O grupo português Unicer – que responde por marcas tão conhecidas como a cerveja Super Bock ou as águas Pedras Salgadas – não desiste de ter, um dia, uma operação industrial em Angola. Apesar de ser um projeto que se mantém em stand by há mais de dez anos e de até agora não ter sido possível convencer as autoridades locais a aceitarem a construção de uma fábrica de raiz, a Unicer não desiste.
Rui Lopes Ferreira, presidente da comissão executiva do grupo, disse ao Jornal Económico que “a Unicer mantém em Angola a empresa” que seria veículo do investimento, a Única (49% da Unicer e 51% de investidores locais). “Continuamos a querer ter produção naquele mercado”, garante.
Segundo a última avaliação, este investimento deveria ascender a 130 milhões de euros. O seu lançamento ocorreu na altura em que a Unicer era liderada por Manuel Ferreira de Oliveira – que acabaria por sair da empresa para liderar a Galp Energia. Substituído por António Pires de Lima, nem as aparentes boas relações com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, terão sido suficientes para fazer andar o projeto. Com João Abecassis, que antecedeu Lopes Ferreira, nada se moveu. Aparentemente, as dificuldades prendem-se com os acionistas locais, mas o facto de a empresária Isabel dos Santos – filha do Presidente da República angolana – ter um acordo recente com a concorrente Central de Cervejas para o mercado angolano não será, com certeza, motivo para a Unicer comemorar.
Por outro lado, equipamentos que podem ser deslocados para uma nova fábrica – nomeadamente os que estão sem uso na unidade de Santarém, agora desativada – continuam a fazer parte do imobilizado corpóreo e não estão à venda.
Mas as adversidades em Angola vão para além deste projeto: aquele mercado chegou a ser o segundo maior para a Unicer, logo a seguir ao português, mas a falta de divisas que surpreendeu os investidores estrangeiros há pouco mais de um ano atirou por terra a operação comercial. Pior, esta situação tem conseguido ‘manchar’ as contas do grupo: as exportações registaram em 2016 uma quebra de 24% – quebra essa que não existiria se o ‘efeito Angola’ fosse purgado das contas, situação que revelaria um aumento das vendas para o exterior da ordem dos 20%.
À procura de novos mercados
Neste quadro, o esforço da Unicer é, agora, segundo Lopes Ferreira, o de encontrar novos mercados. A China ocupou o segundo lugar deixado vago por Angola e é uma aposta clara dentro do portefólio de novas prioridades. África (que, sem Angola, cresceu 6% em 2016) e Ásia (com as vendas a triplicar no ano em análise) fazem também parte desse grupo. A Europa, onde o mercado cervejeiro está maduro de há vários anos a esta parte, cresceu apenas 1% no ano passado.
Já o mercado interno – onde um verão anormalmente quente e anormalmente longo patrocinou uma sede inesperada – cresceu 6% no ano passado. A Unicer registou, globalmente, em 2016, um volume de vendas de 451 milhões de euros (menos 1% que no ano anterior), um EBITDA (resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 86 milhões e resultados líquidos de 38 milhões – que não comparam com os 26,3 milhões do ano passado, altura em que as contas incorporaram os custos da reestruturação, mas que estão bem acima dos 33 milhões de 2014.
A Unicer prepara-se, entretanto, para comemorar os 90 anos da marca Super Bock, surgida em 1927 (o mesmo ano, por exemplo, em que nasceu a companhia aérea brasileira Varig, que já não existe). As comemorações – que não carecem de orçamento extraordinário – preveem a realização de uma série de festas, animação de rua e demais contingente de folia que está associada à bebida, e, ainda, o lançamento de uma cerveja cuja garrafa emita um desenho antigo, com a própria cerveja a usar uma receita com várias décadas.
Sob o lema “90 anos a fazer amigos”, é de registar que em 1927 foi produzido um milhão de litros de Super Bock, quantidade que, em 2016, atingiu os 309 milhões de litros (capazes de assegurar mais de 80% do volume de negócios do grupo).
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