O grupo francês de cimentos Lafarge, agora fundido com o Holcim, reconhece que pagou cerca de 20 mil euros ao Estado Islâmico (EI), bem como diversas quantias a outras organizações armadas, sob forma de extorsão, para poder manter a atividade na fábrica de Jalabiya, na Síria, em plena guerra.
Os dados foram revelados esta quarta-feira pelo jornal Le Monde e a revista Le Canard Enchaîné, de acordo com declarações de alguns diretores da empresa, em particular da filial Lafarge Cement Syria (LCS), à justiça francesa, que abriu uma investigação em outubro do ano passado.
Os investigadores não só chegaram à conclusão de que a companhia financiou “indiretamente” grupos terroristas mediante a elaboração de documentos de contabilidade falsificados, mas também que provavelmente tal foi encoberto por alguns superiores, em particular o que era presidente do grupo, Bruno Lafont, disseram três diretores.
A decisão de manter a atividade em Jalabiya entre 2011 e 2014, apesar dos riscos em pleno conflito, recebeu a autorização das autoridades francesas, com as quais a Lafarge manteve encontros regulares sobre a questão, segundo os meios de comunicação franceses.
As reportagens também revelam que os responsáveis pela fábrica – em operação desde o final de 2010- omitiram dos diplomatas que era feito mediante o pagamento de centenas de milhares de dólares a diferentes grupos armados, alguns catalogados como terroristas (em particular o EI), para que permitissem o seu funcionamento.
A situação deteriorou-se com o avanço da guerra e, segundo o diretor até junho de 2014, Bruno Pescheux, no verão de 2012 foram retirados do país os trabalhadores estrangeiros. Foi, também, pedido a alguns empregados que não comparecessem ao trabalho por razões de segurança devido às suas crenças.
O responsável da LCS afirmou que a ideia era “preservar as integridade do local, fazendo-o funcionar, ainda que fosse de forma descontinuada”, para manter a presença da empresa, com a perspectiva das necessidades de reconstrução do país.
No entanto, a partir de setembro/outubro desse ano, perante a exigência de comissões por parte de grupos armados presentes na região, foi colocado em funcionamento um dispositivo criado por um antigo acionista do grupo, Firas Tlass, filho de um ex-ministro de Defesa do presidente sírio, Bashar Al-Assad, que tinha passado à oposição.
Tlass recebia de 80 mil dólares a 100 mil dólares por mês para negociar com grupos que estabeleciam controlos armados e colocavam em perigo a atividade da LCS em Jalabiya. Em outubro de 2012, nove empregados que deixado de trabalhar na fábrica pouco antes, foram sequestrados quando foram cobrar dívidas e a Lafarge pagou às milícias locais o equivalente a 200 mil euros pela sua liberdade.
Em junho de 2013, o Estado Islâmico assumiu o controlo da cidade de Raqqa, a 87 quilômetros, e depois de meses a organização terrorista passou a fazer parte dos que extorquíam a empresa. O diretor local da LCS reconheceu que o nome do EI apareceu em alguns documentos.
Questionado sobreo valor pago por mês ao grupo terrorista, Pescheux respondeu que eram “cerca de 20 mil euros por mês”.
Taguspark
Ed. Tecnologia IV
Av. Prof. Dr. Cavaco Silva, 71
2740-257 Porto Salvo
online@medianove.com