Mudanças na política monetária e inversão das estratégias de compra de dívida estão a ameaçar a paz no mercado obrigacionista dos países desenvolvidos, que dura há três décadas. Enquanto os juros das dívidas benchmark da Alemanha e dos EUA sobem, Portugal continua a beneficiar de yields historicamente baixas.
A pesar nos mercados de dívida estão as perspetivas sobre as reduções dos estímulos monetários por parte do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco do Japão (BoJ), nas respetivas regiões, um processo já iniciado pela Reserva Federal norte-americana.
Simultaneamente, um novo relatório das autoridades chinesas, a que a agência Bloomberg teve acesso, indica que o país estará a ponderar diminuir a compra de obrigações dos EUA. A China é o maior detentor do mundo de reservas estrangeiras, com 3,1 biliões de dólares, e a notícia assustou os investidores.
“Não tenho a certeza que vamos continuar num bear market muito mais tempo”, afirmou o analista chefe da Danske, Allan von Mehren, à Bloomberg. “Se as yields subiram muito vai travar o momentum de crescimento, atrasar as subidas dos juros de referência pela Fed e prejudicar a performance do mercado acionista”.
Nos EUA, as yields das Treasuries a 10 anos sobem há cinco dias, tendo tocado máximos de 10 meses, próximo de 2,6%. Na Alemanha, as Bunds a 10 anos avançam um ponto base para 0,53%. Por outro lado, Portugal continua a beneficiar do reforço da confiança dos investidores, com os juros benchmark próximos de 1,8%.
Num dia em que a Alemanha, Itália e Portugal emitiram dívida benchmark, a portuguesa Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, o IGCP, colocou quatro mil milhões de euros em Obrigações do Tesouro (OT) a 10 anos, a uma taxa de 2,05%.
“Há poucos anos Portugal só conseguia emitir com taxas nos 4 ou 5. Atualmente, se olharmos para todas as últimas emissões já se vêem muitas emissões com taxas abaixo dos 3% ou mesmo 2%”, explicou o diretor da gestão de ativos do Banco Carregosa, Filipe Silva.
“São ótimas notícias para o país que consegue assim fazer o rollover da dívida, financiando-se a custos cada vez mais baixos. Só assim conseguiremos tornar a nossa dívida sustentável. Mas tão positivo como a taxa foi a forte procura: Portugal é dos países com um risco não muito elevado que paga melhor a quem nos empresta dinheiro. Daí a procura ter sido muito superior à oferta”, acrescentou.
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