[weglot_switcher]

Seis sinais que Yellen poderá dar aos mercados após a reunião da Fed

A presidente da Reserva Federal dos EUA centra as atenções esta quarta-feira, dia em que termina a reunião mensal do Federal Open Market Committee. O Jornal Económico produziu um guia para antecipar o discurso.
Charles Mostoller/Reuters
14 Março 2017, 18h25

A reunião mensal de política monetária da Reserva de Federal norte-americana termina esta quarta-feira, depois de dois dias de discussão dos 17 membros do Federal Open Market Committee (FOMC). A subida do federal funds rate (a taxa de juros indicadora) é dada como certa pelos analistas, mas há outros sinais que os mercados esperam que Janet Yellen emita (ou omita) no discurso que acontecerá às 18 horas de Lisboa.

Veja aqui os temas que vão marcar o discurso:

1. A (tão aguardada) subida da taxa de juro

Sobre este assunto não há discussão e os analistas são consensuais sobre a subida do federal funds rate dos atuais 0,75% já este mês. Numa poll realizada pela Reuters, mais de cem economistas concordaram que Yellen vai dar este passo e a maioria espera um aumento de 25 pontos base.

“Na semana passada, os responsáveis da Fed basicamente pré-anunciaram uma subida da taxa e disseram efetivamente que o assunto está fechado”, disse o analista de dados económicos norte-americanos da High Frequency Economics, Jim O’Sullivan.

Se as previsões se concretizarem esta será a primeira subida da taxa de juro deste ano e a terceira desde dezembro de 2015, depois de a Fed ter anunciado em dezembro que planeia três aumentos em 2017. Até essa reunião, a previsão para este ano era de duas subidas.

2. Oposição a Trump nas entrelinhas

As divergências políticas entre Janet Yellen e Donald Trump não são segredo para ninguém e desde a campanha presidencial que o clima é de tensão. Ao contrário do presidente dos EUA, que tem uma postura abertamente crítica, a presidente da Fed tem-se mantido longe de confrontos em praça pública.

É pouco provável que Yellen inverta a postura, mas os mercados estarão atentos não só ao conteúdo, mas também ao tom e potenciais alterações no discurso standard. Qualquer mudança poderá emitir sinais aos mercados, que esperam (e quase desesperam) por detalhes sobre o plano “fenomenal” de estímulo à economia prometido por Trump.

Yellen já sinalizou que uma política de impostos expansionista poderá levar a uma aceleração da inflação que comprometa os planos da Fed e poderá esta quarta-feira voltar a ser crítica em relação à administração Trump. Segundo o economista-chefe da Moody’s Analytics, Mark Zandi, uma combinação de impulsos orçamentais e política monetária acomodatícia poderá levar a uma inflação para perto dos 3% em dois anos.

3. Emprego e crescimento a pesarem nas decisões

“Com os números do mercado laboral bastante consistentes e os mercados financeiros com um tom positivo, [a Fed] está confiante e sente que o tempo é o correto”, disse o analista Jim O’Sullivan, da High Frequency Economics, depois da divulgação dos últimos dados do emprego nos EUA. Em fevereiro, o primeiro mês completo de Trump na Casa Branca, foram criados 235 mil postos de trabalho no setor público e privado, acima das estimativas, e os analistas interpretaram os dados como um sinal de que a Fed está pronta para uma maior intervenção na economia.

Yellen poderá ainda rever as projeções para o crescimento económico no país, que se situou nos 1,9% no último trimestre de 2016 e que se espera que acelere até aos 2,5% nos primeiros três meses deste ano. No último discurso, a presidente da Fed alertou já que a política monetária do banco central reflete a previsão de uma expansão económica “a um ritmo moderado nos próximos anos”.

4. Rumo “incerto” da inflação

A presidente da Fed está (e continuará) atenta à subida dos preços e afirmou em fevereiro que não é claro qual será a reação da inflação ao crescimento económico e à evolução do emprego. O antecessor de Yellen na liderança do banco central, Ben Bernanke, reitera a ideia de que a Fed vai agir de forma a não perder o controlo da inflação, que acelerou em janeiro para os 2,5%.

“[A Fed] vai alterar [as taxas de juro] o necessário para garantir que a inflação se mantém controlada, o que tudo indica que esteja”, disse Bernanke na semana passada num encontro com investidores, citado pela Bloomberg.

Apesar da postura confiante de Bernanke, Yellen tem sido alvo de crítica em relação à inflação. Enquanto o mandato da Fed é de uma meta de inflação próxima dos 2%, algumas vozes mais críticas acusam-na de estar a subir as taxas de juro a um ritmo demasiado lento.

5. Política acomodatícia em espera

Japão, Europa e Estados Unidos enfrentam a mesma questão: a dificuldade em retirar medidas de política monetária não-convencionais. Em fevereiro, Yellen avisou que esperar demais para remover a estratégia acomodatícia seria “imprudente”, podendo levar a Fed a ter de aumentar as taxas mais rapidamente, “o que arriscaria perturbar os mercados financeiros e empurrar a economia para uma recessão”.

Apesar disso, os analistas acreditam que o anúncio do fim do programa ainda não vai chegar este mês. “Esperamos que a Fed reitere a sua resolução de continuar a normalizar a política monetária”, disse Franck Dixmier, chefe de divída na Allianz Global Investors, num comentário. “Contudo, é ainda cedo para anunciar uma redução na dimensão do seu balanço, que agora atingiu os 4.5 biliões de dólares. Antes de fazê-lo, é provável que a Fed queira esperar pela normalização do processo”.

6. Futuro do dot plot e outros sinais aos mercados

Se há tema em que a administração e o banco central concordam é na necessidade de manter a estabilidade dos mercados. No entanto, para Yellen o novo presidente representa exatamente o contrário. A economista tem vindo a avisar que o magnata traz instabilidade aos mercados, especialmente devido aos planos de fomento económico que prevêem um aumento do investimento com infraestruturas e uma reforma fiscal, bem como as alterações à regulamentação do setor bancário.

Os mercados estarão atentos esta quarta-feira a qualquer sinal de alterações por parte da Fed, sendo que o mais importante será uma possível revisão do dot plot, ou mapa de pontos que mostra as previsões das taxas de juros feitas pelos 17 membros do FOMC. Ao contrário do que acontece para a taxa de juro, as opiniões dos analistas dividem-se quanto à previsão de subidas das taxas da Fed.

“Tendo em conta que os dados do emprego norte-americanos já praticamente garantiram a subida das taxas de juro, resta agora saber se o Comité FOMC da Fed atualizará novamente as suas previsões para o ritmo de aumentos em 2017 no famoso gráfico dot plot”, ressalvou a Ebury em comunicado.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.