As duas centrais sindicais portuguesas, a CGTP e a UGT, já tinham avisado que os protestos dos trabalhadores iam subir de tom e os últimos dados estatísticos refletem isso mesmo. Nos primeiros quatro meses do ano, os sindicatos entregaram no Ministério do Trabalho 190 pré-avisos de greve, mais 50 do que no mesmo período do ano passado, o que corresponde a um aumento de quase 36%.
A maior parte das greves realizadas entre janeiro e abril foram no setor privado, onde se verificaram 143 paralisações.
Os dados ainda não incluem duas das greves com maior dimensão, depois de abril: a paralisação nacional da função pública, a 26 de maio, e a paralisação dos professores, marcada para dia 21, próxima quarta-feira. Os magistrados também já admitiram avançar para uma greve. Fora das estatísticas também ficam outras formas de luta como manifestações – entre as quais a organizada pela CGTP, que teve lugar em Lisboa e no Porto, a 3 de junho, envolvendo milhares de pessoas de todo o país, sob o lema “valorizar o trabalho e os trabalhadores”.
Segundo os dados da Direção-geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT), os pré-avisos de greve subiram consecutivamente todos os meses entre janeiro e abril, mês em que se registou o maior número de paralisações, com um total de 67. Comparando com o mesmo mês de 2016, em que foram entregues 40 pré-avisos, houve um acréscimo de 68% no número de paralisações. Em abril ocorreram várias greves no período da Páscoa, como foi o caso das greves nos aeroportos, museus, monumentos ou nos transportes fluviais.
Ainda assim, a contestação ao Governo socialista está longe dos níveis registados no pico da crise económica, altura em que os trabalhadores ficaram a conhecer as medidas de austeridade que aí vinham. Entre elas, cortes salariais e nas horas extraordinárias, aumento do horário de trabalho para a função pública, algumas das quais foram entretanto revertidas. Os dados da DGERT mostram que em 2012 houve 1.895 pré-avisos de greve e, no ano seguinte, 1.534. Já em 2016, os pré-avisos as greves baixaram para o valor mais baixo de sempre, totalizando 488 paralisações.
No início deste ano, o namoro entre os sindicatos e o Governo suportado pelos partidos à esquerda começou a tremer. E com a elaboração do próximo Orçamento do Estado à porta, depois da saída do Procedimento por Défice Excessivo, as centrais sindicais exigem mais e prometem não dar tréguas ao Executivo nos próximos tempos, que terá ainda de responder às exigências do Bloco de Esquerda e do PCP no Parlamento.
A CGTP e a UGT exigem rapidez nas medidas prometidas pelos socialistas que tardam em chegar. É o caso do descongelamento das progressões na carreira na função pública – uma das reivindicações dos professores que levou à greve da próxima quarta-feira –, o combate à precariedade ou a revisão da legislação laboral. As centrais sindicais exigem ainda que o horário da função pública, de 35 horas semanais, seja alargado a todos os trabalhadores e que o corte nas horas extraordinárias seja revogado.
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