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Fed foca em estímulos (o fim dos monetários e o início dos de Trump). Taxas podem esperar até junho

Os analistas esperam que a próxima subida de taxas pela Reserva Federal norte-americana aconteça somente em junho. Na reunião de dois dias que termina esta quarta-feira o foco deverá estar na fim do estímulos, incluindo a redução da folha de balanço. E mais um fator disruptivo: Donald Trump.
REUTERS/Yuri Gripas
3 Maio 2017, 07h10

Desta vez não é sobre decisões, mas sobre sinais. A taxa de juro de referência não deverá subir novamente já este mês, mas os analistas estarão atentos ao comunicado da Reserva Federal norte-americana esta quarta-feira para descortinar eventuais pistas sobre uma consolidação de mudanças na política monetária dos EUA. O foco do resultado da reunião de dois dias do Federal Open Market Committee (FOMC) estará, por isso, na folha de balanços.

A taxa de juro indicadora, a federal funds rate, deverá manter-se entre 0,75% e 1%, após a subida de 25 pontos base em março, segundo a previsão dos economistas consultados pela Reuters. Uma nova subida só deverá acontecer em junho, sendo que estão previstos mais dois aumentos até ao final do ano e há poucas hipóteses de uma revisão da estratégia. “A fasquia para perturbar os planos da Fed está agora mais alta do que nos últimos anos”, explicou o economista chefe do Barclays, Michael Gapen, referindo que há menos possibilidades de a previsão da Fed se alterar.

Apesar disso, Donald Trump poderá ser um fator disruptivo. O secretário de Estado do Tesouro norte-americano anunciou na semana passada “a maior reforma fiscal e o maior corte de impostos” da história do país. A medida consiste num corte fiscal para o imposto das empresas equivalente ao IRC, de 39,6% para 15% e vai custar ao Estado norte-americano cerca de 2,2 biliões de dólares ao longo de uma década.

O FOMC terá de avaliar as políticas da administração norte-americana no que diz respeito a impostos, despesa pública e regulamentação. Se aprovadas pelo Congresso, as políticas podem estimular a economia e levar a uma revisão do número de subidas nas taxas de juro.

Além das políticas de Trump, os 12 membros do comité têm novos dados económicos para considerar este mês. O crescimento económico dos EUA não foi além de 0,7% no primeiro trimestre, enquanto o consumo se manteve estável. Por outro lado, o investimento subiu para os níveis mais altos em uma década e o desemprego caiu para 4,5%, o valor mais baixo em quase 10 anos.

Fim do reinvestimento em cima da mesa

“Não vão haver grandes mudanças de política”, acredita o economista sénior da Wells Fargo Securities, Sam Bullard. “Considero que vão desvalorizar um pouco os dados do primeiro trimestre e focar-se mais no mercado laboral”. Assim, os analistas vão estar a olhar para mudanças no discurso que dêem sinais sobre o futuro, em especial sobre a política acomodatícia e a possível redução da folha de balanço.

Em março, a presidente Janet Yellen explicou apenas que a política monetária se mantinha acomodatícia, mas as minutas divulgadas posteriormente mostraram que os membros discutiram uma inversão da postura do banco central dos EUA ainda este ano. O comité defendeu a adoção de uma política menos acomodatícia sendo que “a maioria dos participantes antecipou a continuação de aumentos graduais da federal funds rate e avalia como apropriada uma mudança na política de reinvestimento do comité ainda este ano”.

Depois do fim do programa de compra de ativos, a Fed continuou a reinvestir os juros, uma estratégia que o FOMC deverá voltar discutir, apesar de ser pouco provável que anuncie alterações já esta quarta-feira.

Os membros do comité aconselharam uma eliminação gradual ou cessação da compra de títulos do Tesouro, bem como obrigações hipotecárias ao mesmo tempo. A redução da folha de balança da Fed deverá ser feita de forma gradual e previsível por forma a acautelar um choque na economia causado pelo fim dos estímulos.

No último encontro do FOMC, a 15 de março, quase todos os membros consideraram que a economia dos EUA está já próxima do pleno emprego e que a inflação subjacente não está ainda estabilizada no objetivo dos 2%, de acordo com as as minutas da reunião. Não houve, no entanto, concordância sobre o risco da subida dos preços e os membros do comité dividiram-se sobre se a inflação irá ultrapassar a meta ou não, o que poderá comportar um risco.

O comunicado da Reserva Federal será emitido às 19 horas (em Lisboa), sem conferência de imprensa de Janet Yellen. As minutas da reunião serão divulgadas a 24 de maio.

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