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Hillary na Casa Branca com impacto de 0,7% no PIB português

As eleições norte-americanas em novembro vão ter consequências diretas na Europa, seja Hillary ou Trump a vencer nas urnas.
Carlos Barria/Reuters
25 Setembro 2016, 09h30

Donald Trump ou Hillary Clinton? Qual dos dois candidatos vencerá as Eleições de Novembro nos Estados Unidos da América e ser o sucessor de Barack Obama? A expectativa mantém-se e se à partida Hillary saía com vantagem, Trump tem crescido nas sondagens e para espanto de todos, poderá sair vencedor.

Apesar de Trump não receber o apoio da maioria dos Republicanos, vai conquistando adeptos em todos os Estados mesmo com as propostas radicais e extremistas que apregoa nos seus inflamados e polémicos discursos.

Hillary sendo a primeira mulher a concorrer à presidência dos EUA, conta com o apoio dos democratas, defende as linhas liberais e as promessas políticas seguem um caminho não muito afastado de Obama.

Mas qual o impacto que as eleições norte-americanas podem ter na Europa e consequentemente em Portugal, seja Trump ou Hillary a vencer nas urnas no próximo dia 08 de novembro?

Luís Nuno Rodrigues, Diretor do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL, especialista em História Americana revela que as eleições presidenciais nos EUA têm sempre um impacto significativo no sistema internacional. “Os EUA continuam a ser a maior potência do mundo. Apesar da ascensão da China e do atenuar da unipolaridade no sistema internacional”.

No caso particular das relações transatlânticas, isto é, entre os EUA e a Europa, existem duas áreas fundamentais às quais vale a pena acompanhar o debate presidencial norte-americano.

Uma delas diz respeito à defesa. No contexto da Guerra Fria, desde 1949, os EUA estabeleceram uma aliança militar com os principais países europeus, através da criação da NATO e da consolidação de uma presença militar permanente em solo europeu, através das bases militares norte-americanas, onde têm assumido a defesa da Europa. Só com a recessão de 2008 verificou-se uma redução do dispositivo norte-americano na Europa.

EUA e a UE representam metade do PIB mundial

A outra componente fundamental do relacionamento transatlântico é a económica e comercial. O responsável garante que “os EUA e a Europa são ainda os dois principais blocos económicos do mundo e as suas economias juntas representam cerca de metade do PIB mundial. Os países da União Europeia (UE), são o segundo maior destino das exportações norte-americanas e o segundo maior fornecedor de importações para os EUA”. Neste panorama adquiriram especial relevo, desde 2013, as negociações para a celebração de um tratado transatlântico de comércio livre, o TTIP – Transatlantic Trade and Investment Partnership (Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento).

Perante estas duas questões magnas para o futuro das relações entre os EUA e a UE, como se têm posicionado os dois candidatos? Luís Rodrigues, salienta que numa linha mais isolacionista, Trump ameaçou já com a redução da presença militar americana na Europa e na Ásia, caso os aliados não estejam dispostos a pagar um preço maior por essa mesma presença. “Indicou igualmente que, consigo na Casa Branca, os americanos apenas irão auxiliar as nações que cumpram as suas ‘obrigações’ para com os EUA. Hillary, pelo contrário, representa uma posição mais consentânea com a tradição internacionalista e multilateralista, tendo afirmado que a NATO é um dos melhores investimentos de sempre feito pelos EUA”.

Na dimensão económica da relação transatlântica, Trump manifestou-se contra a liberalização excessiva do comércio internacional e contra os dois grandes acordos que a administração Obama tem vindo a negociar: o TTIP e o seu equivalente para o Pacífico, o TPP. Já Hillary, começou por definir o TTIP como uma “NATO económica” para, hoje em dia, declarar a sua oposição a qualquer acordo que possa por em causa postos de trabalho nos EUA, fazendo eco, das posições assumidas por Bernie Sanders nas primárias.

Graça Didier, Secretária Geral da AmCham Portugal – Câmara do Comércio Americana em Portugal, refere também que, de facto a estratégia dos dois candidatos em matéria de propostas económicas tem sido diferente. Os democratas são a favor de maior abertura dos mercados entre os EUA e a Europa, enquanto os republicanos apresentam mais reservas relativamente ao TTIP.

Didier revela que “a Europa ganharia com a celebração do Acordo, resultando com isso com um crescimento económico. Em Portugal poderia ter um impacto de 0,7% no PIB”. Reconhece ainda que as reduções tarifárias originárias da implementação do TTIP seriam vantajosas para a Europa e para o nosso país, “como por exemplo, uma média de 3% nas taxas de exportações dos nossos produtos que neste momento variam entre os 20 e os 26%”.

A AmCham Portugal relembra que a uniformização das regulações, serviços e certificações abrangidas pelo TTIP seria benéfico para os dois lados. “Se forem os republicanos a ganharem as eleições será difícil implementar o Tratado, já que Trump tem feito na sua campanha uma batalha anti-acordo”.

Didier acrescenta ainda que nenhum cenário é linear, porque alguns países europeus caminham por vias mais extremistas e podem bloquear o TTIP.

Day After

Contudo, acredita que as propostas apresentadas pelos candidatos não significam que sejam concretizadas quer por um ou outro candidado: “Uma coisa é a campanha, outra é o Day After e posição no terreno político”.

Luís Rodrigues, corrobora a ideia, “os dois candidatos podem ainda alterar a sua posição, caso o considerem favorável em termos eleitorais”. Uma vez eleitos  adaptam as propostas políticas aos contextos e conjunturas políticas e económicas. A dois meses do acto eleitoral, a eleição de Trump poderia significar o reforço do retraímento estratégico dos EUA e da sua postura militar na Europa, bem como a adoção de políticas protecionistas no comércio internacional.

Hillary defende a continuidade da aliança entre os EUA e a Europa, embora, relativamente aos dois tratados de comércio internacional, tenha já manifestado algumas reservas. “Não esqueçamos ainda que, de acordo com o sistema político norte-americano, estas são matérias acerca das quais o futuro Congresso (com uma nova Câmara dos Representantes e 34 Senadores a eleger em novembro) terá uma palavra decisiva a dizer”, conclui o especialista.

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