A travessia do deserto do Partido Popular (PP) espanhol desde que foi afastado do governo pela moção de censura construtiva do PSOE continua a acumular dificuldades, com o próprio líder que substituiu Mariano Rajoy a estar no centro das atenções. O problema – que tem afetado uma série de políticos em várias geografias, Portugal e Itália incluídos – é o facto de o seu currículo misturar atividade e fábula.
A investigação a um mestrado de Pablo Casado está a caminho do Supremo Tribunal espanhol. Uma juíza de um tribunal de Madrid, Carmen Rodríguez-Medel, decidiu transferir para o Supremo “indícios de responsabilidade criminal” na obtenção por parte do líder conservador do título académico no Instituto de Direito Público (IDP) da Universidade Rei Juan Carlos. Afinal, a mesma instituição que esteve por trás de um problema semelhante que atingiu Cristina Cifuentes, outra dirigente do PP que perdeu a presidência do governo da comunidade de Madrid por causa dele.
De acordo com a juíza, há fortes indícios de que o mestrado era usado “como um presente ou prebenda” a alunos “com uma posição de liderança na política, institucional ou que tinham estreitos laços de amizade ou de natureza profissional” com Enrique Álvarez Conde, professor na universidade e principal implicado na trama.
A juíza suspeita que Casado tenha cometido um crime de prevaricação administrativa e outro de suborno, insistindo que o líder do PP teve uma participação “ativa” na rede de Enrique Álvarez para obter o seu título, ao entregar documentação para obter o diploma.
A magistrada assinala a existência de um grupo de alunos privilegiados, que usufruíam de assinaláveis facilidades – como equivalências e dispensas das aulas – para obterem os seus diplomas, facilidades essas que não seriam do conhecimento generalizado.
Até agora, o PP tentou minimizar o caso. E Casado não quis dar mais explicações, apesar de já haver suspeitas de irregularidades na altura em que venceu as primárias do partido há menos de um mês e substituiu Rajoy, e que vieram a acumular-se desde então.
“É uma questão anedótica e menor” disse Teodoro Garcia, o novo secretário-geral do PP, citado pelo jornal ‘El Pais’. “O presidente do PP é rigoroso, trabalhador e honesto. No final não vai acontecer nada”, acrescentou em declarações na semana passada, antes de garantir que o caso era uma campanha para “manchar a imagem” do líder da oposição.
A entrada do processo no Supremo ‘atira-o’ para um patamar a que Casado já não poderá fugir – e as alegações de que se trata de uma campanha deixam de fazer sentido ou, pelo menos, não podem ser escamoteadas. O caso de Cifuentes foi na altura muito semelhante: o partido tentou desdramatizar, até ao ponto em que a antiga governadora deixou de ter condições políticas para se manter no cargo, face à pressão da oposição e da opinião pública.
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