino das exportações, acompanhada de uma valorização de bens e serviços (mais inovação, tecnologia, design, marca, etc.).

A cauda da Europa não tem de ser uma fatalidade para o nosso país, desde que saibamos coletivamente evitar os erros do passado e definir uma estratégia de crescimento económico sustentável, não baseada em ciclos governativos.