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Grupo francês reconhece que financiava EI para poder manter fábrica na Síria

Antigo acionista do grupo recebia de 80 mil dólares a 100 mil dólares por mês para negociar com grupos que estabeleciam controlos armados e colocavam em perigo a atividade da Lafarge Cement Syria em Jalabiya.
20 Setembro 2017, 20h49

O grupo francês de cimentos Lafarge, agora fundido com o Holcim, reconhece que pagou cerca de 20 mil euros ao Estado Islâmico (EI), bem como diversas quantias a outras organizações armadas, sob forma de extorsão, para poder manter a atividade na fábrica de Jalabiya, na Síria, em plena guerra.

Os dados foram revelados esta quarta-feira pelo jornal Le Monde e a revista Le Canard Enchaîné, de acordo com declarações de alguns diretores da empresa, em particular da filial Lafarge Cement Syria (LCS), à justiça francesa, que abriu uma investigação em outubro do ano passado.

Os investigadores não só chegaram à conclusão de que a companhia financiou “indiretamente” grupos terroristas mediante a elaboração de documentos de contabilidade falsificados, mas também que provavelmente tal foi encoberto por alguns superiores, em particular o que era presidente do grupo, Bruno Lafont, disseram três diretores.

A decisão de manter a atividade em Jalabiya entre 2011 e 2014, apesar dos riscos em pleno conflito, recebeu a autorização das autoridades francesas, com as quais a Lafarge manteve encontros regulares sobre a questão, segundo os meios de comunicação franceses.

As reportagens também revelam que os responsáveis pela fábrica – em operação desde o final de 2010- omitiram dos diplomatas que era feito mediante o pagamento de centenas de milhares de dólares a diferentes grupos armados, alguns catalogados como terroristas (em particular o EI), para que permitissem o seu funcionamento.

A situação deteriorou-se com o avanço da guerra e, segundo o diretor até junho de 2014, Bruno Pescheux, no verão de 2012 foram retirados do país os trabalhadores estrangeiros. Foi, também, pedido a alguns empregados que não comparecessem ao trabalho por razões de segurança devido às suas crenças.

O responsável da LCS afirmou que a ideia era “preservar as integridade do local, fazendo-o funcionar, ainda que fosse de forma descontinuada”, para manter a presença da empresa, com a perspectiva das necessidades de reconstrução do país.

No entanto, a partir de setembro/outubro desse ano, perante a exigência de comissões por parte de grupos armados presentes na região, foi colocado em funcionamento um dispositivo criado por um antigo acionista do grupo, Firas Tlass, filho de um ex-ministro de Defesa do presidente sírio, Bashar Al-Assad, que tinha passado à oposição.

Tlass recebia de 80 mil dólares a 100 mil dólares por mês para negociar com grupos que estabeleciam controlos armados e colocavam em perigo a atividade da LCS em Jalabiya. Em outubro de 2012, nove empregados que deixado de trabalhar na fábrica pouco antes, foram sequestrados quando foram cobrar dívidas e a Lafarge pagou às milícias locais o equivalente a 200 mil euros pela sua liberdade.

Em junho de 2013, o Estado Islâmico assumiu o controlo da cidade de Raqqa, a 87 quilômetros, e depois de meses a organização terrorista passou a fazer parte dos que extorquíam a empresa. O diretor local da LCS reconheceu que o nome do EI apareceu em alguns documentos.

Questionado sobreo valor pago por mês ao grupo terrorista, Pescheux respondeu que eram “cerca de 20 mil euros por mês”.

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