Portugal tem massa crítica para criar filmes e séries com petitivos no mercado glo bal?
Portugal tem muitos profis sio nais competentes. Há um clus ter audiovisual em Lisboa (88% da produção), na maioria pe que nas empresas, mas ainda é uma proto indústria muito do més tica. A TV é o principal agen te económico do setor dos conteúdos. É preciso iniciar a era pós-novela e a era pós-ci nema de autor, com formatos e histórias posicionados para mer cados e audiências con cre tas, com alta qualidade técni ca, com o objetivo de recupe rar o investimento.
O que falta ao país para que se torne um player da indús tri a?
Olhar para fora. É preciso que uma nova ambição e auto con fiança permeie todo o setor, com esprit de corps e ca pa cida de de colaboração entre os stakeholders. Isto significa en tendimento sobre uma estraté gia nacional, que considere to do o tipo de produção acabada – séries, novelas, filmes, ani ma ção, documentários – ou tipo de serviços. Primeiro, é preciso avaliar as capacidades instaladas, técnicas e hu ma nas, identificar lacunas nas nos sas competências e os nossos critical drivers. Depois, avaliar quais os produtos que poderíamos desenvolver de forma com petitiva e os merca dos eventualmente mais ade quados. Finalmente, estabe le cer objetivos de médio e longo prazo. Precisamos de produ cers, a figura central da mon tagem dos projetos, do finan cia mento e da gestão profis sional da produção, e co pro du ções que fomentem redes socioprofissionais e a inter na cionalização do nosso talento. Faltam guiões originais com atri butos que os tornem inte res san tes noutros mercados.
Que estímulos são in dis pensá veis ao desenvolvimento do setor?
O principal estímulo deve partir de dentro do setor. Acarinhar a criatividade, a competência, a colaboração e a eficácia. Investir em experimentação para se descobrir o que pode eventualmente funcionar neste negócio cem por cento incerto. As empresas e profissionais de cinema e de TV têm de falar a uma só voz e fazer sentir aos poderes públicos o impacto económico do setor. Os contratos de produção devem estabelecer a partilha de copyrights entre produtores e exibidores. O Instituto de Cinema e Audiovisual deve adotar um novo modelo de seleção das obras a subsidiar, estabelecendo parcerias, exigindo e fazendo cumprir planos de negócio, estimulando a competitividade. O Governo deve lançar um regime de benefícios fiscais para promover o investimento nacional e estrangeiro na produção de obras acabadas e na utilização de profissionais, equipamentos e locais. A AICEP deve ajudar a encontrar e desenvolver oportunidades. A academia deve formar profissionais preparados para a internacionalização.
Que conceitos e valores pode exportar a produção portuguesa?
É preciso vencer um constrangimento europeu: pequenos mercados linguísticos, onde a distribuição é dominada por Holly wo od e os filmes de maior sucesso são comédias localizadas. A regra de ouro dos producers é a da familiaridade das audiências com a “trindade”: enredo/género, realizador e atores principais. Os valores são universais: amor, coragem… Os enredos se guem sempre as mesmas fórmulas (homem versus natureza, viagem ao desconhecido, vin gança). Uma ideia: um bom fil me sobre a vida de Cristiano Ro naldo (fórmula “from rags to riches”) seria um fantástico pontapé de saída para expandir e consolidar a indústria, desde logo na China.
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