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Pedro Sánchez: de derrota em derrota até à chefia do governo

Não venceu as eleições de 2015, não conseguiu formar um governo com o Podemos nem com o Ciudadanos e perdeu as eleições de 2016. É o novo chefe do governo espanhol.
1 Junho 2018, 13h34

Pedro Sánchez, secretário-geral do PSOE, é o homem que acaba de encerrar o atual capítulo da passagem do Partido Popular pela órbita do poder em Espanha e de inaugurar o capítulo seguinte: o do regresso dos socialistas ao governo. Já não é a primeira vez que o tenta e isso é talvez o seu principal ‘handicap’: o fracasso da tentativa (nos primeiros meses de 2016) de organização de um executivo que conseguisse ser uma alternativa ao PP.

Tentou pela esquerda (com o Podemos), depois pela direita (com o Ciudadanos) e acabou no mesmo sítio que os outros todos: à espera da repetição das eleições de dezembro de 2015 em junho de 2016, depois de a Europa ter observado atónita que os políticos espanhóis – principalmente os dos partidos tradicionais, o PP e o PSOE – não sabiam o que haviam de fazer com essa nova realidade: a dos partidos emergentes, que em apenas duas eleições deram literalmente cabo do bipartidarismo espanhol.

Tão mal correram esses seis meses a Pedro Sánches, que o dirigente socialista optou pelo óbvio: bater com a porta. Desistiu de ser secretário-geral do PSOE no meio de um coro de críticas, segundo as quais não tinha percebido essa nova realidade que eram os partidos não-tradicionais – falta de perceção essa, queixavam-se os críticos, que tinha tido como consequência, aliás péssima, os esboroamento da ala mais esquerdista dos socialistas, que partiu de armas e bagagens para o seio do novel Podemos de Pablo Iglesias.

Mas o partido, por uma razão qualquer, acabou por voltar a escolhê-lo, o que o fez regressar com a aura de eficácia e de obstinação que acabaria por marcar a sua prestação no Parlamento.

Ainda ontem essa obstinação voltou a ser evidente quando usou o seu tempo no Parlamento para passar à frente: depois de versar o tema da moção de censura a um governo, o de Mariano Rajoy, que na sua ótica estava moribundo há muito tempo, preocupou-se em demonstrar o seu ‘estadismo’ e ir anunciando o que provavelmente vai ser mais esmiuçado como o programa do próximo governo.

Ficou assim a saber-se que o PSOE tem como principal preocupação a economia – onde ficou sugerido que os tempos (do PP) não têm corrido pelo melhor e que é preciso recentrar o país, nomeadamente no que tem a ver com a frente externa. Nada de novo, portanto (as exportações são o farol de todos os países europeus), mas com a nuance de que Espanha é ou continua a ser um poderoso concorrente no que diz respeito à captação de investimento direto estrangeiro.

Nesta vertente, ajudava que o novo governo engendrasse uma forma de acabar com os desacertos constantes entre Madrid e a Catalunha por causa das tentações independentistas desta última – mas a verdade é que Pedro Sánchez esteve sempre, neste caso particular e como em nenhum outro, perfeitamente alinhado com Mariano Rajoy, o que pode não ajudar na sua qualidade de chefe de governo.

Seja como for, Sánchez cumpre um sonho aos 46 anos de idade (nasceu em Madrid em 1972 e quase nunca faz anos: nasceu a 29 de fevereiro). Foi aí, em Madrid, que despertou para a política, só tendo chegado ao Parlamento em 2009: depois da desistência de Pedro Solbes como deputado (setembro), ocupou o seu lugar, o que o levou a desistir de vereador da capital do país.

Durante a sua primeira legislatura como deputado, foi porta-voz adjunto na Comissão de Política Territorial e membro das comissões de Assuntos Exteriores e de Assuntos Europeus. Por isso e por outras coisas, em 2010 foi ‘eleito’ deputado-revelação.

Apesar disso, nas eleições do ano seguinte voltou a ficar fora do Congresso. Aproveitou bem o hiato: consultor num consórcio europeu e professor universitário, concluiu em novembro de 2012 o doutoramento em Economia e Empresas pela Universidade Camilo José Cela, de Madrid.

Dois anos depois, os maus resultados do PSOE nas eleições europeias de 2014 resultaram no afastamento do secretário-geral à época, Alfredo Rubalcaba. O partido optou pela votação direta para o preenchimento do cargo de secretário-geral e em junho Pedro Sánchez anunciava a sua candidatura. Nas eleições (13 de julho), obteve 49 % dos votos, o que lhe permitiu ‘pulverizar’ os restantes candidatos. Chega agora a chefe do governo e tem praticamente tudo a provar.

E é muito, até porque o partido não se esquecerá de que, em 2015, e ao contrário do que vaticinavam alguns setores, não teve o engenho suficiente para retirar o PP da órbita do poder, numa altura em que o partido e o seu líder já davam mostras claras de algum cansaço.

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