Os bancos portugueses reduziram no primeiro semestre deste ano o crédito malparado em quatro mil milhões de euros, o equivalente a 8,8%, segundo dados divulgados pela Associação Portuguesa de Bancos (APB) nesta quarta-feira.
No final de junho, o valor bruto do crédito improdutivo (Non Performing Loans – NPL) no balanço dos bancos era de 42.262 milhões de euros, abaixo dos 46.361 milhões do final de 2016 (menos 4 mil milhões de euros em seis meses).
Sendo que o NPL bruto, para a APB, considera para todos os bancos os empréstimos que verifiquem uma das seguintes condições: exposições significativas com prestações vencidos há pelo menos 90 dias; considerar-se improvável que o devedor cumpra integralmente com as sua obrigações sem a realização de eventuais garantias; ativos com imparidade, exceto imparidade por perdas incorridas mas das quais a instituição ainda não teve conhecimento (IBNR – Incurred But Not Reported); e crédito em incumprimento de acordo com o conceito prudencial definido no CRR – Capital Requirements Regulations.
O stock de malparado no crédito à habitação caiu de 7.929 milhões de euros em dezembro para 7.232 milhões de euros em junho deste ano; o crédito ao consumo variou de 1.830 milhões para 1.660 milhões de euros no mesmo período. Finalmente o crédito a empresas caiu de 30.160 milhões para 27.225 milhões de euros em seis meses.
Os números apresentados dizem respeito à totalidade do sector bancário nacional – e não apenas aos bancos associados da APB – tendo por base, nomeadamente, dados do Banco de Portugal.
Já o crédito malparado líquido de imparidades era de 22.864 milhões, neste caso menos 2.495 milhões do que no final de 2016, o equivalente neste caso a uma redução de 9,8%.
Neste indicador o NPL líquido caiu quer na habitação (de 6.205 milhões em dezembro para 5.648 milhões em junho); no crédito ao consumo (caiu apenas ligeiramente de 0,573 milhões para 0,480 milhões) e no crédito às empresas (de 15.412 milhões para 13.830 milhões de euros).
Quanto ao rácio de crédito malparado em percentagem do total da carteira, esse era de 15,5% em junho no total dos bancos, abaixo dos 17,2% em dezembro passado refere a Síntese de Indicadores do Setor Bancário. No crédito a empresas é onde a percentagem de malparado é maior (27,5%), ainda assim abaixo de dezembro (29,5%). De salientar que este peso de malparado no crédito a empresas tinha-se agravado em 2016 face a 2015.
Quando se olha para o rácio de cobertura é que o caso muda de figura. Os bancos dos sistema têm um rácio de cobertura de NPL de apenas 45,9%, sendo que no crédito à habitação é de 21,9% o rácio de cobertura (o que é facilmente explicitado pela existência de hipoteca), no crédito ao consumo o rácio de cobertura é de 71,1% e o crédito a empresas têm um rácio de cobertura que não chega a 50% (49,2%). Todas as classes de crédito aumentaram ligeiramente o rácio de cobertura face a dezembro de 2016.
Capital próprio sobe 21,6% em seis meses
Mas o que é mesmo notório é o aumento do capital próprio nos bancos, que somou 36.370 milhões de euros um acréscimo de 21,6% face a dezembro de 2016 que só tinha tido paralelo em 2012, altura em que os bancos, por via de uma regra da EBA – Autoridade Bancária Europeia que forçou à avaliação das obrigações soberanas ao preço de mercado, viram-se a braços com fortes descidas dos rácios de capital e tiveram de recorrer à ajuda do Estado através de um empréstimo em CoCo´s. Nesse ano o reforço dos capitais próprios foi de 23,7% face a 2011.
O rácio de core tier 1 subiu de 11,4% em dezembro para 13,2% em junho. Já o rácio de capital global fixou-se em 14,4% em junho o que compra com 12,2% em dezembro.
Quanto a outros dados, a APB deu hoje também conta da redução dos empréstimos totais concedidos pelos bancos para 230.786 no final de junho (-1,5% face a dezembro)
Já os depósitos subiram 3,1% no primeiro semestre para 246.858 milhões.
Destaque ainda para a redução (melhoria) do rácio de transformação de depósitos em crédito; e aumento do rácio de cobertura de liquidez de 153,6% em dezembro para 184,8% em junho.
O resultados líquido dos bancos melhorou significativamente, mas a razão é porque 2016 levou com os prejuízos de 1.859 milhões de euros, por conta do aumento colossal das imparidades. Os resultados do setor em 2016 eram de -1.249 milhões e nos primeiros seis meses do ano somaram 183 milhões.
A queda da margem financeira em dezembro era de 5.886 milhões de euros, e nos primeiros seis meses já soma 3.068 milhões. As comissões em dezembro eram de 2.714 milhões e em junho estão já nos 1.388 milhões. O total do produto bancário era em dezembro de 9.470 milhões e em junho totaliza 4.822 milhões. A margem financeira aumentou ligeiramente o peso no produto bancário em junho face a dezembro (de 62,2% para 63,6%).
A má notícia é que o rácio de eficiência piorou. O Cost-To-Income subiu de 59,2% para 60,5%.
Já as imparidades para crédito e outros ativos pesa no produto bancário 23% em junho, menos de metade do que pesava em dezembro (67,1%), influenciado claro pelo volume de imparidades da CGD.
A rentabilidade não sai da cepa torta. O ROE (return-on-equity) em dezembro era de -7,3% (mais uma vez influenciado pelas perdas da CGD e em junho está positivo mas nos 3,9% (que é ligeiramente melhor que o registado em 2015 (sem o caso extraordinário da CGD em 2016) que foi de 2,1%.
O objetivo desta síntese é o de acompanhar o desempenho do sector desde o eclodir da crise financeira, passando pela crise da dívida soberana, até ao momento atual, através de um conjunto de indicadores considerados particularmente relevantes.
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