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Fitch tira Portugal do nível de ‘lixo’ e sobe dois escalões no ‘rating’

Tal como esperado, a Fitch seguiu os passos da Standard and Poor’s e subiu o ‘rating’ da República para grau de investimento. Das quatro principais agências de notação, a Fitch passou assim a atribuir a melhor classificação, justificando a subida principalmente com a tendência de queda da dívida.
Reinhard Krause/Reuters
15 Dezembro 2017, 21h06

Seis anos depois de ter atirado o país para o nível de ‘lixo’, a Fitch mudou a avaliação sobre Portugal, devido à esperada queda da dívida pública. A decisão era esperada, mas a agência de notação financeira subiu o rating da República em dois escalões, para BBB com outlook estável, mais do que o antecipado, segundo um relatório publicado esta sexta-feira.

“A avaliação da Fitch é que a trajetória está num caminho firme de descida e o declínio no rácio da dívida pública vai continuar a médio prazo. As dinâmicas favoráveis da dívida são conduzidas por uma combinação de medidas estruturais anteriores, recuperação recente cíclica e melhorias substanciais nas condições de financiamento”, refere o documento.

A agência estima que o rácio da dívida caia 3 pontos percentuais este ano, para menos de 127% do PIB e sublinha que será “a primeira descida desde a crise da dívida soberana”.

A agência salientou que a economia portuguesa está a atravessar uma forte recuperação cíclica desde meados de 2016 e que a perspetiva de curto prazo melhorou. A Fitch reviu em alta a previsão do crescimento do PIB para 2,6% em 2017 e 1,9% em 2018, sublinhando que “o desempenho forte do mercado de trabalho confirma a pujança da retoma”.

As condições de financiamento do país tornaram-se, segundo a Fitch, favoráveis nos últimos meses e a gestão da dívida “está ativamente a tirar vantagem para assegurar condições benignas durante um período mais alargado”.

Em relação ao défice orçamental, a projeção da Fitch é que este permaneça inalterado em 1,4% do PIB em 2018, antes de descer ligeiramente para 1,2% em 2019. “Embora esta projeção de défice não cumpra de forma total o objetivo a médio prazo do pacto de estabilidade e crescimento, abre caminho para uma descida sólida da dívida pública a médio prazo pois o excedente primário deverá estabilizar perto de 2,5% do PIB”, explica.

A recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e do BCP, bem como a venda do Novo Banco, que eram apontados como fatores potencialmente de risco, “ajudaram a mitigar perdas contingentes e riscos à estabilidade financeira”, segundo a agência. Alertou, no entanto, que o rácio elevado de crédito malparado “continua a ser um risco e um constrangimento potencial para o crescimento de médio prazo”.

Além da dívida, a Fitch identifica como relevante também o quinto excedente consecutivo da conta corrente este ano. “Apesar de a dívida externa próxima de 90% continuar elevada comparativamente aos pares BBB, a alavancagem externa continua a progredir a um ritmo gradual”, acrescenta.

Depois da divulgação do relatório, o ministério das Finanças salienta que subida de rating em dois escalões é inédita. “A decisão da Fitch, que se junta às da Standard and Poor’s e DBRS, coloca a dívida soberana firmemente classificada em grau de investimento”, afirmou o ministério liderado por Mário Centeno.

“A avaliação positiva alarga a base de investidores na dívida da República Portuguesa e vai permitir a entrada da dívida em mais índices de dívida soberana. Mas além de favorecer as condições de financiamento da República, esta avaliação favorece também as condições de financiamento das famílias e das empresas portuguesas”, acrescentou.

Além da Fitch, também a Moody’s e a Standard and Poor’s atiraram Portugal para o nível de ‘lixo’ durante a crise. A canadiana DBRS foi a única das quatro principais agências a atribuir grau de investimento a Portugal.

Desde então, a saída do procedimento por défice excessivo, o crescimento económico impulsionado pelo momento favorável global e a estabilidade política justificaram maior otimismo. A primeira a fazer o upgrade e colocar a República em nível de investimento foi a S&P, em setembro, que fez recuar as taxas da dívida portuguesa nos mercados.

As yields da dívida soberana portuguesa no mercado secundário iniciaram o ano a subir, mas têm vindo a descer com o reforço da confiança dos investidores. A taxa das obrigações benchmark, ou seja a 10 anos, ultrapassou os 4% em janeiro, mas negocia agora abaixo de 1,8%, tendo tocado, esta sexta-feira, valores abaixo dos das yields italianas pela primeira vez em oito anos.

Depois desta decisão da Fitch, fica a faltar apenas a Moody’s, que manteve o rating em setembro e ainda não divulgou quando fará a revisão em 2018.

[Notícia atualizada às 21h52]

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