Até ao Natal a Caixa Económica Montepio Geral terá um novo acionista. Segundo soube o Jornal Económico a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa vai comprar 10% do Montepio por 200 milhões de euros à Associação Mutualista.
Isto traduz uma avaliação ao banco que foi feita pelo Haitong Bank, de 2.240 milhões de euros. O que significa que a Santa Casa paga por cada ação do banco liderado por José Félix Morgado 0,83 cêntimos por ação, abaixo do preço da Oferta Pública de Aquisição lançada este ano pela Associação Mutualista (1 euro). Portanto o banco vai ser vendido a desconto face ao valor que foi oferecido aos detentores de Unidades de Participação do Fundo de Participação da CEMG na OPA.
Mas a surpresa poderá vir de um aumento de capital. Segundo fonte próxima da operação, a Associação Mutualista conta injetar esse montante num aumento de capital do Montepio Geral, no mesmo montante, e ter-se-á comprometido com a Santa Casa nesse sentido.
Essa intenção foi aliás desvendada numa entrevista do Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Edmundo Martinho, ao jornal “Público”, quando lhe perguntaram em que termos se fará a entrada no banco Montepio a resposta foi “através da compra de ações e do aumento de capital. O limiar máximo do investimento não ultrapassará os 200 milhões de euros”.
Ao Jornal Económico, fonte ligada ao processo explica que haverá um aumento de capital subscrito pela Associação Mutualista e depois dessa operação a Santa Casa fica com 9,2%, portanto abaixo dos 10%. Mas quer ter mais do que um administrador no banco, e eventualmente, pelo menos um deles, como executivo. A estratégia da Santa Casa é poder influenciar a gestão do banco no sentido de o tornar um banco focado na economia social, que é de resto a estratégia já assumida publicamente por Tomás Correia, presidente da Associação Mutualista para o Montepio Geral.
O banco liderado por José Félix Morgado tem dito que não é preciso nenhum aumento de capital nos tempos mais próximos, depois de um de 300 milhões que se realizou em março do ano passado e de outro em junho no valor de 250 milhões de euros.
Recentemente a vice-governadora do Banco de Portugal disse que “a Caixa Económica tem vindo a dar uma série de passos, que são públicos, no sentido do robustecimento do seu negócio e da sua consolidação, refiro-me à transformação em sociedade anónima, refiro-me ao dois reforços de capital, refiro-me a uma progressiva separação entre interesse do acionista e interesses da instituição e a uma supervisão mais intrusiva por parte do regulador. Portanto cabe ao acionista fazer as propostas que achar convenientes”. Elisa Ferreira disse ainda que “obviamente que se pergunta ao supervisor se quer ter, num banco supervisionado por si, uma estrutura acionista mais robusta, se quer ter um capital reforçado, com um modelo de governo mais transparente e mais protetor dos interesses da instituição, o supervisor dirá sempre que sim”.
A verdade é que vem aí no próximo ano um “tsunami” regulatório para o setor financeiro e não há certezas de que alguns bancos não tenham de reforçar o rácio de capital. Nomeadamente a implementação da norma contabilística IFRS 9, a partir de janeiro de 2018, que se traduz na transição de um modelo de perdas incorridas para um modelo de perdas esperadas, esperando-se que conduza a um reconhecimento mais rápido das perdas por imparidade nos bancos A transição para o novo modelo terá assim impacto no capital dos bancos, em especial naqueles que utilizam o método padrão para cálculo dos requisitos mínimos de fundos próprios.
Até ao momento o banco Montepio Geral não está a preparar qualquer aumento de capital, soube o Jornal Económico junto de fonte próxima da instituição financeira. Pelo que esse projecto que envolve a entrada da Santa Casa está a ser feito à margem da gestão do banco.
Segundo as nossas fontes, mantém-se a possibilidade de, com a entrada da Santa Casa no capital do banco, haver uma mudança nos órgãos sociais, nomeadamente no âmbito da alteração de estatutos do banco e que levará à adopção do modelo de governo monista, com um Conselho de Administração eleito pelos acionistas e uma comissão executiva que emana desse Conselho de Administração.
Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.
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