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Franceses em Portugal: “Rezo para que Le Pen não ganhe”

O representante eleito dos franceses em Portugal e professor de economia no Liceu Francês, donos de empresas e a líder de uma associação revelam ao Jornal Económico qual dos candidatos preferem nas eleições presidenciais.
Cristina Bernardo
7 Maio 2017, 11h50

Filha de emigrantes açorianos, Véronique Laranjo nasceu em Tours (cidade no centro de França) e aí ficou até se mudar para Londres e, mais tarde, para Paris, onde trabalhou com as marcas de luxo Prada e Marc Jacobs. Proprietária de uma ‘boutique’ junto ao Largo do Carmo em Lisboa, chegou a Portugal há sete anos. “Decidi voltar às minhas raízes. Fiz um estudo de mercado, vendi o meu apartamento e consegui o dinheiro necessário para começar esta aventura”, diz a empresária, de 43 anos, ao Jornal Económico.

Véronique vai cerca de quatro vezes por ano a França para ver a família, os amigos e as novas coleções de roupa. Em Lisboa “adora o clima e a proximidade entre as pessoas”. Em Paris prefere “a história e a cultura”.

Sobre as eleições presidenciais não tem dúvidas: “Rezo para que Marine Le Pen não ganhe. Ela diz que defende as mulheres mas sempre votou contra as medidas que melhoravam a vida das mulheres”, explica. Sobre Emmanuel Macron destaca algumas das medidas do candidato centrista. “Quer melhorar a educação das pessoas mais desfavorecidas, impedir os políticos de darem empregos a familiares ou criar milhares de empregos para forças policiais. É um político bastante novo e, portanto, acredito que consiga fazer algumas coisas que prometeu.”

Jean Claude Ribot, um francês de 61 anos, é o dono de um estabelecimento de estética canina na Avenida Almirante Reis. Há dez anos deixou a cidade de Versalhes porque se apaixonou por uma portuguesa. Funcionário de uma cadeia de retalho francês decidiu criar o negócio, após um curso em Paris.
A paixão pela portuguesa teve altos e baixos mas loja vai de vento em popa, com mais de mil clientes. “Esta é uma zona muito concorrida”, explica, ao mesmo tempo que penteia o cão com uma enorme destreza. Em cima da bancada estão tesouras, lâminas, pentes, escovas e até perfume. “Aprendi a falar português a ler e a ouvir televisão.”

No próximo domingo Jean Claude vai votar Macron apesar de “não gostar muito do candidato centrista”. Na primeira volta votou em Mélenchon. “Na minha opinião Marine Le Pen é igual ao pai [Jean-Marie Le Pen]. Se sairmos da Europa o que vamos fazer?”

Este francês mostra-se ainda preocupado pela elevada taxa de desemprego em França e não acredita que Macron faça a diferença nessa área. Além disso, alerta para outro problema: “Nas eleições legislativas de junho o movimento En Marche!, de Macron, é outra grande incógnita”. À beira da reforma, Ribot quer passar metade do ano em Portugal, para aproveitar o bom tempo, e a outra metade em França.

Comunidade pode chegar aos 30 mil habitantes
A comunidade francesa em Portugal conta com cerca de 16.500 inscritos nos registos da secção consular, e estima-se que o número de não-inscritos seja cerca de 30 mil pessoas. É uma população com um nível socio-profissionnal elevado. Mais de metade dos inscritos trabalham no sector terciário, onde as mulheres são tão numerosas como os homens. A maioria dos franceses está fixada em Lisboa e no Porto. No Sul do país vivem cerca de mil.

Numa entrevista recente à RTP, o embaixador francês considera que Portugal é o “país da moda” em França. Jean-Michel Casa sublinhou ainda o papel das empresas francesas em Portugal, notando que não se foram embora com a crise e investiram em algumas das privatizações. “Portugal está na moda porque merece. É um país bonito e Lisboa é uma das mais belas capitais da Europa, sempre o foi”. O número de eleitores inscritos também aumentou quase 40% desde as eleições de 2012.

Mehdi Benlahcen, representante eleito dos franceses em Portugal, e professor de economia no Liceu Francês, nasceu em Toulouse e chegou a Portugal em agosto de 2008 para dar aulas. Agora tem também a missão de ajudar os compatriotas a instalarem-se no país e a ultrapassarem problemas de desemprego, por exemplo. Aliás, este é um dos temas mais discutido na sociedade francesa. “O desemprego em França está a baixar mas ainda é alto. E o crescimento tem aumentado a um ritmo lento”, explica o professor.

Para o representante da comunidade, de 39 anos, “Macron será o próximo presidente” embora haja a grande dúvida nas eleições legislativas de junho. O líder do movimento En Marche! precisará de um primeiro-ministro da sua confiança e de um parlamento que esteja com ele.
Segundo Benlahcen uma das prioridades do candidato vencedor deve ser o estímulo ao consumo através “da manutenção do rendimento mínimo”, “aumento de salários na função pública” e “criação de emprego”. “Em França o nível dos impostos é alto e muitos empregadores optam por vir para Portugal”, acrescenta.

Franceses na Senhora do Monte
Alexandra Le Falher, fundadora da empresa Lisbonne Collection (que se dedica ao arrendamento de apartamentos para turistas) e mentora da associação Entreprendre.pt chegou há nove anos a Lisboa. Adora a parte histórica da cidade, os bairros mais familiares e a vista sobre a cidade. Aliás, a empresa de Alexandra, de 41 anos, natural dos arredores de Paris, fica a poucos metros do miradouro da Senhora do Monte.

Por estar situado no ponto mais alto do Bairro da Graça, é um dos locais com melhor vista panorâmica da cidade, especialmente sobre a Mouraria e o Castelo de São Jorge. A paisagem, o clima e os pitorescos bairros históricos são razões suficientes para se manter em Portugal com o marido e os dois filhos e ajudar mais franceses a instalaram-se no país.
Na Entreprendre.pt, que conta com cerca de 70 membros francófonos e de diferentes áreas (restauração, comunicação, ‘coaching’, ‘startup’, entre outras) promovem-se vários eventos: juntam-se uma vez por mês para serem apresentados os novos membros e discutir projetos. “E fazemos trimestralmente uma conferência com um profissional sobre assuntos atuais, como a legislação jurídica ou laboral”, acrescenta.

A associação ajuda também quem deseja montar um negócio em Portugal.
“A França está a crescer pouco e a dinâmica empresarial de Portugal é muito boa. Lisboa é uma grande capital europeia. Os portugueses têm enorme potencial em tecnologias ou serviços”, explica. Em relação às eleições do país onde nasceu está “completamente contra Marine Le Pen” e vai “votar Macron”. “O novo presidente precisa de recriar a união dos franceses em torno de um  projeto comum. A França tem todas as condições para melhorar mas falta uma mentalidade positiva”, conta.
No Miradouro da Senhora do Monte os turistas (muitos deles franceses) apreciam a vista e tiram fotografias. Meia dúzia de ‘tuk tuk’ aguardam pacientemente por eles. O tempo parou e ninguém quer arrancar. Afinal de contas, não é todos os dias que se pode assistir ao pôr do sol sobre o rio Tejo, naquele que é considerado um “balcão” privilegiado sobre a cidade. l

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